O Draft

Jonas Faria
Toco e Tackle
Published in
5 min readApr 10, 2021

Entenda o que é o draft de forma rápida e descomplicada

Em 1935 o então dono e um dos fundadores do Philadelphia Eagles, Bert Bell propôs o chamado “Encontro Anual de Seleção de Amadores” e a ideia era justamente deixar a disputa por talentos vindos da universidade mais democrática e de um modo geral deixar os times mais satisfeitos. Até então, quem tinha mais dinheiro, por obviedade conseguia recrutar os melhores talentos. Essa proposta logo se mostrou um fator importante para a profissionalização dos atletas e para a manutenção dos times.

Bert Bell foi comissário da NFL de 1946 até 1959 (ano de sua morte)

A palavra Draft no contexto da NFL é justamente esse, recrutamento! Assim como tantos termos bélicos presentes no jogo, nada mais justo que a porta de entrada para o nível profissional.

Quem pode ser recrutado?

Para um jogador entrar no draft é necessário que ele tenha concluído o ensino médio (high school) há pelo menos 3 anos atrás, por esse motivo quase todos os jogadores são escolhidos da National Collegiate Athletic Association (NCAA).

E aqui um parênteses bem rápido, o college não é uma categoria de base para a NFL, no sentido que nós estamos acostumados no futebol aqui do Brasil. Mas deixemos para uma próxima oportunidade.

Como é o formato?

São 7 rodadas e as 32 duas franquias da liga têm, pelo menos, uma escolha em cada rodada. E existem as escolhas compensatórias a partir da 3° rodada. Basicamente quando um time perde um jogador importante na free-agency e não repõe com outro jogador no mesmo período. E aí está a grande questão… parece meio subjetivo e de fato não existe uma fórmula de como isso realmente funciona.
O draft é dividido em 3 dias. Neste ano começa na quinta, 29 de abril até o dia 1 de maio.

Qual a ordem de escolha?

Do pior para o melhor! Isto mesmo, diferente da NBA onde os times de piores campanhas passam por um sorteio para decidir quem terá a primeira escolha no draft do ano seguinte, na NFL, a pior campanha da temporada recebe o “prêmio” da primeira escolha no draft seguinte, o que na teoria é a chance de escolher o melhor jogador disponível! Neste ano as honrarias ficam para o Jacksonville Jaguars que de maneira unânime escolherão o QB Trevor Lawrence de Clemson.

Seguindo a analogia, o campeão da temporada passada, tem a última escolha da primeira rodada. No caso o Tampa Bay Buccaneers.

Ah, mas aí você percebe olhando para a ordem de escolhas desse ano que o San Francisco 49ers não teve a terceira pior campanha geral e mesmo assim tem a terceira escolha do draft! Pois é, as escolhas podem ser trocadas dependendo da necessidade/desespero do time para garantir um jogador que consideram essencial para a sua franquia. Neste caso, era os Dolphins que possuíam esta escolha, herdada de trocas passadas.

Contratos

Já que falamos de times que podiam pagar mais, atualmente o salário dos calouros segue uma tabela de acordo com a posição em que foi escolhido no draft. Ah, e a duração do contrato também segue na mesma lógica, por exemplo:

O contrato de um jogador draftado na primeira rodada tem duração de quatro anos, mas uma opção de quinto ano para o time (que será exercida ou não entre o terceiro e o quarto anos da carreira do jogador).

O contrato de um jogador draftado da segunda à sétima rodada tem duração de quatro anos, sem opção de quinto ano.

Jogadores que não são escolhidos se tornam agentes livres e podem negociar com qualquer time. O valor do salário destes atletas também é tabelado. O vínculo para jogadores não draftados é de três anos.

O jogador pode recusar o time que o escolheu?

É justo pensar que o melhor jogador disponível vindo do draft não queira jogar no pior time da NFL. Por isso, é sim possível que ele recuse, mas ele só poderá ser elegível para novas escolhas no draft do ano seguinte.

Pense comigo, jogadores com um baita talento, vários contratos de patrocínio já fechados, a especulação midiática e o famoso hype em cima de sua atuação, podem colocar tudo a perder se escolherem esperar mais um ano para virar profissionais e receberem para jogar — coisa que não acontece no college (na teoria)…

Então, poder até pode, mas os jogadores melhores cotados sabem da importância de aproveitar o momento que de fato estão na ‘crista da onda’.

Tem muita gente viciada em acompanhar o draft, um milhão de conjecturas e scouts sobre cada jogador, sobre cada estatística da carreira universitária dos futuros jogadores. Mas está bem longe de ser uma ciência exata. Cada time tem sua filosofia de trabalho na hora que começa a contagem regressiva para escolher os jogadores.

Trevor Lawrence, provável 1° escolha do draft. No detalhe, Urban Meyer (dir.) HC dos Jaguars

Existem muitos jogadores que se tornam steals ou seja, ninguém esperava que jogasse bem, foram escolhidos tardiamente mas se revelaram de um valor inestimável, por exemplo, Tom Brady que foi a 199° escolha geral em seu draft e hoje tem mais títulos do que muito time na NFL ou Kurt Warner que nem draftado foi, recebeu uma oportunidade nos St. Louis Rams como reserva em 1998 e no ano seguinte conduziu o time ao Super Bowl , o único da franquia e um dos melhores ataques da história.

Tem, obviamente o oposto disso, os busts. Já ouviu falar que a expectativa é a mãe da decepção? Não quero ser tão fatalista aqui. Mas vamos pegar como exemplo os 49ers no draft deste ano… fizeram um movimento ousado para chegarem até a escolha no número 3 do draft. Escolhem hipoteticamente Micah Parson, o melhor linebacker da classe — obviamente não será o caso, já que o interesse é um quarterback — que fez um último ano do college espetacular, vários prêmios e honrarias, mas aí chega na NFL e se lesiona, volta e tem problemas extra campo, não consegue evoluir e nem pressionar os adversários… enfim, várias possibilidades e no fim é uma decepção completa.

Que fique claro, nada contra o Parson, foi só o primeiro que meio na cabeça para fugir dos quarterbacks.

Bom, de maneira bem resumida, o draft funciona desta forma e tem várias peculiaridades que o tornam tão legal de acompanhar. Isso já será suficiente para entender que existem times que se reestruturam através de drafts, acumulam várias escolhas em diferentes anos para apostar em jovens talentos. Existem estratégias mais ousadas de equipes que negociam suas escolhas mais importantes por jogadores já consolidados na liga… enfim, tudo envolve riscos para a manutenção de grandes times ou para a construção destes!

O draft vem aí, mas no fundo o que o povo mais quer é setembro! Para ver todo mundo em ação novamente. Força meus amigos, vamos juntos!

Fontes: Manual do Futebol Americano e Gaúcha ZH

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Jonas Faria
Toco e Tackle

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