Onde nascem os heróis

The GOAT
thegoatbr
Published in
3 min readMay 3, 2015
clippers 2

Fontes de inspiração para a bravura de exércitos, povos e épocas, os heróis costumam ter suas trajetórias eternizadas por toda a história, desde canções, espalhando pela cultura oral suas lendas, até o registro em desenhos e escritas. Ser um herói muitas vezes passa pela construção de uma história com traços dramáticos, curvas baixas e de superação dos obstáculos que aparecem pelo seu caminho, rumo às glórias que justificam suas eternidades.

O norte-americano Joseph Campbell, em “O herói de mil faces”, livro escrito há mais de 65 anos, analisou profundamente as estruturas de mitos, lendas e fábulas. Identificou, como aspecto fundamental delas, que há sempre um herói, ao redor do qual as estórias se constroem. Esse indivíduo percorre uma trajetória, que vai desde o abandono de seu cotidiano monótono até a recompensa, a glória, a transformação completa em um herói.

O que Campbell provavelmente não imaginou é que em 2015, numa liga fundada três anos antes do lançamento de seu livro, a jornada do herói mais uma vez se repetiria. Ao final dos sete jogos entre Los Angeles Clippers e San Antonio Spurs, Chris Paul mostrou ser o personagem heroico que muitos negaram que fosse para a franquia.

Paul foi tirado de sua vida comum quando decidiu ser um jogador de basquetebol profissional. Sempre pareceu muito convicto de seus objetivos gloriosos, mas era verde e impotente demais para derrotar jogadores já estabelecidos na NBA durante os playoffs pelo New Orleans Hornets, no começo da carreira.

Temporadas depois, já considerado um astro da NBA, Chris Paul procurou um palco maior, com desafios maiores, que comportassem o tamanho de suas ambições. Acabou se transferindo para o Los Angeles Clippers, com uma torcida desesperada, à espera pela chegada de um candidato a herói como ele, que os conduzisse, se não ao título, a pequenas glórias e à relevância.

Anos de excelentes atuações foram aproximando Paul de seu objetivo. Mas sempre que exposto a provações maiores, CP3 não conseguia superá-las. Era como se a pressão, a necessidade do herói provar-se sempre fossem simplesmente demais para ele naquele momento. Talvez ele não fosse essa figura que todos diziam ser, pode ter pensado. Talvez fosse só mais um entre os vários que já haviam tentado alcançar a glória e pararam no meio do caminho, podem ter dito.

Tudo pareceu pior quando, com apenas seis minutos de partida, Chris Paul contundiu a coxa ao acertar uma bola de 3 no jogo 7 contra os Spurs. Saiu de jogo imediatamente, direto para os vestiários. Não era justo que isso acontecesse naquela hora. Não ali. Não diante do povo que lhe recebeu como redentor. Paul não cairia sem tentar a vitória até que sua coxa se dilacerasse em quadra. E assim ele seguiu na partida minutos depois. De bola de 3 em bola de 3, de assistência em assistência, liderando seu grupo rumo à completa transformação. Rumo ao último chute da partida contra os Spurs, sobre Tim Duncan, selando a vitória por 111 a 109 no jogo 7. Rumo a uma atuação de 27 pontos, 6 assistências e apenas um turnover mancando. Rumo à maior vitória que o Los Angeles Clippers já viu.

Os heróis não nascem como tais. Eles se tornam heróis a partir das trajetórias que constroem e das provações pelas quais passam. Se mostram heróis pela capacidade de se revigorar, reinventar, de se mostrarem incríveis de um modo que ninguém havia visto ainda, de se provarem imprevisíveis como esperamos que sejam.

Chris Paul ainda está a três séries de playoffs da maior consagração possível em sua carreira. Mas se existia alguma dúvida de que ele seria eternizado na história desse esporte, ela se encerrou na noite deste dois de maio. “Essa foi uma série que vai ser lembrada por muito tempo”, disse , com razão, Doc Rivers, técnico dos Clippers, após a vitória. O Los Angeles Clippers, a NBA, o basquete e a história nunca se esquecerão de Chris Paul.

Na próxima rodada, os Clippers enfrentam o Houston Rockets, que possui o mando de quadra.

--

--