Este poema embolorou

Vinícius Ferrari
Toda dor que somos
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1 min readDec 23, 2018

tenho odiado a poesia por ser sincera
e ser incapaz de viver sem ela
me trouxe a mais absurda metástase.
.
temo a arte graças a sua indiscrição;
me toma a mente — antes me matasse,
não os veria partir. para onde vão?
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os sentidos pueris naquele enlace
do primo amor; o amor tão mais infante
insosso na memória… tão mais “antes”.
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as coisas solvem demasiado cedo
quando vejo estou nu com os meus medos
e as lembranças tem um sabor mais acre.
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andei em pavimentos, fui afável
contudo hoje sou tísico, maleável
e levo no bolso uma inimizade.
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deixarei que me componham os riscos.
me tenha sem cor, sem voz, e me mate
que já se foram, há muito, os meus risos!
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e se foram em tempos fatídicos
quando a arte desenhava o meu encanto
e eu tremia em seu abraço idílico.
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porra, por que afinal tememos tanto?
me enganei… me desviei… cacos de mim
hoje formam a dor farta do fim.
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monossílabo demasiado vil.
tenho odiado a finitude por isso:
cada poro meu se foi, e ninguém viu.
.
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