Jogatina do Mês #002

Ragusa, Pipeline, Cryptid e Reykholt

Anderson Butilheiro
The Meeple Kingdom
5 min readSep 2, 2019

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Nesta segunda edição voltamos a falar de forma mais curta e objetiva de 4 jogos que passaram pela nossa mesa recentemente. Gostou do “modelo”, comente, ajude a divulgar e deixe um “like” (que aqui no Medium são esses aplausos aí do lado).

RAGUSA

Ragusa é um euro leve pra médio do mesmo designer do Calimala, uma das sensações de 2017 (Fábio Lopiano, o nome da fera). Com o mesmo feeling de gatilho das ações, sinto que no Ragusa ele teve um melhor aproveitamento da ideia do que no seu jogo anterior. Explico: cada jogador tem um número delimitado de ações, geralmente 10, e ao longo do jogo ele deve escolher onde colocar sua casinha e ativar aquele espaço, coletando recursos ou usando para realizar as ações. Aqui ele pode construir o muro da cidade, torres, negociar bens de luxo no porto, ou fazer outras ações que deem pontos diretamente. Acontece que, assim como no Calimala, quando outro jogador ativa o mesmo espaço de ação, os jogadores anteriores que já foram naqueles espaço são reativados, podendo fazer a ação novamente. Assim, suas 10 ações viram facilmente 20, 30, se você se posicionar bem pra praticamente ser ativado todo turno. Assim, se cria uma máquina de pontos bastante eficiente. E essa característica do jogo é sua principal qualidade, mantendo um jogo simples, mas com uma profundidade bem bacana. Ideia pra quem gosta de jogos com bastante interação indireta, muitas decisões, mas ao mesmo tempo leve e rápido.

PIPELINE

Melhor jogo de 2019 até o momento, Pipeline é um euro econômico pesadinho com um puzzle no meio, interessante e desafiador. Com um misto de Vital Lacerda e Martin Wallace, o jogo te coloca na gestão de uma companhia de petróleo, controlando as operações da empresa para gerir sua produção, refinar o óleo e conseguir os melhores contratos. O brilho do jogo está no conjunto de tubulações (as "pipelines" do título) que você deve formar na sua área de jogo para criar uma rede que possa ser ativada e refinar o óleo, sendo que cada cor de tubo serve pra um tipo de óleo. Ao ativar sua tubulação, o óleo percorrer o número de tiles ligados e é refinado por cada etapa que conseguir cumprir. O ideal é sempre conseguir fazer com mais de uma cor, mas nem sempre é possível. Existem contratos pra cumprir, máquinas pra melhorar sua produção, objetivos públicos e cartas que melhoraram suas ações, nas o andamento do jogo é sempre regido pelo tabuleiro central em que existem apenas 4 áreas com uma ação principal e outra secundária (muito similar ao The Gallerist e aqui fica a comparação com Lacerda). A quantidade de coisas que dá pra fazer com essas 4 ações é assustadora e o jogo tem uma profundidade incrível (aqui a comparação à elegância dos jogos do Wallace). Candidato ao jogo do ano, sem dúvida alguma.

CRYPTID

Não sei bem se Cryptid é um euro, um jogo festivo, ou o quê. O importante é que ele é um jogo divertido e família e isso faz sucesso por aqui. Com premissa de um jogo de dedução, a la Tobago, cada jogador recebe uma dica no começo da partida e deve tentar descobrir a dica dos outros para encontrar o local onde está escondido o criptídeo da vez (pra quem não sabe, criptídeos são animais cuja existência não é confirmada e geralmente existe um mito sobre ele, como o monstro do lago Ness, o pé-grande, yeti, etc). A maneira de se fazer isso é buscando evidências no tabuleiro fazendo perguntas sobre locais específicos aos adversários (algo como “fulano, pode ser aqui?”), pra tentar tirar dele alguma informação. Só que as respostas são sempre sim ou não, o que pode te levar à uma dedução acertada ou errada, caso suspeite de algo que não é verdade. Os adversários não podem mentir, mas suas perguntas podem não te levar à lugar nenhum. O tabuleiro modular e as dicas variadas permitem ao jogo uma enorme rejogabilidade, uma vez que sempre será diferente a configuração do jogo. Vence quem conseguir desvendar o local exato do criptídeo, sabendo ou não todas as dicas. Um jogo rápido, com bastante interação e muito divertido. Vale dizer que ele tem dependência de idioma, mas que a versão nacional parece estar a caminho.

REYKHOLT

Pra quem geralmente não gosta dos jogos do Uwe Rosenberg por causa da parte sofrida/punitiva dos jogos (como ter que alimentar toda rodada sua família pra ela não morrer de fome matando sua única ovelha que é um animal querido da família que dorme no seu quarto), Reykholt é o jogo que vai tirar sua má impressão do autor. Com tema e mecânicas totalmente diferente dos últimos jogos do autor (não tem nem tetris e nem ovelhas, mas tem fazenda) o jogo foca num conceito de alocar seus trabalhadores num tabuleiro central comum e fixo onde você pode criar vegetais, expandir seu negócio e, finalmente, servir grandes banquetes para turistas veganos — piada minha. O jogo é uma corridinha pra quem serve mais rápido os banquetes e chega mais longe na pontuação, mas com esquema de entrega muito bem elaborado que te permite todo final de rodada cumprir os requisitos de uma mesa (ou mais de um se conseguir). A sacada aqui é que você pode pular uma das mesas sempre e construir uma estratégia que te permita sempre suprir uma necessidade mais à frente. Muito boa sacada, um jogo bem gostoso e levinho.

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Confira os textos anteriores da série:
- Jogatina do Mês #001 — Cartographers, Raccoon Tycoon, Tiny Towns e Jonathan Strange & Mr. Norrel

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