Review — The Taverns of Tiefenthal

Jogo do designer vencedor de diversos prêmios no ano passado chega para elevar o autor ao status dos grandes

Anderson Butilheiro
The Meeple Kingdom
7 min readJan 20, 2020

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The Quacks of Quedlinburg, The Mind, Subtext, Fuji, That’s Pretty Clever, Illusion, Brikks. Talvez você tenha ouvido falar de alguns desses jogos no último ano. Sim, no singular. São todos jogos lançados entre 2018 e 2019, mais ou menos entre julho do ano passado à julho desse ano. Isso mostra o quão importante o designer alemão Wolfgang Warsch se tornou em tão pouco tempo, numa indústria repleta de medalhões, de designer consolidados, mas que dificilmente lançam tantos jogos em tão pouco tempo. Wolfgang conseguiu não só a proeza de colocar vários dos seus jogos no mercado num período tão curto de tempo, mas também se destacar com bons jogos. The Mind levou 8 prêmios, entre eles o de jogo do ano do As D’Or. Quacks foi o Kennerspiel des Jahres de 2018, superando uma pesada concorrência. Isso já credenciava o autor à coisas grandes, mostrando que tinha faro para os grandes jogos. Mas a cereja do bolo ainda estava por vir.

Lançado sob muita expectativa, The Taverns of Tiefenthal saiu primeiro em alemão pela Schmidt Spiele, mesma editora da maioria dos outros jogos do autor, focada em jogo familiares em sua maioria. Porém Taverns se distancia de todos os jogos mais simples do autor, dando uma pegada de euro game que os demais não tem (com exceção de The Quacks of Quedlinburg). Assim, o jogo se credencial a ser o principal jogo do autor até o momento, mas não só por ser um jogo mais estratégico, mas também pelos elementos que o designer usou aqui.

BEM-VINDO AO VALE PROFUNDO

As tavernas do Vale Profundo são conhecidas pela sua receptividade e atraem diversos visitantes de todos os cantos, de todos os tipos. Dos clientes regulares à aqueles que visitam com frequência menor e até mesmo os nobres, que vêm sempre que a taverna passa por alguma reforma. Cada jogador precisa gerenciar sua taverna para ser aquele que tem a maior reputação, com os melhores visitantes. Isso se dá de duas formas: escolhendo os melhores dados que te permitem ativar as diversas ações no seu tabuleiro pessoal e gerenciando sua mão de cartas, que vai crescendo ao longo do jogo. Este é The Taverns of Tiefenthal.

Em cada rodada os jogadores irão comprar de um baralho particular de cartas o suficiente para ocupar suas 3 mesas iniciais. Nisso, pode ser que você consiga mais ou menos cartas, dependendo da ordem em que as cartas saem na sua mão. Além das cartas de visitantes, que ocupam as mesas, o jogador pode ter cartas de staff, funcionários que te dão algum bônus enquanto estiverem na sua taverna. Alguns deles te permitem ter um dado extra, outro te garante uma bebida para servir seus clientes e etc.

Depois de comprar as cartas, os jogadores irão rolar seus 4 dados brancos que vão pra um pool na sua frente, de onde ele irá comprar um dado por vez. Acontece que o pool não é permanente, ou seja, a cada turno você irá comprar de um pool diferente, tendo que observar o que está disponível para você e para os demais jogadores. Após de selecionar o primeiro dado, os dados restantes irão para o jogador à sua esquerda e você recebe os do jogador à sua direita. Assim, todos escolhem seus dados até fecharem os 4 dados brancos que terão para usar nesta rodada. Além disso, se o jogador tiver direito à um dado extra por alguma carta ou melhoria, também rola o dado extra e junta com os dados comprados. Então, cada jogador irá, no seu turno, resolver a ação de todos os seus dados, alocando no seu próprio tabuleiro pessoal que é sua taverna.

Uma coisa bastante interessante no jogo é que ele lida com apenas dois recursos: dinheiro e bebidas. No entanto, esses dois recursos são apenas virtuais e só existem durante a rodada que você está jogando, precisando ser utilizados ou serão perdidos ao final da jogada. O dinheiro é conseguido alocando os dados nas cartas de clientes, que variam entre 1 e 5 moedas, cada uma exigindo um valor de dado distinto. Também é possível obter dinheiro através de seu caixa, onde você poderá utilizar um dado de qualquer valor, mas só irá receber 1 moeda. Já as bebidas são conseguidas através da ação de produção, que também pode receber qualquer dado, mas produz apenas uma unidade, ou na ação de compra do distribuidor, que só pode ser ativada com os dados 1 e 6, mas que pode ganhar um multiplicador interessante com a carta certa. Depois de realizar todas as ações, é possível armazenar apenas uma quantidade limitadíssima de dinheiro e bebidas para a rodada seguinte (2 para ambos, armazenados em locais específicos do tabuleiro).

