Título no Pan coroa melhor momento da seleção com Magnano

The GOAT
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5 min readJul 26, 2015
brasil podio

O Brasil jogou um basquete de nível não visto há muito tempo nos Jogos Pan-Americanos de Toronto. Não, os atletas da NBA não foram convocados. Sim, o Pan-Americano é uma competição quase marginal no que se refere ao torneio de basquete, com times B, C e até D (o que foi a convocação da seleção dos Estados Unidos, afinal?). Ainda assim, a seleção comandada pelo argentino Ruben Magnano demonstrou conceitos modernos de basquete, com um nível de execução dificilmente visto na equipe nos últimos anos, que levaram à conquista do ouro diante do Canadá na final.

Muito por conta do material humano que teve à disposição, Magnano armou um time baseado na movimentação ofensiva, com muitos passes e poucas retenções de bola. A mobilidade de seus homens de garrafão, além da capacidade de chutarem de média e longa distância, aliou-se à dificuldade dos homens de perímetro em criar arremessos do nada para formar um ataque cheio de screens, pick-and-rolls altos e bem espaçado. Até mesmo o pivô JP Batista, que não tem tanta mobilidade, foi envolvido pelo ataque como uma boa arma no post-up, lendo bem a movimentação sem bola do ataque.

Na defesa, as dobras abusaram da versatilidade dos homens de garrafão e da capacidade defensiva de Augusto Lima. Muito ágil, o pivô brasileiro consegue pressionar os adversários no perímetro, acompanhar pick and rolls e proteger o aro com muito vigor físico. Fora isso, a pressão alta dos armadores dificultava a vida dos armadores adversários desde o começo das posses. Sem medo de usar os 11 jogadores convocados, Magnano pode exigir mais esforço físico de cada um de seus jogadores.

Para ilustrar a análise, trarei imagens e momentos da vitória do Brasil sobre Porto Rico, na estreia na competição, a melhor exibição da seleção no torneio. No triunfo por 92 a 59, os brasileiros mostraram, mais do que uma noite feliz nos arremessos, um ataque dinâmico, moderno e extremamente eficiente.

Foi até difícil captar todo o movimento desse ataque no mesmo vine, mas percebam como o Brasil troca passes de um lado para o outro da quadra, com quase nenhum drible e a posse resulta em um arremesso limpo de Benite. A bola, no caso, não caiu, mas foi esse tipo de oportunidade que o ataque gerou. Muito dessa movimentação só acontece porque praticamente todos os jogadores são uma ameaça para pontuar da posição que ocupam no ataque de meia-quadra. Rafael Hettsheimeir, por exemplo, pode anotar pontos tanto dentro do garrafão, como no post, em média distância, mas também tem um importante arsenal da linha de três pontos. Na posse abaixo, ele inicia o ataque com uma screen alta e se posiciona na zona morta, para matar o arremesso de três depois de uma dobra da defesa em Larry Taylor no lado oposto.

O ataque de movimentos do Brasil foi beneficiado por pivôs que conseguem ler bem o jogo e trabalhar com reações às atitudes tomadas pela defesa. Quando o entrosamento e a confiança num sistema ofensivo chega a esse nível, as posses ofensivas ficam muito mais fluidas. Quase naturalmente, Olivinha percebe o corte de Marcus Toledo e aproveita a atitude errada da defesa para criar mais um arremesso livre.

Na defesa, o Brasil se preparou para enfrentar dois armadores veteranos com um perigoso potencial ofensivo: JJ Barea e Elias Ayuso. Para não dar espaço para esses jogadores, a seleção aplicou uma marcação pressão no perímetro, muitas vezes começando já na quadra de defesa portorriquenha. Sem medo de trocar a marcação, o Brasil abusou das dobras para “encaixotar” os armadores de Porto Rico próximos à linha lateral de quadra.

É emblemático como Augusto Lima ajuda na marcação no perímetro para dificultar a vida de Ayuso, que é obrigado a passar a bola com dificuldades. Na sequência do lance, JJ Barea busca a infiltração mas não consegue ter uma chance de arremesso porque o mesmo Lima se move lateralmente rápido o suficiente para inibí-lo. O ataque resulta em um arremesso de média distância no estou do cronômetro que, contestado, não cai.

Diminuindo as chances de conversão de arremesso do adversário e provocando um maior número de ataques equivocados, os brasileiros tiveram mais oportunidades de partir em disparada nos contra-ataques. À exceção de JP Batista, todos os jogadores da área pintada brasileira podem correr pela quadra sem a bola e ocupar a faixa central do tablado nos contra-ataques.

Futuro próximo e Rio 2016

hettsheimeir

Embalada pelo ouro no Pan-Americano, a seleção brasileira tem um compromisso no próximo mês de setembro: o Pré-Olímpico do México, organizado pela FIBA. O Brasil, em tese, tem a vaga nas Olimpíadas garantida por ser paíse sede, mas precisa acertar a dívida pela vaga na Copa do Mundo de 2014 para assegurar a participação. Aconteça isso ou não, o Brasil terá no Pré-Olímpico, pelo menos, um torneio preparatório para o desafio das Olimpíadas do Rio em 2016.

Espera-se uma seleção bem mais carregada em relação à que disputou os jogos em Toronto. Ainda não se sabe com que atletas da NBA e da Europa o técnico Ruben Magnano poderá contar ou não na competição, mas a seleção pode ter a disposição: Lucas Bebê, Nenê, Tiago Splitter, Anderson Varejão, Cristiano Felício, Bruno Caboclo, Leandro Barbosa, Raulzinho, Marcelinho Huertas e Scott Machado, além de atletas como Marquinhos e Alex Garcia, que jogam no Brasil e têm o carinho do técnico Magnano.

Se o desejo do argentino for manter esse padrão de jogo para atuar mesmo com as estrelas da NBA, buscando um sistema para 2016, alguns ajustes precisarão ser pensados. Splitter, principalmente, e Varejão não devem ter tanta dificuldade em atuar num ataque de movimentações, já que são bons passadores. Também é o caso de Nenê, mas ele tende a ser um jogador que centraliza mais as posses e precisará mudar um pouco mais seu estilo de jogo.

Outro que pode ter dificuldades é o armador Marcelinho Huertas, que gosta de ser um general em quadra, armando cada ataque com boa leitura em pick and rolls e controlando a bola durante muito tempo. Para esse sistema de mais movimentação, passe e menos concentração desse estilo, ele pode ser sacado do time titular. As preocupações com Leandrinho, que lança mão de jogadas individuais na seleção, são menores, já que ele se adaptou bem a sistema semelhante com o Golden State Warriors.

Pouco mais de um mês separa o pódio do Pan do tapinha inicial no México, e essas são questões que Magnano terá trabalho, mas prazer para resolver. Após injustas críticas de muita gente, o argentino não deixa dúvidas de que é o homem certo para o cargo que ocupa.

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