Caminho

Vinícius Ferrari
Toda dor que somos
Published in
1 min readJan 20, 2021

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eu me vou como algo que cai devagar
nunca viverei para ver meus pés tocarem o solo
e algo de felicidade existe nisso.

quando as nuvens se tornam algo disforme
não por elas mesmas
mas porque deixamos de ter nelas algum significado
é porque a copa se tornou maior que as raízes
e o invisível se permitiu não mais existir.

que algo de mistério pode haver
nas lembranças que não tivemos
em alguém que não chegou a existir
em futuros que largamos mão
tudo está óbvio em sua não-manifestação.

eu me vou como algo que nunca cai
e que o chão sempre evoca para si
eu vim de lá
mas estou feliz por “lá” não mais existir
plenifico-me por não estar mais.

sei que a maior beleza é não querer voar.
aceitar o chão em que se pisa
e, assim, perceber que o chão se tornou céu.

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