As coisas que a gente sente

Carolina Firmino
Todas as estações
3 min readMay 15, 2018

Desde que cheguei aos 29, alguma coisa mudou. Eu comecei a me preocupar menos com o que falo e comecei a cuidar mais do que sinto. Sempre controlei tanto os “nãos” que dizia para os outros, que esquecia dos “nãos” que precisava dizer por mim. Aliás, dizer “não” é um desafio que me acompanhou a vida toda. Tinha dificuldades em ver alguém decepcionado comigo, ainda que a culpa não fosse minha ou que não fosse nada tão sério a ponto de causar uma decepção. Às vezes era mesmo só um “não”, que se transformava em algo como “meu Deus, nunca mais será a mesma coisa” dentro da minha cabeça.

Pois a nova idade tem contribuído para que eu possa me libertar desse medo. Deixei de me importar se estou sendo o tempo todo a pessoa que esperam que eu seja. Aprendi a falar “não posso”, “não gosto” e “não quero”… Sim, a gente pode não querer as coisas e não precisa existir um “motivo muito bom” pra isso. Está tudo bem não querer sair de casa no sábado à noite, está tudo bem não ir a lugares frequentados por pessoas que você não deseja encontrar, está tudo bem agir de acordo com o que você sente.

Fazer as pazes com os próprios sentimentos pode ser libertador :)

Não confunda essa liberdade com egoísmo. Não é isso. É só que a cobrança com a gente mesma diminui. E você começa a perceber quem ainda continua do seu lado, mesmo com todos esses “nãos”. No fundo, acho que o efeito disso é bom, porque o “sim” se torna mais sincero.

E os 29 também me transformaram em uma pessoa que valoriza a sinceridade. Mentir sobre sentimentos atrasa tanto a vida. A gente conhece alguém e abre o coração, os amigos, a casa, a cama e a nossa história. Depois de uns meses, percebe que só você tinha a chave pra abrir isso tudo, que a outra pessoa nunca quis ter uma cópia. E lá se foram semanas, meses… A sinceridade desenrola as coisas e faz com que sobre mais tempo para os bons momentos. Definitivamente, eu gosto de gente sincera.

E é por isso que tenho dado valor a toda essa história de ser verdadeira e de cuidar do que tem dentro de mim. Passei a pensar menos no que poderia ser e estou deixando que seja. Passei a pensar menos no que poderiam dizer e estou deixando que digam. Passei a pensar menos no que minhas decisões poderiam significar e estou criando um significado pra elas.

Estou chegando na metade do ano antes dos 30 e tenho certeza de que muita coisa vai mudar até lá. Mas já deixei pelo caminho boa parte do peso e das culpas que eu carreguei até aqui. Deixei algumas pessoas também, mas trouxe outras comigo, algumas mal resolvidas e outras que eu espero reencontrar mais madura.

A vida é assim, feita de todas essas tentativas de ser feliz.

--

--

Carolina Firmino
Todas as estações

Jornalista, capricorniana, adora ler e falar sobre a vida. Combina tudo com cerveja.