Review — Museum

Reviva a Era de Ouro dos museus nesse euro de criação de coleções

Anderson Butilheiro
The Meeple Kingdom
7 min readDec 18, 2019

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O mundo dos jogos de tabuleiro está cercado de temas interessantes e inovadores, muitos deles não usuais. Mas também há aqueles casos de temas que volta e meia reaparecem por se encaixarem muito bem em determinadas mecânicas e estilo de jogo. É o caso de Museum, jogo que foi muito bem financiado via campanha no Kickstarter e que chegou esse ano com ótima crítica.

Arte incrível que dá uma cor única à mesa.

O jogo é assinado pela dupla Eric Dubus e Oliver Melison, que até então era estreante no mundo dos jogos de tabuleiro, mas que já emendaram outra campanha de financiamento coletivo para o jogo Dominations — que também irá sair pela Holy Grail Games, mesma editora do Museum.

O tema é simples: cada jogador é curador de um grande museu e deve buscar os melhores objetos para sua coleção, tornando-a atrativa para os visitantes. Ao longo do jogo, os jogadores vão percorrer os diferentes continentes atrás das cartas de objetos e devem não só administrar bem suas salas como também sua mão. As cartas pontuam por si só, mas também pela coleção da qual fazem parte, que pode ser por sua civilização de origem, mas também pelo seu tipo de domínio — que no jogo se refere à que categoria pertence o objeto pode ser militar, navegação, cultura, entre outros.

Tabuleiro central onde buscamos as obras de arte.

As civilizações estão muito bem representadas no jogo, sendo 12 ao todo, 3 de cada “porção” do globo. Você irá encontrar vasos chineses, embarcações gregas, edifícios maias, diversas peças de religiões ocidentais e orientais, dos mais diversos tipos, todos com ilustrações únicas em suas mais de 300 cartas com a arte magnífica de Vincent Dutrait. Eu, que já sou muito fã do artista, devo dizer que aqui ele apresenta seu melhor trabalho até então, não só pela representação incrível e fiel dos objetos e estruturas, mas também pelas cores e detalhes de tudo, que combina perfeitamente bem com o tema e visual do jogo.

O desenrolar do jogo se dá de forma muito simples: a cada turno o jogador da vez deverá comprar uma carta das dispostas na mesa, em um dos 4 “continentes” (entre aspas porque existem algumas mesclas de territórios como África e Oriente Médio ou América e Pacífico). Nesse momento, todos os demais jogadores poderão também comprar uma carta, fora da sua vez, mas para isso devem permitir ao jogador da vez ganhar 1 ponto de prestígio. Pegar cartas fora da sua vez é extremamente importante, como veremos a seguir.

Coleções de dois diferentes museus.

Num segundo momento, então, o jogador pode descer cartas em seu museu pagando o custo por ela. As cartas variam de valor 1 a 5, sendo que o seu custo é o mesmo do que o jogador irá receber de pontuação pela carta. Para pagar pela carta, ele pode descartar de sua mão uma ou mais cartas que atinjam o valor da carta baixada (ou combinar de qualquer forma o valor da carta com pontos de prestígio que voltam para a mesa). Assim, administrar as cartas que estão em sua mão para poder pagar pelo custo de outra carta é de suma importância.

As coleções formadas ao final do jogo, seja pela civilização ou pela categoria.

A carta que vai para seu museu pode ser encaixada em qualquer espaço válido, inclusive você terá a opção no final do jogo de rearranjar as cartas para melhor pontuar, uma vez que há diversas pontuações de final de jogo. Assim, o importante é saber se você está indo pelo caminho certo e quais cartas precisa para compor suas coleções. As cartas de maior valor, as de 5, além de darem 5 pontos ao serem jogadas, ainda garante 1 ponto de prestígio, por serem cartas raras e de objetos bastante atrativos para o museu.

