Anton Ego, Pixar_Me surpreenda_Tiago Bezerra

ME SURPREENDA

Tiago Bezerra
Tiago Bezerra

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Como é que chama a pessoa viciada em filmes? Esqueci, mas acho que vou lembrar antes dessa frase CINÉFILO acabar. Não sei se chego a ser viciado, mas gosto e vejo muitos filmes a ponto de construir vários raciocínios baseados em roteiros, personagens e cenas.

De Harry Potter a O Poderoso Chefão, de Two And a Half Men a Downton Abbey, sempre acabo tirando uma lição. Porque, pensa bem: se as pessoas gostam, é porque elas se identificam com as histórias. E se elas se identificam, é porque tem muita verdade ali. Faz sentido pra você?

Trabalho com propaganda há alguns anos, e minha vida e minha profissão se misturam quase sempre. E nessa mistura, um assunto sempre aparece como vilão e mocinho: a tal da rotina.

Uns falam que odeiam, outros acham importante para a ordem, outros entram sem querer e acabam ficando, outros passam a vida inteira criando novas rotinas pra sair da rotina. E não adianta querer cortar. Essas cenas acabam fazendo parte do filme da vida de todo mundo.

E entre cenas e misturas, retirei uma reflexão interessante do filme Ratatouille, da Pixar. É aquele que tem um ratinho que cozinha. Além dele, tem também o Linguini que é “controlado” pelo rato (Rémy). Tem a Colette que trabalha no restaurante e acaba namorando o Linguini. Mas o personagem que mais me chamou a atenção foi o Anton Ego. Lembra dele? É o crítico gastronômico mais temido de toda Paris. Uau, né?!

Tudo ia bem no restaurante Gusteau’s, até que Anton Ego invade a coletiva de impressa e avisa que iria jantar naquela noite no Gusteau’s e que o jogo iria começar. Linguini, agora responsável pelo restaurante, se desespera. Afinal, estamos falando de Anton Ego. Com uma frase ele poderia desqualificar o trabalho que os clientes estavam acostumados a saborear todas as noites. Mas e daí? Quando chega a hora, Colette diz: Anton Ego é só mais um cliente. Vamos cozinhar!

Do outro lado do restaurante, no salão principal, o Garçom estava tendo uma conversa bastante confusa com Monsieur Ego. Anton Ego dizia que após ver tantos elogios exagerados sobre o novo cozinheiro, ele queria uma pequena perspectiva. O Garçom se vê em uma situação inusitada. Isso não tem no Menu. Do que será que esse cliente está falando? Anton repete: quero uma nova perspectiva clara e bem temperada. O Garçom realmente não faz ideia do que ele está falando, afinal, só conhece o que está no Menu que é servido todas as noites aos clientes.

Cheio da inércia e desconhecimento do Garçom, Anton Ego grita: Diga ao seu Chef Linguini que eu quero o que ele ousar me servir. Diga a ele pra me servir o que ele faz de melhor.

O dia a dia nas agências é muito parecido com essa rotina de restaurantes. Temos clientes, temos criativos na cozinha, atendimentos que servem o que é criado todos os dias. Mas você já se perguntou se o Menu de todas as noites traz novas perspectivas aos seus clientes?

Jornal de entrada, uma fatia nobre de TV, acompanhada de porções de Rádio salpicadas de Outdoor; e para adoçar o dia, posts orgânicos no Facebook e Instagram. Este é o Menu de muitas agências. Uma receita sem nenhuma nova perspectiva, sem inovação, sem sabor, sem tempero ousado. Muitos esquecem que a confiança do cliente é conquistada com ideias específicas para o problema de comunicação dele. E não com uma ideia igual adaptada para todos os clientes.

Naquela noite, Rémir (o rato) serviu para Anton Ego uma receita considerada simples. Ele serviu Ratatouille. O prato foi tão bem feito que na primeira garfada Anton foi transportado para sua infância. A emoção se misturou ao paladar. E a saudade da comida da mãe, que provocava nele tanto desprezo pela comida das outras pessoas, foi suprida pela lembrança da essência do amor pela culinária.

No final do filme e dessa reflexão, Linguini pergunta a um Anton Ego satisfeito e sorridente o que ele gostaria de pedir, e a resposta é recheada da confiança que devemos oferecer aos nossos clientes: me surpreenda!

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