Indagações de um Cristão

Deive Leal
Theos and Poetry
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3 min readApr 19, 2021

Desde criança fui criado dentro do catolicismo. Minha mãe é uma católica de coração. Das que rezam todas as noites e conversam com Deus. Meu pai teve em sua fé o apoio que os médicos não mais podiam dar, assim viveu muitos anos com sérios problemas pulmonares, até o dia em que expirou pela última vez. Eu segui esse mesmo caminho, e como tal também realizo minhas orações em inúmeros momentos do dia. Porém não consigo ser o católico que eles eram. Há algo em mim que não se encaixa nesse perfil religioso. Não consigo ignorar as outras religiões e outras formas de viver o dia a dia e achar que a minha é a correta.

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Não consigo pensar em um Cristo que não viva pelo amor. Fui ensinado a observar os movimentos do Jesus como atos de amor e como tal não consigo separar e achar que outra coisa pode ser aceita. Olhar alguém que se entende como Cristão aceitar que a morte do outro está tudo bem se ele não observa os mesmos mandamentos que você, há algo diametralmente oposto à mensagem trazida pelo Nazareno.

Talvez seja uma limitação da minha capacidade cognitiva, que não consegue se distanciar o suficiente para observar o retrato como um todo, mas um Cristo que perdoa os seus assassinos não pode ser à favor da morte do outro por não olhar na mesma direção.

Nas minhas leituras do evangelho não encontro nada que não possa ser balizado pelo amor de Cristo. Nem mesmo quando expulsou a chicotadas comerciantes do templo, vejo a ira que normalmente associamos. Observo o zelo pelo lugar onde a comunidade está presente e onde então a presença divina se faz real. O templo tomado pelos comerciantes é a transformação do sagrado em profano e, por consequência, o distanciamento da presença divina e a ressignificação em espaço de humanidade, onde não mais o divino se fará sentir.

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Cristo me ensina o amor e a tratar o diferente da mesma maneira que eu gostaria de ser tratado. Não é possível associar o amor de Jesus a qualquer tipo de julgamento e afastar o acolhimento. Na verdade, pouco me interessa a divindade de Cristo, o que me seduz a ele e faz com que eu, e aposto que tantos outros, o entendamos como mestre, é que ele ensina um amor diário, vívido e que é o fiel da balança quando olhamos para o outro.

Não é possível olhar para Cristo e aceitar qualquer outra postura do cristão que não seja balizada pelo amor. Podem haver inúmeros evangélicos, católicos, ou qualquer outra linha religiosa que se identifica com Jesus, mas não é Cristão aquele que trata o outro e aceita que tratem o outro que não seja pela ação do amor. Que se orienta tanto pelo antigo testamento e esquece os ensinamentos trazidos pelo Cristo. Que não seja pelo amor em ação.

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Deive Leal
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Data Engineer, Social Scientist and poetry in free time.