Às vezes eu queria dizer a todas as pessoas que já passaram pela minha vida o quanto eu amo elas
Aviso:
Acho que esse texto só faz sentido se for lido até o final.
Explico:
O que vou colocar aqui embaixo foi escrito há alguns anos. Não sei bem ao certo quando. Tava perdido no meu computador e, procurando um documento pra enviar pro detran, eu achei. Tem muita coisa perdida no meu computador. Tem muita coisa minha perdida. Tem muita coisa minha perdida no meu computador e tem muita coisa que eu nunca mostro pra ninguém. Nem pra mim. Tem muita coisa que eu escrevo e deixo ali. Só pra escrever, sei lá. Ou pra depois encontrar, assim, num dia qualquer, enquanto pesquiso um documento pra enviar pro detran e então achar bonito. Tem muita coisa que só depois eu acho bonito. Tem muita coisa perdida. Tem muita coisa.
Divido:
Rio de janeiro, algum dia de algum mês de dois mil e quatorze ou quinze, acho
Não vamos sair da vida um do outro nunca?
Nunca!
Mas e quando você conhecer alguém? – Eu dizia, infantil, atualizando minha mania de perguntar o que ninguém sabe a resposta. Eu achava que você sabia tudo. E você sabia mesmo.
Aí eu vou dizer pra ela que você é você - você disse.
E se ela não quiser que eu seja eu?
Você não vai sair da minha vida nunca porque eu não quero e não vou deixar, ponto.
E você deixou. E eu saí.
Você vai me trocar por uma loira siliconada que passa muito corretivo e só é gata em foto. Sua cara isso!
Não era a sua cara e eu sabia. Ela é morena, já viajou o mundo e o corretivo sai rapidinho porque pratica muito esporte. E você não me trocou.
É tudo tão.
Doido.
Acho isso de se relacionar uma viagem muito louca. Você era praticamente a minha vida e, de repente, sem que eu me dê conta, passo dias, semanas, meses, sem nem lembrar de você. Sem nada. Sem nem.
Aí de repente você me surge em momentos assim, tipo hoje, enquanto eu andava de bicicleta no aterro atrasada pra reunião de um projeto meu que tá no comecinho mas já crescendo muito e que, por sinal, você ficaria super orgulhoso. E se estivéssemos juntos eu provavelmente sentiria que seria meio seu também. E você brigaria comigo por eu estar sempre atrasada. E com certeza ficaria me lembrando dele toda hora pra me convencer a parar com essa palhaçada de duvidar de mim. Você confiava mais em mim que eu mesma, às vezes. E acho que ficaria feliz se visse o quanto isso mudou.
Mas enfim. Tava andando no aterro e pensei em você. É que tocou fix you no aleatório do spotify. E aí lembrei daquele rock in rio. Lembra? Eu no seu ombro, bandeira do Brasil, muito, muito lotado, e um daqueles momentos em que a gente se dá conta de que a vida é muito boa com a gente. Naquele dia eu fiquei te amando mais só pelo jeito de criança feliz com que você, emocionado, olhou o palco ficando todo amarelo e achou isso incrível. Isso foi quando tocou yellow, logo depois.
Eu era feliz do seu lado. Eu sabia disso. Terminei porque queria ser mais. Não sei se sou. Acho que sim, mas talvez não.
Sigo tentando.
Já tive algumas paixões. Sexos incrivelmente maravilhosos. Várias noites sozinha. Nenhuma conchinha igual. Vira e mexe eu comparo as pessoas a você e. Não sei dizer. Cada um é um universo e eu gostava muito do seu. Não o suficiente, você diria. Às vezes me pergunto quando vou gostar o suficiente.
Não era pra gente estar junto. Eu sei. Eu sei que não era. Tenho certeza, inclusive. É só minha mania de atualizar o que ninguém sabe a resposta.
(Que-quê eu perguntei dessa vez mesmo?)
E ok que a complicada do casal (ex) aqui sempre fui eu e a gente sabe disso. Era quase previsível que você se casaria primeiro, noivaria em Nova York, teria um carro do ano, compraria um apartamento em um bairro cool e, por favor, só não me tenha um labrador que é pra não esfregar na minha cara. Ou melhor: tenha, sim. Ou um vira-lata. Melhor. Eu sempre invejei essa sua simplicidade clichê. Me sufoquei com ela porque talvez eu seja idiota e não descobri ainda. Ou talvez porque eu só seja eu mesmo. E a gente não é feito um pro outro, já sabemos disso.
Apesar de que em algum universo paralelo a gente é, sim. Mas isso é assunto que combina mais comigo do que com você. Você sempre preferiu comer hambúrguer falando de outras coisas.
Do lado de cá, provavelmente ainda vou beijar muitas bocas, subir Machu Pichu sozinha, experimentar formas novas de não sentir tédio, gravar um filme em local inóspito e aí, quem sabe, um dia, nossos filhos poderão ser amiguinhos e dizer um pro outro que tinham uma mãe maluquinha e um pai incrível que um dia já ficaram juntos num passado muito distante.
E se você estiver lendo isso vai carinhosamente rir um pouco da minha cara com aquele seu jeito de achar que me conhece mais que eu mesma e dizer que não sou maluquinha nada e que também sou incrível. Mas é só a forma como você me vê.
Saudades.
De você e da forma como você me vê. Mas principalmente de você.
Finalizo:
Hoje, o que fica do sentimento que havia nesse texto é apenas um carinho muito grande. A pessoa de quem eu falo realmente noivou em Nova York com uma morena que parece mesmo incrível e recentemente adotou um vira-lata. O que me faz pensar que talvez eu seja meio vidente. Ou só muito conectada com o que tudo vai ser e já é. Parte de mim meio que sempre sabe algumas coisas. Às vezes isso me assusta. Outras vezes eu gosto. Do lado de cá, ainda não subi Machu Pichu sozinha, mas descobri muitas formas novas de não sentir tédio e já me apaixonei mais algumas outras vezes.
Acabei não encontrando mesmo o tal documento pra enviar pro detran, mas achei esse texto, o que, no fim das contas, me pareceu muito mais interessante. Decidi publicar aqui porque, lendo, assim, anos depois, me veio um carinho enorme: pelo texto que eu nem lembrava que tinha escrito, pela pessoa que há um tempo não vinha na minha cabeça, pelo sentimento que um dia existiu, pelo tempo e o que ele faz com a gente e, principalmente, pelas relações.
Arrisco dizer que se relacionar é uma das coisas que mais gosto de fazer aqui na Terra. Talvez seja esse tanto de planeta na casa sete, essa vênus em sagitário em quadratura com escorpião, uma característica minha mesmo ou, quem sabe, seja apenas porque realmente é muito maravilhoso.
Eu acho incrível.
Ás vezes tenho vontade de dizer a todas as pessoas que já passaram pela minha vida o quanto eu amo elas. Porque é exatamente isso que acontece: eu meio que fico amando pra sempre. De um jeito diferente, mas fico. E parece que, quanto mais o tempo passa, mais espaço cabe no meu coração.
Acabo nao dizendo nunca, mas acho que falo do meu jeito. No final de uma ou outra meditação quando, humildemente, tento mandar amor pra mim, pro mundo e pra todos que são ou já foram importantes na minha vida; ouvindo uma música no aleatório do spotify; andando de bicicleta no aterro; fazendo alguma coisa meio nada a ver ou escrevendo um texto pra ler anos depois despretensiosamente numa terça-feira enquanto procuro um documento do detran.
Que bom que tem muita coisa minha perdida no meu computador. Que bom que tem muita coisa minha perdida. Que bom que tem muita coisa.