Os principais jogos da primeira metade de 2019

Em ano recheado de anúncios para o segundo semestre, jogos se destacam para brigar por melhores do ano

Anderson Butilheiro
The Meeple Kingdom
9 min readJul 31, 2019

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É muito difícil que o primeiro semestre de um ano seja recheado de lançamentos. Mais difícil ainda é que esses lançamentos não sejam soterrados pela avalanche que acontece à partir dos 4 principais eventos do ano: Origins Game Fair, UK Games Expo, Gen Con e SPIEL, todos entre junho e outubro.

Muitos, no entanto, são jogos oriundos de financiamentos coletivos, que acontecem ao longo do ano e geralmente tem seus lançamentos muito dependentes de atrasos de produção e logística e podem acabar chegando nesse período, mesmo se planejados para o fim do ano anterior. Mas se há uma coisa que tem se tornado cada vez mais frequente é que editoras tem buscado fugir da competição lançando alguns poucos jogos nos primeiros 6 meses do ano.

WINGSPAN

Na dianteira das editoras que fogem como podem dos grandes eventos está a Stonemaier Games. Se antes isso acontecia justamente pelo motivo citado no começo — jogos financiados pelo Kickstarter — agora a editora tem realmente como opção ter um calendário de lançamentos que abranja todo o ano e, por consequência, muita coisa chega logo no comecinho, como é o caso de Wingspan, lançado em janeiro. O jogo praticamente abriu o calendário de lançamentos de jogos no mundo.

E não á toa o jogo dominou as vendas da primeira metade do ano, esgotando rapidamente nos principais países. Praticamente não havia competição de jogos recentes e isso impulsionou bastante o hype do jogo. Wingspan se tornou um sucesso tão contundente que abriu portas para a designer com reportagens em diversos jornais e com futuros lançamentos já acertados com outras editoras. O jogo já tem, inclusive, uma expansão confirmada para ainda este ano, contemplando mais espécies de pássaros.

Vale lembrar que o jogo inclusive já disputa o Spiel des Jahres, na categoria de jogos para jogadores experientes, o que não é tão comum para jogos lançados tão pouco tempo antes da premiação ser anunciada.

TINY TOWNS

Não faz muito tempo que a AEG publicou um excelente texto comentando sobre sua nova abordagem no mercado, lançando menos jogos e sendo mais criteriosa na hora de escolher o que lançar. E o primeiro lançamento dessa nova fase da editora de 27 anos foi justamente Tiny Towns, que chegou às lojas em abril desse ano.

E mais do que um bom lançamento, o jogo teve ótima recepção da crítica e do público, já alçado ao top 20 de jogos abstratos no BoardGameGeek. A grande vantagem do jogo, talvez, seja sua maravilhosa produção, com arte e componentes lindíssimos. Mas o jogo em si também tem boas ideias, com um puzzle pra lá de inteligente, digno de outros bons abstratos recentes.

LORD OF THE RINGS: JOURNEYS IN MIDDLE EARTH

Sem dúvida alguma um dos lançamentos mais aguardados de 2019, Lord Of The Rings: Journeys In Middle Earth (que no Brasil chegou como O Senhor dos Anéis: Jornadas na Terra Média) teve recepção bastante dividida com boa parte do público sendo cativado pelo tema e pelas semelhanças mecânicas com outros jogos da Fantasy Flight Games. Outra parte do público não sentiu que o jogo fez jus à mitologia tolkieniana e que há certos problemas na resolução das aventuras — apesar da total retirada dos dados, que foram substituídos por um deck de cartas.

Independente das discussões, o jogo já conquistou seu lugar e desponta como um dos candidatos à jogo temático do ano. Muito se deve, claro, ao fato do jogo ir mirar em cheio no coração dos fãs de J.R.R Tolkien, mesmo se tratando de uma história paralela criada especificamente para o jogo (ou seja, que não existe de fato dentro do cânone de O Senhor dos Anéis). Mas não há dúvidas de que a FFG sabe o que faz quando aborda grandes franquias e o jogo não foge disso, tendo boas mecânicas, uma história de fundo interessante e um excelente aplicativo que se torna agora referência de como utilizar o acessório em jogos de tabuleiro.

