O Tao de Tim Duncan

The GOAT
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3 min readJul 15, 2016
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Ele chegou em uma era dominada por um deus disfarçado de mortal, Michael Jordan, onde virtuosos, Hakeem Olajuwon, ou uma força da natureza, Shaquille O’Neal, dominavam o garrafão. Outros impressionavam com pura agressividade física — Allen Iverson, Vince Carter. Timothy Theodore Duncan era diferente. Com uma economia de esforço e movimentos ele se tornou um dos melhores da história.

Com uma pletora de fintas com os pés, giros, arremessos de tabela e um trabalho de pés que descrevem o pivô perfeitamente: efetivo em sua simplicidade. Duncan não servia para propagandas. Quieto, sério — a não ser dentro do vestiário, segundo colegas de equipe — ele só chama a atenção pelo o que fazia em quadra. Nunca além disso.

Duncan andou por um caminho diferente de todos. Quatro anos em Wake Forest seguidos por 19 anos com o San Antonio Spurs. Tirando um breve flerte com o Orlando Magic, ele nunca olhou para a grama do vizinho.

Juntos, Duncan, Gregg Popovich e os Spurs, eles se definiram mutuamente. O jeito quieto, colocando o trabalho acima de tudo, preferindo, até, os subúrbios da fama e não o centro das atenções eles evoluíram.

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“Quando nada parece ajudar, vou olhar um pedreiro martelar sua pedra, talvez uma centena de vezes sem uma rachadura aparecer. Ainda assim, na 101ª batida ela se dividirá em duas, e sei que não foi aquela batida que fez isso, mas todas antes”. A frase de Jacob Riis estampa o vestiário dos Spurs. Poucas coisas parecem ilustrar tanto Duncan. Metódico, quase repetitivo, como bater em uma pedra até vê-la rachando aos seus pés.

Duncan foi incansável na busca pela vitória, mas nunca deixou que isso tomasse conta de sua vida. Etan Thomas conta uma história que ilustra quem foi Tim Duncan, o jogador. “Eu girei pro meio do garrafão e fui para o meu gancho. Ele bloqueou. Na volta para a defesa, Duncan me disse ‘bom drible, só que você tem que entrar mais no meu corpo para conseguir a falta ou eu não bloquear’. Olhei para ele estranho, só disse ‘ok’. Um pouco depois, fiz a mesma coisa, só que entrei mais no corpo dele e el não bloqueou. Mesmo eu tendo errado o arremesso, ele disse ‘bem melhor’”.

Ele não parecia querer provar para os outros que conseguia. Ao contrários de outros craques, sua necessidade de vitória não parecia algo que beirava o patológico. Gracioso na derrota, Duncan não vivia e morria dentro de quadra.

A despedida de Duncan foi como esperado. Nada de festas, turnê de adeus, jogos para festejar. Duncan deixou uma carta no site dos Spurs e foi embora. O último de uma raça em extinção. O último Shogun. Caminhando em direção ao pôr-do-sol após ter cumprido o seu dever.

Obrigado, Timmy.

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