Natália Nespoli
Toda Palavra
Published in
1 min readApr 27, 2020

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Oi Naty,

por vezes pensei em te escrever, mas vejo que é só agora chega o momento. Como fica a expectativa da resposta de cartas virtuais num tempo em que não se pode esperar muito mais após os dois tracinhos azuis, caso contrário a espera se torna índice de descaso, não-lugar, ofensa, e tantas outras querelas imaginárias? Quando se é possível tomar o seu tempo, acho que isso toca algo da liberdade. Te agradeço por isso.

Nesse entre mundos que vivemos, nesse tempo que se passa, não deixo de fruir daquilo que me cabe, ou melhor, a vida continua com seus tons, cheiros e sabores, e diferente dessa espera que me permito fazer existir, ela, a vida, pede mais urgência. Como você bem lembra da posição pessimista frente a efemeridade do belo, o poeta deixava passar para nem mesmo fazer marca. Parece que essa é uma marca da juventude, e não tanto por ser poeta. Quando olho para os meus filhos e penso na possibilidade de perdê-los, beira um não existir, e aí vem a decisão de amar, se é que é podemos chamar isso de decisão, mesmo que não saiba quanto vai durar, não há tempo a perder. É por se saber de saída perdendo algo, é que se vive, não é mesmo?

O pior disso, sem dúvidas, é o presidente, jovem onipotente.

Um beijo, com carinho.

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