Ô de casa!

Fernanda Stange
Toda Palavra
Published in
2 min readJun 1, 2020

Vitória, primeiro de junho de 2020

Nanda (Baptista),

Eu não sei se você já teve a chance de ver o delicado movimento encabeçado pela artista Mônica Salmaso em suas redes sociais. Ela chama o projeto de Ô de casas, assim, no plural, para marcar geográfica e afetuosamente o de que se trata: amigos músicos convidados a fazer duetos à distância. Ô de casa é um vocativo dos meus preferidos, porque é um chamado à porta pela voz, dispensando as sinetas e os toques. Quando muito, vem acompanhado de palmas, o que torna ainda melhor. Mesmo quando a pessoa requisitada é desconhecida, essa forma de convocação já desperta simpatias. É respeitosa, ora bolas. Afinal, de cara, indica certos limites, como os de propriedade, por exemplo. E também gosto do fato de ser um chamado pela voz, respeitando limites, porque é assim que sabemos que se constitui um sujeito. Mas isso é papo para outra hora. Te escrevo hoje, porque esse movimento me faz pensar em você por alguns motivos. Em primeiríssimo lugar, Mônica é uma mulher de beleza tão grande quanto natural, que me lembra a sua. Uma brasilidade das mais singelas e honestas, musical, como aquela escolhida por você no dia do seu casamento, uma memória para sempre guardada com carinho. Até hoje (já se vão quantos anos desde aquela festa no quintal?) penso na sua celebração de amor com o Guilherme como revestida de muitos símbolos que a mim soam importantes em toda afirmação de desejo e enlace amoroso. É claro que nossas conversas e correspondências, ao longo dos anos, sedimentaram outras impressões. Mas a festa foi tão calorosa e divertida que a escolhi como representante máxima. Você apresenta marcas que me parecem vias possíveis da consonância entre o feminino e a maternidade, matéria que me traz, nessa fase da vida, tantos embaraços. Em último lugar, a ideia de um dueto à distância, aproximando gente que se gosta e que produz laço a partir da arte e da cultura, pretensiosamente me lembra a nossa amizade, nossos emails, nossos chopes regando muitas importantes conversas, e essas cartas.

Deixo pra você, esperando que alegre o seu dia como alegra o meu, esse episódio em que Leila Pinheiro e Mônica cantam juntas.

Um beijo,

Saudades,

Nanda (Stange)

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