Os caminhos do Triângulo

The GOAT
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10 min readSep 6, 2016
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Ah, o Triângulo. Aquele complicado sistema ofensivo que enlouquece os que se dizem especialistas em basquete. “Eu não entendo o Triângulo, mas ele é ruim e antiquado”, dizem alguns. “Só funciona com talento”, dizem outros. “Você precisa ter os jogadores certos para ele”, afirma outra turma.

O basquete atual é predicado em movimentação, tanto da bola como dos jogadores, e o Triângulo tem isso. Nos ensinamentos de Tex Winter, o Triângulo tem uma grande diferença de outros sistemas ofensivos. Em outros sistemas, você tenta forçar a defesa a fazer o que você quer, até encontrar um espaço. No Triângulo, a ideia é ler e reagir ao que a defesa apresenta. Quando feito corretamente, o Triângulo tende a ser imprevisível.

Ora, talento… cite um time que ganhou sem ter talento? Todo time campeão teve talento extraordinário em seu elenco. Os mais citados como “sem talento”, são o Detroit Pistons de 2004 e o Dallas Mavericks de 2011. E, depois de olhar o elenco dos Pistons e Mavs… bom, sem talento é o que não eram.

Como alguém que não entende algo e já classifica como algo ruim não merece mais tempo da nossa atenção, vamos ao próximo tópico: jogadores certos para o sistema.

Todo sistema ofensivo necessita de um certo tipo de jogador para que funcione. Alguns, como o SSOL de Mike D’Antoni, são mais engessados em suas necessidades. O Triângulo não. Tex Winter idealizou um sistema que cabe em diferentes elencos. Como o Chicago Bulls do início dos anos 90 e final dos anos 90, Los Angeles Lakers de Shaquille O’Neal e os Lakers de Kobe Bryant e o atual New York Knicks mostram, se você tem jogadores que conseguem ler a defesa e reagir de maneira rápida, existem diferentes maneiras de usar o talento que está em quadra.

Antes de mais nada, o básico

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O Triângulo busca manter o espaço entre os jogadores ofensivos para que a defesa tenha o máximo de distância para cobrir entre uma rotação e outra. Como a bola se move mais rápido que o jogador, mantendo algo entre 4m e 6m de distância entre os atletas, fará com que a defesa acabe por dar espaços.

Não importa quantos passes, cortes um time faça, a base sempre será essa. Três jogadores no lado forte, dois no lado fraco.

Chicago Bulls, 1991 — Jordan no perímetro

No início dos anos 90, Phil Jackson e Winter gostavam de usar Michael Jordan longe da bola. A ideia era que Jordan recebesse a bola em movimento, tentando decidir rápido, evitando, assim, que defesas adversárias tivessem tempo de reagir.

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Quando a bola chegava em Horace Grant, BJ Armstrong (aqui em cima) corria para o corta-luz em MJ. Ao mesmo tempo, Scottie Pippen (lá embaixo) livrava a zona morta.

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MJ usava o corta-luz para atacar a cesta, mesmo sem a bola. Quando recebesse o passe, teria oportunidade de arremessar de onde recebeu, infiltrar ou seguir movimentando o ataque.

Chicago Bulls, 1991 — Jordan no pivô

Mesmo que menos do que após sua primeira aposentadoria, Jackson começou, aos poucos, a usar Jordan no post up. Era uma maneira de usar a força, altura, agilidade, visão de quadra e inteligencia de Jordan ao favor do time.

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Mais uma vez, Jordan começava do lado fraco do triângulo. Enquanto isso, o armador dos Bulls (BJ ou John Paxson) levava a bola para a zona morta do lado forte.

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Assim que o armador chega ao seu lugar, Grant parte para o corta-luz no outro pivô, Jordan dessa vez, e Bill Cartwright, o veterano pivô no perímetro, atravessa a quadra. Grant, Cartwright e Pippen formam o Triângulo no lado fraco da quadra.

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Do lado forte, o arremesso de 3 pontos de Armstrong é ameaça suficiente para que a defesa não possa prestar atenção apenas em Jordan. Pelas regras de defesa ilegal da época, caso o marcador de Armstrong resolvesse dobrar em Jordan, poderia não ter tempo de retornar ao temido arremessador.

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Sem demora, BJ tem espaço para encontrar Jordan no post up.

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Uma vez com a bola, Jordan tem espaço para agir. Pippen e Grant, do lado fraco, e BJ, do lado forte, buscam deixar a defesa atenta em seus movimentos. A palavra-chave do jogo é espaço.

Chicago Bulls, 1998 — Jordan no “segundo contra-ataque”

Quando o contra-ataque falha, mas a defesa ainda não se arrumou e o jogo ainda está em transição, de certa maneira, temos o “segundo contra-ataque”. Com Pippen já funcionando basicamente como o armador de ofício do time, os Bulls usavam o longo ala para iniciar o jogo.

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Dessa vez, as coisas mudam um pouco. Jordan, Toni Kukoc e Ron Harper tentam dar espaço para que Pippen e Dennis Rodman usem a quadra com mais eficiência.

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O primeiro movimento é simples. Rodman tenta fazer o corta-luz para que Pippen ataque a cesta. Se funcionar, Pip faz para o aro, esperando a reação da defesa com três competentes arremessadores do lado fraco como opções.

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Caso dê errado, Scottie retorna para o perímetro enquanto Kukoc vai para o lado forte da quadra, formando o Triângulo novamente.