O dinheiro ganho será usado para contratar novos funcionários — cartas que ficam disponíveis na mesa para todos os jogadores e que irão diretamente para o seu deck de cartas, formando parte do seu jogo nas próximas rodadas. Aqui entra o deck building, uma das minhas mecânicas favoritas e que, no Taverns, funciona de forma fantástica em conjunto com o draft de dados. Esse novos funcionários vão te ajudar a ter melhores jogadas nas rodadas futuras com o acréscimo de ações como o dado extra (garçonete), um bônus de +1 em um dos seus dados (lavadora de pratos), uma cerveja a mais na rodada (entregador), ou mesas extras. Você precisa escolher com cautela sua carta pois ela irá diretamente para o seu baralho e provavelmente será comprada na próxima rodada.

Outra forma de montar seu deck é usando a cerveja, que será usada para atrair clientes. Quanto melhor o cliente, mais você precisará gastar em bebidas. Todas essas cartas compradas vão direto para o seu baralho atual, não para o descarte, o que te dá um controle muito maior do jogo, pelo menos nas rodadas seguintes.

Também é possível usar o dinheiro para fazer melhorias na sua taverna, mudando partes do próprio tabuleiro, girando para o lado oposto uma peça que se encaixa na taverna. As melhorias permitem que você tenha, por exemplo, um dado extra fixo, mais espaço para guardar dinheiro e bebidas de uma rodada para outra, ações que produzem mais moedas e mais cervejas e ainda mesas extras, o que irá te permitir ter mais visitantes — e, por consequência, te dará a vantagem de comprar mais cartas na próxima rodada. Cada melhoria também irá atrair para a sua taverna um nobre, uma carta que não é exatamente uma ação muito boa, mas que te garante uma boa pontuação no final do jogo.

Ao final de 8 rodadas, os jogadores irão juntar todas as suas cartas e somar suas pontuações. Cartas de funcionários dão entre 1 e 2 pontos, clientes novos dão entre 1 e 5 e os nobres pontuam 10 pontos cada. O jogador com mais pontos será o vencedor. Assim, de forma bem simples. Isso é algo que achei sensacional no jogo, pois mantém uma simplicidade enorme na contagem de pontos, fugindo de qualquer complicação de contar pontos de lugares X e Y, ou fazendo uma salada em que milhares de coisas contam. O foco do jogo então é todo nas cartas, em comprar as melhores, atrair os nobres, conseguir ter espaço para juntar mais dinheiro e cerveja para que seu deck valha cada vez mais pontos.

O feeling do jogo é muito gostoso e a sensação de crescimento é constante, ao mesmo tempo em que há o desafio de conseguir mais ações, de conseguir comprar mais cartas na rodada, de fazer uma jogada melhor. E o jogo consegue isso sem ser complicado demais, sem tornar a compra de dados uma decisão demorada, sem fazer com que o deck building seja sofrido. A simplicidade de ter apenas 2 recursos aliado à beleza do tabuleiro que é todo modular e que pode ser aprimorado ao longo do jogo dá à Taverns uma profundidade muito incomum em jogos com esse perfil de jogo leve/médio (que, recentemente, só encontrei no também excelente Crowns of Emara).

Warsch, sem dúvida alguma, nos apresentou aqui aquela que é, até o momento, sua obra prima. Seu jogo mais interessante, mais redondo, mais gostoso de jogar e desafiador. Além de um jogo com uma enorme rejogabilidade por termos junto, na caixa, base, 5 módulos que poderiam ser facilmente uma expansão, mas que nos foram dadas de presente para deixar o jogo ainda mais gostoso. Em cada uma delas, um novo desafio é somado ao jogo base, sendo que para adicionar a próxima, é necessário incluir a anterior. Assim, para jogar com o módulo 5, os jogadores também irão utilizar os módulos 1 a 4, dando mais vida ao jogo com novas ideias, novos funcionários, mais coisas na sua taverna para controlar e ainda mais elementos interessante.

The Taverns of Tiefenthal tem tudo para pintar entre os principais títulos do ano, além de ter o perfil de jogo que a galera do Spiel des Jahres gosta de premiar.

** Excepcionalmente, todas as fotos deste review foram retiradas do site BoardGameGeek.

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