Episódio 2 — Comportamento Emergente

Pedro Portela
The HiveMind
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2 min readMar 24, 2018

(artigo originalmente publicado na edição online da Revista Smart-Cities)

O comportamento emergente é um fenómeno característico de sistemas adaptativos complexos. É um tipo de comportamento global mas que resulta da interacção individual de centenas, milhares ou milhões de indivíduos, sem coordenação central.

O mundo animal está repleto de exemplos de comportamentos emergentes. Vejam este exemplo de um bando de pássaros criando padrões no ar sem comando ou controlo central. Não existe nenhuma ave chefe ou nenhum “controlo de trafego aéreo” que possa ser responsabilizado pelos padrões criados. No entanto, centenas de indivíduos voam a grande velocidade evitando colisões e criando padrões que, vistos de fora, parecem ser coordenados. Outros exemplos do mundo animal encontram-se nas abelhas, nos cardumes de peixes, nas formigas.

Este tipo de fenómeno observa-se também em sistemas criados pelo Homem, como por exemplo no mercado bolsista.

O comportamento emergente em sistemas sociais (tais como os das Cidades) é um dos mais fascinantes tópicos de investigação dos tempos modernos pois, no meu entender, é neste tipo de fenómenos que reside uma das soluções para os problemas mais complexos do Século XXI. De acordo com a mudança de paradigma da qual falei no primeiro episódio, as cidades inteligentes do Século XXI serão aquelas que, percebendo e integrando na gestão estratégica, a sua natureza complexa, criarão condições para o comportamento emergente positivo. A diferença para a actual forma de pensamento é subtil e reside nas perguntas que os responsáveis públicos se colocam.

A mais importante, por ser a mais mobilizadora e aquela que mais significado tem para o ser humano é o “Porquê?”. A partir do “Porquê”, isto é, de um propósito para a Cidade claro, construído e partilhado pelos cidadãos, o papel dos gestores da cidades inteligentes do Século XXI passa a ser o de criar os elementos necessários do ecosistema, a fomentação e conservação das redes de relações de interdependência entre eles (a terminologia anglo-saxónica é “stewardship”). Mais do que impor comportamentos, trata-se de criar condições para que estes apareçam colectivamente e espontaneamente, apoiar e alavancar as pequenas iniciativas que contribuem para o Propósito da cidade, criar mecanismos de feedback e instituições independentes que promovam o diálogo e a participação cidadã.

Os tempos da gestão centralizada terminaram e o paradigma dos sistemas complexos oferece inovadoras perspectivas sobre como gerir sistemas sociais complexos (Cidades) de forma distribuída tornando-os consequentemente mais resilientes.

Este é um processo que requer tempo, paciência mas sobretudo transparência, confiança e o virar do foco novamente para as relações humanas, pois são estas as que realmente produzem impacto.

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Pedro Portela
The HiveMind

System’s Thinking my way through a Complex life.