Dia do Orgasmo?

Fiquei sabendo que hoje é o Dia do Orgasmo. Pois é, ele existe. Tanto o Dia, como o Orgasmo em si.

Lara Gondim Toledo
TodaPalavra
3 min readAug 1, 2018

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Isso me remete à minha própria história com ele. Passamos uns bons anos sem nos conhecermos pessoalmente. Eu já tinha até ouvido falar, mas muito por alto. Daquelas coisas tão remotas que a gente não sabe se são verdade. E aí viram lenda.

Também pudera. Cresci em uma família conservadora, onde sexo era apenas um dos inúmeros tabus cuidadosamente alimentados por todos. Aprendi que só se transa depois que casa, que se transar muito novinha e engravidar vai acabar com a própria juventude, que se as pessoas souberem que você transou vão te chamar de mulher fácil e nunca mais nenhum homem vai te querer pra namorar. Pois é. Não tô aqui culpando ninguém, mas confesso que fiquei um tanto quanto apavorada com o sexo. E, como medo e excitação estão intimamente ligados, eu acabei ficando bem curiosa também.

Sem ter com quem conversar, recorri às famigeradas revistas adolescentes. Uma educação sexual toda pautada em Revista Capricho, com matérias do tipo “Como se preparar para a tão esperada 1ª vez” e “Faça o teste para saber se ele gosta de você ou se só quer transar.” Ninguém falava sobre conhecer a mim mesma. O mais perto que cheguei de entender o funcionamento do meu corpo foi na aula de Biologia, quando a professora nos explicou o Sistema Reprodutor.

Passou um tempinho para entender que essa coisa toda não havia sido feita só para procriarmos. Passou um tempão para descobrir que eu poderia achar bom e que não havia nada de errado com isso. E passou uma vida para conhecer o famoso Orgasmo. E, quando finalmente o senti na pele (no corpo todinho, aliás), cheguei a duas importantes descobertas (e falarei apenas de orgasmo feminino por aqui, ok?):

  • É maravilhoso e é uma pena que muitas mulheres não tenham nunca experimentado;
  • É tão idealizado e equivocadamente cultuado que se cria uma certa pressão em torno do tema, o que pode contribuir para o ponto acima.

Fala-se do orgasmo como o clímax do sexo e que, sem ele, é como se algo ficasse incompleto. Para mim, incompleta é essa visão! Vai muito além do físico. Aliás, eu ousaria dizer que o processo é muito mais psicológico do que qualquer outra coisa. Certos olhares nos deixam quentes e certas conversas nos arrepiam. E isso é mais sexual do que muita transa por aí. Tem a ver com troca, com entrega e conexão. E, para isso, não precisa ter amor envolvido entre as partes, mas é importante ter bastante amor por si. Aquela plenitude de sentir-se dona do próprio corpo e de guiá-lo de acordo com suas regras, de se sentir confortável em uma atmosfera de prazer e respeito. É tudo tão amplo, que o orgasmo se torna até pequeno diante dos múltiplos caminhos da sexualidade.

E, para explorá-los, não precisamos, necessariamente, de alguém. Podemos e devemos fazer sozinhas. Ninguém nunca nos incentivou a nos conhecermos. Muito pelo contrário: masturbação feminina sempre foi menos aceita, menos falada e mais condenada. E, com isso, pulamos uma etapa importante do nosso desenvolvimento. Se conhecimento é poder, autoconhecimento é revolução. É conexão com a sua potência, o seu feminino e tudo que há de mais sagrado dentro de você. Olhe, contemple, toque, explore e descubra a si. Não há nada mais libertador do que conhecer seus próprios gatilhos e as reações que eles provocam.

O orgasmo é importante, é delicioso, mas não é tudo. Existem inúmeras questões sexuais reprimidas a serem resolvidas antes de “gozei/não gozei”. E é por isso que, antes de falar de orgasmo, devemos falar de sexualidade. Nas famílias, nas escolas, onde quer que seja. Precisamos parar de demonizar o sexo e de julgar a intimidade alheia, replicando padrões que nos foram transmitidos e os quais não ousamos questionar.

Não sei em que momento da História decidiram censurar o sexo e condenar o prazer, esta grande fonte de endorfina. Aliás, tá aí uma coisa que falta na galera hoje em dia: uma bela dose de endorfina, pra ficar todo mundo de boas. Deixemos fluir a energia sexual das pessoas e teremos um mundo mais feliz e saudável. E, inclusive, com mais orgasmos.

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