Quem é (ou não) o líder?

Thiago Barradas
thiagobarradas
Published in
5 min readApr 4, 2020
Quem é o líder?

Liderar não é uma tarefa fácil. Podemos afirmar que liderar pessoas é centenas de vezes mais complexo do que desenvolver softwares.

Quando começamos a liderar um time, criamos um monte de expectativas e crenças de como deveríamos agir ou o que deveríamos representar. Muitas vezes nos aventuramos nesse mundo sem treinamento e preparo para tal tarefa e tudo ocorre de maneira orgânica. E começamos a buscar referências, o que os outros líderes são, como eles dizem que deveríamos ser e esquecemos de buscar o que não deveríamos ser. E é sobre esses pontos que falaremos hoje.

Não é especialista técnico de tudo

Liderar uma equipe de tecnologia não significa que você saiba tudo sobre as tecnologias que você e sua equipe estão usando. Muitas vezes, significa que você sabe o suficiente para levar o desenvolvimento adiante. Quanto mais versátil o seu time for, mais frequentemente você trabalhará com especialistas que sabem muito mais do que você.

Eu sei codificar, corrigir bugs e adicionar novas features ao nosso produto, criar testes para controle de qualidade, automatizar workflows de entrega, pensar profundamente em arquitetura e mais uma boa porção de coisas . Mas, ao mesmo tempo, tenho certeza de que meu time é muito melhor nessas tarefas e eu fico feliz em admitir isso. Porque nós entregamos como um time, não como indivíduos.

Não é um chefe

Você não diz às pessoas o que fazer e ponto final. Você descobre soluções com eles. Você faz perguntas, desafia decisões, desenha um quadro geral para que todos possam entender melhor. Você pode propor sua maneira de resolver um problema específico, como todos do time. Mas pode ser rejeitado como qualquer coisa vinda de alguém.

Ao dar ordens, muitas vezes nos esquecemos de descrever o contexto delas. Se tivermos sorte, elas estão alinhadas com a visão dos membros da time ou com seu desenvolvimento pessoal. Mas também há tarefas estúpidas ou inúteis para fazer. Aquela que parece ter uma resposta óbvia. A vontade de delegar rapidamente o seu pensamento como a solução perfeita é inevitável. Muitas vezes como algo que precisa ser feito rapidamente, ou como uma solução alternativa e paliativa, ou como uma versão básica de um projeto.
E o seu papel é evitar isso. É explicar o problema e não a sua rápida pseudo-solução. É promover o diálogo e a discussão sobre o assunto. Estimular as outras mentes brilhantes do seu time para que o pensamento fora da caixa aconteça, com inteligência e criatividade. Quando você faz isso de forma correta e honesta, as decisões muitas vezes estúpidas que gerariam apenas outros problemas, são enfrentadas juntas, como um time.

Quando você tem mais pessoas sabendo o motivo e discutindo sobre o como resolver, você evita criar uma grande dívida técnica ou qualquer outra confusão no projeto. Ou pelo menos há uma chance maior de você ter mais pessoas na mesma página, se sentindo parte do projeto e com mais senso de dono e responsabilidade sobre ele.
Na minha carreira, haviam dezenas de tarefas inúteis que se tornaram soluções realmente inteligentes quando o time e eu honestamente conversamos sobre elas.

Não é um juiz

Todos merecem elogios e não devemos subestimar isso. Mas há uma grande diferença entre apreciação e avaliação. Frequentemente, os líderes assumem que seu papel é dizer ao time como estão indo. Eles são bons o suficiente? Eles atendem às expectativas da sua empresa? Será que minha observação única e isolada, do humano “perfeito” que sou, é o suficiente?

Demorei algum tempo para entender que essa é uma maneira horrível de trabalhar com o seu time. Vamos pensar sobre isso. Qual é a sua intenção quando você costuma vir trabalhar? Você acha que “ok, eu vou fazer um péssimo trabalho hoje”? Claro que não! Durante a maior parte do tempo, você faz as coisas da melhor maneira possível e está realmente dando o seu máximo. Então o mesmo acontece com as pessoas ao seu redor. É por isso que seu papel é fornecer uma estrutura que mostre o que significa fazer um bom trabalho. Você deve falar sobre e deixa claro quais são as metas, expectativas e as possíveis formas de desenvolvimento. Feedbacks constantes sobre a evolução do caminho que vem sendo percorrido, são importantíssimos. Lembre-se sempre que por trás dos membros do seu time, existe humanos, com seu bons e maus momentos, com seus momentos de acerto e de falhas.

Claro, você deve ter seu ponto de vista e seus comentários. Mas primeiro, ouça. O indivíduo “avaliado” e também o que o time tem pra falar sobre ele.

O seu papel como líder é orientá-lo ao sucesso e fazer com que o liderado reflita, perceba e aceite, por conta própria, suas falhas e pontos de melhoria. Somente quando isso acontecer você estará ajudando-o a evoluir.

Não é a pessoa mais importante de uma equipe

Não existe a pessoa mais importante em um time. Todos são igualmente importantes. “Mas a equipe não pode operar sem um bom líder”, você pode dizer. Primeiro, isso nem sempre é verdade, porque se a sua equipe não puder fazer o trabalho sem você se envolver, talvez você esteja fazendo algo muito errado. Além disso, um líder não pode existir sem a equipe — quem é mais importante então?

Você enfrenta desafios, fornece recursos, corrige problemas e comemora como um time. E uma equipe é a coisa mais importante. O poder dos indivíduos é essencial, mas a força real surge da composição de habilidades e experiências únicas.

“Nenhum de nós é tão inteligente quanto todos nós, juntos.”

A liderança não é o próximo passo depois de um cargo de engenheiro de software sênior. É mais como um ramo alternativo, um dos muuuitos possíveis para escolher.

Acontece que muitas vezes é que muitos desenvolvedores não são bons líderes e vice-versa. O que acaba nos levando para a decisão de qual caminho seguir na tradicional carreira em Y. Especialista ou líder?

No fim, ambos são somente mais um papel dentro do time, com a mesma importância que todos os outros.

Há alguns anos venho dividindo meu tempo entre arquitetura/desenvolvimento de software e a liderança de outras pessoas. Pessoas que como eu, tem seus problemas pessoais, seu vícios e virtudes. Seus momentos ruins, de baixo desempenho e de glória.

Meu histórico é totalmente técnico e comecei minha liderança como muitos outros — como um próximo passo da minha carreira em engenharia de software e sem nenhum preparo para isso.

Sempre busquei o meu melhor e foi muito difícil aceitar que não existe uma receita para ser um bom líder. E também aceitar que em muitos momentos não serei o melhor líder.

Este artigo está sendo escrito para o Thiago Barradas de alguns anos atrás. Que precisava de alguns conselhos e que por não te-los, cometeu muitos erros que sem dúvida afetou a vida de muitas pessoas que trabalham com ele.

Você deve estar se perguntando: Então agora você é o bixão que manja de todos paranauês de liderança e é referência no assunto? Não! Afinal, esse é um aprendizado eterno e que é totalmente imprevisível. As mudanças na forma de gerir e liderar mudam conforme as pessoas mudam. A cultura, o momento tecnológico, com as diferenças e formas de ser de cada geração. Por isso, espero continuar aprendendo para que nos próximos anos da minha carreira profissional eu possa responder com mais confiança e convicção o que é ser um grande líder.

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Thiago Barradas
thiagobarradas

Microsoft MVP, Elastic Contributor. Entusiasta de novas tecnologias e arquiteto de software na Stone. Cultuador do hábito de formar cabeças pensantes.