STAR WARS: OUTER RIM

Outra prova de que a Fantasy Flight não brinca em serviço quando se trata das maiores propriedades intelectuais de todos os tempos, Star Wars: Outer Rim também trás pra mesa uma história paralela baseada na respectiva franquia. Assim como com Jornadas, Outer Rim foca em aventuras que não estão no cânone de Star Wars e busca criar uma nova história para os jogadores que jogam completamente distantes da disputa entre Império e Rebeldes.

O foco do jogo é nos mercenários, personagens que tem pouco impacto no enredo da série em si, mas vivem na borda da galáxia, buscando lucrar com qualquer um que esteja disposto a pagar. Os jogadores então buscam fama e riqueza num universo que pode ter pouco contato com o tema central de Star Wars, mas que indiscutivelmente usa o nome como trampolim.

RES ARCANA

Do mesmo criador de Race for the Galaxy, Res Arcana traz uma nova ideia de jogo de combos em que os jogadores começam o jogo com 8 cartas apenas e não ganham cartas novas ao longo do jogo. Todas as decisões dependem de como os jogadores irão utilizar suas 8 cartas e que tipo de combos deseja, criar. O brilhante Tom Lehmann mais uma vez inova no mecanismo mantendo sua simplicidade. O jogo ainda ganha mais pontos pela maravilhosa arte de ninguém menos que Vincent Dutrait, um dos mais requisitados artistas do cenário atual dos board games.

O tema é bastante inusitado, apesar de que o universo de fantasia sempre permeia o mundo dos jogos de tabuleiro. Aqui, os jogadores são magos/alquimistas buscando poder através da transmutação de elementos e de conquistar determinados conhecimentos ocultos. A dinâmica passa muito por coletar recursos e os transformar em outra coisa, seja outros elementos, seja em habilidades ou até mesmo em pontos de vitória.

MUSEUM

Financiado através do Kickstarter com mais de 250 mil dólares arrecadados e com um enorme atraso nas entregas (previstas para agosto de 2018 e que só terminaram por volta de abril de 2019), Museum chegou com uma ótima recepção da crítica. Além da arte linda do incrível Vicent Dutrait, o jogo tem uma produção primorosa em que o único senão é a qualidade das cartas que ficou abaixo do esperado pelos apoiadores.

No jogo em si, os jogadores devem assumir o papel de curadores de prestigiados museus, pesquisando artefatos de diversas civilizações e escolhendo, com cautela, a maneira como colocá-los em exposição. As cartas tem diferentes artes e textos explicativos, dando uma ótima profundidade histórica e cultural ao jogo. Porém, o jogo parece ser mais raso do que se imaginava, sendo indicado mesmo como um gateway.

A jogabilidade, no entanto, mistura bons elementos com um pouco de gestão de mão e set collection, um esquema de pontuação desafiador (e um pouco complexo, vale dizer). Mas o jogo já chegou com diversas expansões que tem adicionado camadas ao jogo e dando rejogabilidade. Vale ficar de olho principalmente na World’s Fair e na Black Market.

ESCAPE PLAN

O mais recente lançamento de um dos mais aclamados designers da atualidade, Escape Plan coloca os jogadores no papel de criminosos em fuga. Após um assaltado que dá errado, os jogadores precisam verificar diversos pontos da cidade em busca de parte de suas riquezas antes de serem pegos pela polícia. Um tema muito incomum e que caiu como uma luva pras mecânicas do português Vital Lacerda.

