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De mudança

Lara Gondim Toledo
TodaPalavra
Published in
3 min readOct 23, 2017

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2018 vem sendo um ano de mudanças. Mudei de apartamento, deixei de morar com um amigo e fui morar com o namorado e, consequentemente, mudei o status também. De “namorando” para “meio-que-casada”. Que seja. Ah! Mudei o cabelo também. Enfim…mudanças.

O fato é que sinto que o Universo ainda me reserva algumas surpresas até o fim do ano. Não pergunte o quê, pois eu ainda não sei. Todavia, os bons ventos da renovação estão a caminho. Eu simplesmente posso escutá-los.

Uma das últimas vezes em que isto aconteceu foi em 2012. Lá fui eu resgatar o que eu escrevi naquela época e… tcharam! Achei este texto que tão bem descreveu a minha preparação para O Novo.

E vamos lá.

Eu arrumava as malas como quem arrumava a vida. Tentava colocar cada coisa em seu devido lugar. Um pouco de organização, afinal, não faz mal a ninguém.

Revirei as gavetas, esvaziei o baú, limpei os armários. Aproveitei para dar aquela sacudida no coração e também para tirar a poeira dos pensamentos. Quanta coisa esquecida!

Encontrei um vestido deslumbrante que eu me lembro de ter usado apenas uma vez. Sabe aquela roupa que nunca sai de moda? Pois é…coloquei-o junto dos bons amigos, aqueles de longa data, aos quais muitas vezes eu não dei a devida atenção.
Achei um punhado de lembranças da infância e de momentos maravilhosos com a minha família. Reconheci o cheiro inigualável de comida de vó, de praia nas férias, de carinho de mãe, pai e irmã. As recordações exalavam uma felicidade tão intensa, que chegava a doer. Guardei-as cuidadosamente no porta-jóias.
Em meio à nostalgia, achei espaço para o Novo. Coloquei na mala os novos amigos, lugares e desafios (estes tomaram um espaço e tanto…).
Depois de toneladas de roupas, acessórios, livros e sentimentos, finalmente esvaziei o quarto e me senti pronta para partir.

Fui caminhando decidida em direção à porta, quando tropecei em algum obstáculo e caí. Como eu não havia reparado que tudo aquilo eu varria há tempos para debaixo do tapete transformara-se naquele imenso volume?

Sentindo um frio na barriga, levantei o tapete. Uma revoada de lembranças tuas tomou conta do quarto, todas se debatendo enlouquecidamente, como pássaros ávidos por liberdade. Desesperada, tentei capturá-las, escondê-las novamente. Mas elas passavam tão rápido! Estavam todas lá: aquele sorriso na porta da faculdade, os almoços nos dias de semana, os fins de tarde na praia e todos os dias 22.
Enfim, decidi continuar meu caminho; todas as recordações, em fila, caminhavam logo atrás.

Foi quando eu entendi que não nos separaríamos nunca mais. Aquelas lembranças tuas eram também pedaços de mim, partes indissociáveis da minha essência.

Respirei fundo, aceitei e amei minha constatação.
Fiz as pazes com o passado e continuei minha jornada, sentindo-me, finalmente, completa.

São Paulo, 29 de Fevereiro de 2012

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