Como acontece um amigo?

Não foi Vinícius de Moraes. Não é dele uma das frases mais compartilhadas em e-mails, blogs ou legendas de foto que diz que a gente não faz amigos, reconhece-os. Mas foi Vinícius quem disse que o amigo é um ser que a vida não explica. E eu concordo: acho que é nossa a responsabilidade de atribuir significados às amizades.

Amigo é ficar junto de perto ou de longe.

Regar a conversa pra ver florescer afeto.

Ajudar a pegar os cacos e aceitar o que não der pra colar.

É festejar ou acolher.

Amizade é sintonizar em todas as frequências. Não importa a canção.

Amigo é descoberta, é permanência, é amor sem precisar ser

Peço licença para ir além do grande Vinícius.

Não se explica mesmo um amigo. Os amigos acontecem. E que seja considerada aqui a importância desse verbo: acontecer é tornar-se realidade no tempo e no espaço. Diz ainda o dicionário que é modificar o estado das coisas, envolvendo ou afetando algo ou alguém.

Hoje posso dizer que me aconteceu um amigo. Ele me escreveu sobre a imprevisibilidade do tempo e ajudou mesmo a modificar o estado das coisas. Me falou sobre como não importa a tempestade ou o furacão, é possível reconstruir, com aquela força na qual não acreditávamos mais. Inteiros, como devemos ser, acrescentando os pedaços de novas formas que adquirimos pelo caminho.

Agradeço por ter amigos que escrevem. Em tempos de mensagens visualizadas e não respondidas, de pessoas que chegam e vão embora sem dizer nada, palavras viram presentes.

Quantas mudanças precisamos fazer repentinamente por sermos pegos de surpresa? Nos quebramos, nos remoemos e queremos a todo custo arrancar a destruição do peito ao invés de irmos parte a parte. É claro que não se limpa uma cidade devastada com pano úmido. É preciso de vassouras, grandes rodos, máquinas, guinchos, britadeiras, escavadeiras e tudo que se tenha força para remover a destruição e se reconstruir.

Eis acima meu trecho preferido.

Obrigada, amigo. Além de você, hoje seu texto aconteceu pra mim.