Lançado pela Eagle-Gryphon Games depois de uma campanha de financiamento coletivo que arrecadou mais 600 mil dólares, o jogo reedita, mais uma vez, a parceria do designer com o ilustrador Ian O’Toole. Por sinal, talvez essa seja a arte mais “diferente” de O’Toole até então, com uma pegada bem menos clássica e bem mais colorida do que o artista costuma ter.

BATMAN: GOTHAM CITY CHRONICLES

Se não um dos jogos mais esperados do ano, ao menos Batman: Gotham City Chronicles é pelo menos um dos mais bem sucedidos no Kickstarter. A campanha original levantou mais de 4 milhões de dólares e foi seguida por uma segunda campanha, esse ano, que arrecadou mais 1,3 milhão. Além de bastante aguardado por se tratar de um jogo do Batman com belíssimas miniaturas, Gotham City Chronicles tem como principal trunfo outro jogo lançado recentemente.

Baseado no jogo Conan, também da Monolith, o jogo reaproveita as mecânicas do antecessor e coloca os jogadores na pele de outros personagens de quadrinhos, dessa vez no universo do Homem-Morcego. Aqui, os jogadores jogam como Batman, Robin (alguns deles), Batgirl, Asa Noturna e etc, contra uma série de bandidos famosos da HQ, controlados por um overlord (um jogador contra todos os demais). Como Conan já havia sido um sucesso, era de se esperar que Batman: Gotham City Chronicles não iria decepcionar.

RACCOON TYCOON

Nos últimos anos temos visto certa carência de jogos com poucas regras e bastante profundidade. Raccoon Tycoon parece querer resgatar isso com um jogo bastante simples em termos de mecânicas (a explicação não leva mais do que 10 minutos), mas com enorme rejogabilidade e uma experiência que pode realmente ser prazerosa, a despeito disto.

Muito próximo do feeling de um Power Grid, por exemplo, o jogo mistura mecânicas de stock market, leilão, set collection e tem um pouco de engine building. Bem pouco. O foco do jogo é criar uma combinação de cartas que pontue bastante no final, mas no decorrer dele o importante mesmo é produzir mercadorias, vender e fazer dinheiro para, aí sim, participar dos leilões dessas cartas.

Se tema é uma coisa de menor valor pra você, realmente o jogo não apresenta um tema muito presente e isso não deve incomodá-lo, mas é fato que a arte e visual do jogo dão um toque à mais. Toda a produção é realmente caprichada e a versão retail não deve em nada para aquela financiada pelo Kickstarter (que, devemos notar, fez mais de 250 mil dólares nas campanhas do jogo base e expansão).

JONATHAN STRANGE & MR NORRELL: A BOARD GAME OF ENGLISH MAGIC

Talvez você nunca tenha ouvido falar desse jogo. Talvez até mesmo nunca tenha ouvido falar do livro, ou desses personagens. Mas Jonathan Strange e Mr. Norrell é uma obras de bastante sucesso recente (o livro é de 2004) que virou inclusive série da britânica BBC e retrata a vida de dois mágicos na Londres do século 19. Nesse universo, a magia era uma coisa real que foi largamente utilizada, mas que ficou esquecida por vários anos até ser “redescoberta” pelos personagens principais.

O jogo, apesar de ser bastante desconhecido, traz o tema do livro ao universo dos tabuleiros com uma arte primorosa de Ian O’Toole (uma das mais bonitas do autor que tenho conhecimento) e uma excelente produção da Osprey Games (mesma editora da nova edição do London, assim como de Cryptid e Wildlands). Nele, os jogadores jogam como alguns dos personagens e devem realizar encontros com personalidades e executar algumas apresentações de mágicas pela Europa e Londres para ganhar pontos de vitória e desafiar a associação que mantém a mágica escondida da sociedade. Apesar de o jogo ser competitivo, há esse clima de jogo semi-cooperativo pois há um inimigo em comum.

O que achou da lista? Há algum jogo que você incluiria aqui? E quais desses você acha que vai conseguir se manter na cabeça dos jogadores após os lançamentos do segundo semestre? Deixe seus comentários.

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