Uma coisa muito interessante do jogo é que seu descarte é pessoal, mas é aberto para todos na mesa. Ou seja, quando descarta uma carta para comprar outra, você mantém a sua carta, podendo eventualmente trazer as cartas de volta para sua mão (como um “passar a vez”) ou ainda comprar a carta do seu próprio descarte para o seu museu (pagando normalmente o custo da carta). Há ainda a opção de comprar a carta do descarte de outro jogador, pagando o custo em cartas para o descarte do jogador dono da carta e ainda pagando um ponto de prestígio do seu museu para ele. Isso cria uma dinâmica interessante pois é necessário observar o jogo dos demais para saber qual carta sua poderá despertar interesse nos adversários — tanto para tentar bloquear quanto para tentar ganhar os pontos de prestígio.

Aspecto final do jogo na mesa é de tirar o fôlego.

Ao final do turno do jogador as cartas compradas na mesa serão repostas do baralho de cada continente e, nesse momento, existe a chance de uma carta de “opinião pública” ser comprada. Essa cartas tem um efeito negativo no final do jogo porque a população percebe que há muitas obras desse continente sendo trazidas para os museus, mas não necessariamente elas estão sendo expostas. Assim, cada marcador de opinião pública colocado no continente irá pontuar negativamente por cartas daquele continente que estiverem nos descartes dos jogadores. Isso força os jogadores a planejar sua exposição para não perder pontos ao final.

Além das cartas de objetos, os jogadores tem acesso à outros dois tipos de cartas: favores e especialistas. Os favores são ganhos a cada vez que o jogador pontua múltiplos de 10 na trilha de pontos e permitem ao jogador realizar uma ação especial. Cada carta de favor tem uma descrição específica do que pode fazer. Já os especialistas ajudam os jogadores a completar coleções ou ganhar uma habilidade fixa ao longo do jogo.

Mais um museu com sua coleção.

O final do jogo é disparado quando o primeiro jogador chegar aos 50 pontos. Então, cada outro jogador poderá realizar uma última ação. Então, somam-se os pontos das coleções e das cartas de patronos — que cada jogador recebe aleatoriamente no início da partida e serve como um objetivo pessoal — além do próprio museu em si, que pontua por suas galerias. Existe, em cada museu, uma galeria principal (que fica destacada com uma cor diferente no tabuleiro do jogador e que pode estar em local diferente, dependendo do museu escolhido) que deverá ser preenchida com cartas de uma mesma coleção para pontuar. O museu também dá pontos extras se for inteiramente preenchido, assim como uma pontuação maior se os dois objetivos forem cumpridos.

As coleções pontuam se as cartas forem colocadas adjacentes e num mínimo de 3 cartas do mesmo tipo. Assim, o jogador poderá usar uma carta para pontuar tanto pela sua civilização quanto pelo seu domínio, caso coloque a carta num local específico e planejado. As civilizações pontuam bastante se houverem várias cartas, mas pouco se forem poucos objetos no museu. Por sua vez, os domínios pontuam de forma razoável, mas são mais difíceis — cada carta da coleção deve ser de uma civilização diferente para pontuar. Assim, o jogo exige um bom planejamento para que as pontuações das coleções valham à pena. As cartas de patronos, por sua vez, irão interferir nesse planejamento pois podem pontuar por grupos de diferentes tipos, ou com foco numa determinada civilização e etc. Saber lidar com todas essas variáveis é o segredo do jogo.

Expansão The Archeologists.

Além do jogo base, Museum já oferecia diversas expansões na sua campanha de financiamento coletivo, o que garantia ao jogo uma enorme rejogabilidade. À princípio eu acreditava que as expansões seriam mais do mesmo, incluindo apenas cartas de civilizações novas e etc, mas estava enganado. Cada expansão acrescenta uma mecânica nova ao jogo e o deixa bastante interessante à medida em que acrescenta profundidade à um jogo simples.

Expansão The World’s Fair.

The Archeologists e The World’s Fair, por exemplo, adicionam tabuleiros novos em que os jogadores irão interagir, inclusive causando disputas por pontuações. The People’s Choice inclui cartas novas de vários tipos assim como um objetivo aberto que todos podem competir, com um requisito mínimo, mas que aquele que o fizer melhor leva os pontos. Ainda havia a expansão The Black Market que acabei não pegando — assim como The Cthulhu Relics, pelo qual tenho zero interesse. O jogo agora voltou ao Kickstarter para uma nova campanha e uma versão Deluxe que promete ter espaço para todas as expansões na mesma caixa, além de uma expansão nova: The Historians.

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