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A terra das emoções banidas

Lara Gondim Toledo
TodaPalavra
Published in
3 min readSep 26, 2018

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Abro o Instagram. As pessoas estão lindas e felizes e exibem seus corpos sarados em viagens incríveis. Abro o aplicativo do meu banco: mal tenho grana para pagar o aluguel, quem dirá para fazer qualquer tipo de viagem que não seja a trabalho. “E aí, Larinha? O que fez nas férias? Foi para fora do Brasil?” Fiquei em casa mesmo. E você? “Fui à Costa Amalfitana. Lindíssima! Você pre-ci-sa ir!” Claro. Preciso. Vou colocar na lista aqui.

Sensação esquisita. Como é o nome mesmo? Ssshhhh! Não pode falar! Você é evoluída e não pode sentir este tipo de coisa. É proibido!

Mas eu sinto. Neste exato momento, estou sentindo. Pra caralho. E quer saber? Vou falar: INVEJA. Ruim, né? Dá até uma certa culpa admitir pra mim mesma que eu estou com inveja da vida aparentemente fácil e maravilhosa que as pessoas esbanjam nas redes sociais. Mas dá um puta alívio também. Sabe por quê? Porque TODO MUNDO SENTE. Meu bem, você pode ser um espírito de luz, você pode ter atingido um estado de Buda, mas a sua condição humana fatalmente o levará a experimentar os sentimentos da “listinha proibida da sociedade”. Aqueles-que-não-devem-ser-nomeados.

E, na boa: qual o problema? Faz bem? Não necessariamente. É feio? Talvez. É natural? MUITO. ABSOLUTAMENTE NATURAL.

Acredito que, ao invés de negarmos estas emoções, deveríamos aceitá-las e escutar o que têm a nos dizer. Nada é à toa. Se sentimos qualquer coisa “ruim”, provavelmente precisamos curar algo dentro da gente.

Vejam a raiva, por exemplo. Eu, que tenho facilidade de me relacionar com todo mundo, muitas vezes me pego com vontade de dar um soco na cara de alguém. Seja porque aquela pessoa emitiu uma opinião que eu considero grotesca, seja porque seus defeitos estão momentaneamente superando suas qualidades e isto está me dando nos nervos.

Há um tempo atrás, eu ficaria extremamente decepcionada comigo por sentir raiva de alguém. Nossa, Lara, como você é má. Logo você, que vive plantando sementinhas do bem por aí! E então eu guardava aquele sentimento proibido no bolso e simplesmente fingia que ele não estava lá. Hoje, não faço mais isso. Prefiro lidar com a raiva, encará-la de frente e perceber, muitas vezes, que aquilo que eu odeio no outro é nada mais do que um espelho de mim. Pois é. Temos o estranho hábito de projetar nos outros os nossos próprios defeitos. Reconhecer isto é um grande passo para mudarmos nossos padrões de comportamento e consertarmos o que não está legal dentro da gente. E tá tudo bem. Não tem que ter vergonha.

Opa! Outro sentimento danado de ruim, né? Vergonha. Aquela sensação horrível de se sentir exposta, de se ver menor do que o resto do mundo, de querer se enfiar em qualquer buraco escuro e não sair dali nunca mais. Eu lembro de sentir profunda vergonha quando alguém discordava de mim ou me repreendia publicamente. Eu achava que, de repente, todos os olhares se voltariam para a minha pessoa, fazendo comentários maldosos e cruéis. Depois de um tempo (e muita meditação), entendi que tudo isso não passava de um medo descabido do julgamento alheio. Uma importância exagerada que eu atribuía ao que os outros achavam de mim. A quebra deste padrão de pensamento veio com o fortalecimento do meu amor próprio e da segurança de manter a minha essência independente de qualquer pressão externa.

Todos os sentimentos e emoções têm o seu papel dentro da complexidade que é o ser humano. Faz parte da forma como percebemos e reagimos ao mundo. E convenhamos: nem sempre o mundo é um mar de rosas. Às vezes, a vida é um tanto quanto indigesta. Isso não significa que devemos agir movidos por emoções extremas que nos levem a comportamentos radicais. Muito pelo contrário: devemos trazer à tona toda a sensatez necessária para ponderar, escutar e entender as vozes interiores mais sombrias.

Aceitar nossas sombras e compreender as mensagens que elas nos trazem é o caminho para reencontrarmos a nossa luz. Aceitemos, então, toda a vastidão que existe em nós. Sem varrer o nosso “lado ruim” para debaixo do tapete. Levanta esse capacho e pega a sujeira de volta: tem muita coisa pra aprender em meio à lama.

“Toda pessoa é um Universo em expansão.”

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