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Rodman, por sua vez, parte para o pick em MJ. O camisa 23 toma o lugar que era do ala-pivô no Triângulo do lado forte.

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Pippen tem Jordan como opção em um local no qual o Melhor de Todos os Tempos é garantia de sucesso.

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Com a bola, Jordan tem Pippen e Kukoc deixando a defesa honesta da linha de 3 pontos e Harper cortando para a cesta. São três excelentes opções. Além, claro, de MJ mesmo finalizar.

Los Angeles Lakers, 2001 — Shaq no post up

Com o luxo de ter Robert Horry ou Horace Grant, os Lakers de Shaquille O’Neal mudou um pouco a formação do Triângulo. No lado fraco, Shaq ficava mais perto do garrafão do que de costume. Por isso, Kobe subia para o pinch post no lado forte. Horry, ou Grant, ficavam mais no meio da quadra, já que sabiam a hora certa de cortar para o aro.

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O que Horry trouxe ao Triângulo era essencial. Ele era perigoso de 3 pontos, mas tinha sabedoria e capacidade ofensiva para atacar o aro com ou sem a bola. Com um pivô que passava a bola como Shaq, Horry abriu o jogo para seu time.

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Assim que Shaq recebia a bola, lá ia Horry, como uma locomotiva, para cima do aro. Não tinha como a defesa não reagir.

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Rick Fox e Kobe apareciam como opção de fora e Horry seguia sendo uma ameaça, dependendo de onde a dobra viria. E, se o time adversário resolvesse não dobrar a defesa em Shaq, bom… BBQ CHICKEN!

Los Angeles Lakers, 2001 — ShawShaq Redemption

Essa é quase exclusiva dos Lakers, talvez — muito TALVEZ — os Knicks consigam repetir com Carmelo Anthony. O ShawShaq Redemption dos tempos de Orlando Magic se adaptou ao Triângulo.

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Dessa vez, Fox começa no meio, Horry no post up, Kobe na zona morta do lado fraco e Shaq no pinch post. A razão do Triângulo ficar um pouco torto é para dar mais ângulo ao passe de Brian Shaw.

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Horry faz um corta-luz para Shaq e sai como isca para a defesa.

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O pivô adversário tem duas opções: ou deixa Shaq chegar no post up e receber a bola, virando… BBQ CHICKEN!, ou coloca toda sua força, tentando impedir o caminho de Shaq. Bem o que Shaw e Shaq queriam.

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Sentindo todo o peso do pivô tentando parar seu progresso, Shaq para no lugar, gira rapidamente e vai receber o passe no aro. BOOM!

Los Angeles Lakers, 2010 — deixem Kobe trabalhar

Muito do que os Lakers de 2010 faziam lembravam os Bulls de 98. Com jogadores de estilo parecidos, Phil e Tex repetiram muito das táticas. A grande diferença é que os treinadores resolveram usar a rebeldia e vontade de quebrar o Triângulo de Kobe. De certa maneira, domaram o ala-armador sem acabar com sua agressividade.

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Tudo começa com Ron ArtestMetta World Peace tentando passar para Pau Gasol no post. A defesa pode impedir o passe, o que inicia a opção no pinch post do lado fraco com Lamar Odom.

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Após Fisher receber a bola, MWP e Gasol fazem o pick duplo para Kobe, que esperava na zona morta. Fisher entrega para Odom.

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Odom pode atacar do pinch post ou passar para Kobe. Se escolher Bryant, corre atrás da bola para fazer o corta-luz no ala-armador. MWP abra para a zona morta e.. OLHA O QUE TEMOS NA PRÓXIMA FOTO, de novo.

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O Triângulo do lado fraco e Kobe com bastante quadra para trabalhar no um contra um.

New York Knicks, 2016 — o quê os Knicks podem fazer com Melo, KP, Rose e Noah

Finalmente chegamos nos dias de hoje. Em um mundo pós-apocalíptico, onde o chute de 3 pontos virou a regra, um time de homens desvalorizados pela história lutam para manter o belo Triângulo vivo e salvar o basquetebol. Apesar de não serem ideais uns com os outros, os Knicks podem usar Carmelo Anthony, Kristaps Porzingis, Derrick Rose, Joakim Noah e Courtney Lee no sistema de Tex. Aqui algumas opções.

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Todas opções começam do mesmo jeito. KP, Noah e Lee formam o Triângulo do lado forte, Rose e Melo ficam do lado fraco.

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Em uma movimentação simples, Melo sobe para o pinch post, onde tem um dos melhores jogos da NBA e espera a bola de KP. Com sua altura, deve ser um passe fácil para o jovem ala-pivô.

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Quando Melo recebe a bola, Rose corta para a cesta na ação do porco cego. Se Melo não passar para Rose, tem KP de 3 como opção ou pode atacar o pinch post.

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Melo ainda pode fazer o corta-luz para Rose, aparecendo como opção no perímetro, caso marcado por um jogador mais pesado, e Rose no post.

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Noah pode fazer o pick-n-roll com KP, Melo, Rose e Lee são opções.

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Porzingis ainda pode passar para Rose.

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Daqui, Rose pode atacar o aro, pode passar para Melo, pode esperar Noah, Lee ou KP cortando para a cesta.

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Ou partir para o pnr com Porzingis.

O Knicks já teve opções parecidas, mas…

… fica mais difícil com pouca qualidade em quadra.

São apenas algumas das opções do Triângulo. Ainda tem muito mais. Seria bom alguém que jura que é ruim, apesar de não entender nada, dar uma lida. Espero ajudar.

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