Dois nus na floresta, Frida Kahlo

Terrários

Vinícius Ferrari
Toda dor que somos
Published in
1 min readJun 30, 2020

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negar a vida
canção triste e solitária
mas como deixar de nega-la
se aceita-la é queimar a rosa
e beijar os espinhos
ou sentar-se
esperando um ônibus a vagar por ai.

desde a primeira vez que abri os olhos
nunca mais voltei pra dentro de mim
toda minha dor foi dor alheia
e se chorei
não sei se foi realmente choro.

terrários construídos
atrás dos meus olhos
toda a criação que se enraizou onde não posso ver
infinito microcosmo de dúvida
matéria absoluta em folhas secas
que jamais cairão
ou não serão vistas.

coisa pequena.
coisa pequena, insignificante
pensar em tanta pequenez me dói
ossos, pelos, pele, juntas, tudo
e tudo é pequeno demais, invisível
coisa pequena e sem graça
essa que cultivamos
e por fim se tornou tudo que temos.

terrários vivos e mortos
nascidos e findos no mesmo instante
regados, podados, olhados no segundo
em que nascem
e, ainda assim, nunca basta para mante-los.
ah, coisa pequena essa
de existir urgentemente.

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