Me transformando numa Arquiteta de Informações

Margô Faber
Todas as Letras
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5 min readJan 23, 2022

Nas datas de 15 e 16 de janeiro, das 10 às 18, ocorreu o décimo primeiro curso de Arquitetura da Informação ministrado pelo Edu Agni na Mergo, tendo como facilitador o Caio Albuquerque. Pude participar desta edição somente graças à comunidade Todas as Letras, que me forneceu uma bolsa integral. É importante frisar que, durante o mês de janeiro, o Todas vem priorizando ainda mais pessoas trans para a seleção das bolsas, devido ao mês da Visibilidade Transvestigênere. Preciso dar destaque a essa informação pois 90% das pessoas trans e travestis estão atualmente na prostituição compulsória e, através desse tipo de ação inclusiva, podemos sair pouco a pouco desta estatística que nos mata e nos desumaniza.

Foi meu primeiro contato com a Arquitetura de Informações e o Edu dirigiu a apresentação da melhor forma possível. Cada pessoa começou relatando um problema informacional que enfrentava. Entre várias das respostas, tivemos um consenso de dificuldade na organização dos e-mails e no gerenciamento de tarefas. Outras pessoas relataram situações mais descontraídas como perder o controle da televisão ou não lembrar do horário de determinada reunião.

Taxonomia: a arte de hierarquizar

Após as apresentações, o primeiro tópico abordado pelo Edu Agni foi a taxonomia. Lembrei automaticamente de minhas aulas no ensino médio e do clássico “ReFiCOFaGE”, uma sigla que me ajudou a lembrar as hierarquias de classificações biológicas. E faz bastante sentido com o que nos foi apresentado: na taxonomia, os conceitos são agrupados hierarquicamente, agrupando os conteúdos pelos seus significados.

Taxonomia de Lineu

Mas como isso se relaciona com Arquitetura de Informações e problemas informacionais?

Utilizando um exemplo prático: as breadcrumbs, ou, em português, “migalhas de pão”. Para quem conhece a fábula de João e Maria, é mais fácil de entender; na história, João deixa migalhas de pão pelo caminho para não se perder na volta de casa. No mundo digital temos a mesma lógica: são deixadas informações que registrem a página que a pessoa usuária está e qual o caminho que foi percorrido.

Podemos dividir qualquer site da web em diferentes seções: níveis de navegação. O nível de partida seria a home (início) e quaisquer links derivados daquela página seriam subníveis do site.

Breadcrumbs num Website

Geralmente o caminho virtual percorrido pela pessoa usuária é retratado através dos breadcrumbs. Como essas páginas possuem uma certa estrutura hierárquica, podemos ordenar taxonomicamente seu sistema de navegação.

Sistemas?

Sim! Mas não se preocupa que não é nada de desenvolvimento. Aqui estamos falando sobre os Sistemas da Arquitetura da Informação! São quatro: de organização, de rotulação, de navegação e de busca.

Cada sistema tem sua particularidade e pode ser estudado mais a fundo, mas vou repassar resumidamente o que o Edu Agni nos ensinou. Aproveita que está mastigadinho, hein?

  • Sistema de Organização: categorizam as informações, ou seja, agrupam conteúdos para que a pessoa usuária não gaste tanto tempo procurando. Por exemplo, caso você precise encontrar um livro, é melhor buscar em prateleira por prateleira ou a categorização por gêneros que as livrarias utilizam?
  • Sistema de Rotulação: comunicam as informações. Não tem muito mistério, é realmente a nomeação dos conteúdos. Mas é importantíssimo! Texto é a forma mais primária de comunicação, portanto é necessário dar atenção a como as informações devem ser rotuladas. Algumas dicas: evitar siglas e homônimos, evitar linguagens muito específicas, evitar rótulos próprios da empresa.
  • Sistema de Navegação: maneiras de percorrer um hipertexto; determinam a sequência em que certos itens são visitados. Foi citado acima o exemplo dos breadcrumbs. Segundo Jakob Nielsen, três perguntas precisam ser respondidas para um sistema de navegação conciso: “Onde estou?”, “Onde estive?” e “Aonde posso ir?”
  • Sistema de Busca: direciona para as informações. Depois de todos os outros sistemas, pode parecer que este não é necessário, mas cerca de um terço das pessoas usuárias utilizam como estratégia inicial os mecanismos de busca (segundo pesquisa realizada por Louis Rosenfeld e Peter Morville). Fora isso, um sistema de busca precisa ser eficiente, pois se a pessoa usuária está recorrendo à busca, é porque não encontrou de outras maneiras.

Interfaces visuais mais organizadas!

O último grande tópico que o Edu nos orientou foi em relação à criação de interfaces visuais menos complexas e mais modularizadas. A modularização das páginas consiste na divisão das informações em conjuntos (módulos), alguns exemplos de módulos de um site poderiam ser “links úteis”, “destaques”, “redes sociais”, “fale conosco” e “buscas recentes”.

Edu nos ensinou a fazer essa modularização perfeitamente! Começamos com o levantamento de requisitos, momento em que se levantam dados e informações fornecidas pela pessoa usuária.

Por exemplo, um cliente me informou num briefing que queria montar um site com as seguintes informações:

  • Menu principal;
  • Seção herói;
  • Como funciona;
  • Porque experimentar;
  • Na mídia;
  • Rodapé;

O cliente me informou que queria um menu com a logomarca e com as opções de entrar e de pedir. Na seção herói, um banner com botão de call-to-action e no rodapé uma ala de contato e outra de redes sociais. Essa seria a modularização que eu faria:

Levantamento de Requisitos

Com esses elementos já enumerados e listados, fica muito mais fácil de montar o wireframe! É só encaixar os requisitos no meu rascunho de acordo com a ordem e prioridade de cada item. Meu wireframe ficaria mais ou menos assim:

Wireframe desenvolvido

Considerações finais

Por fim, Edu nos revelou que o grande objetivo do curso era nos ensinar a fazer atividades em etapas. Cada um dos tópicos citados auxilia a percorrer processos estruturados: quando montamos um fluxo de tarefas e buscamos realizá-las uma a uma, temos resultados melhores e mais coordenados.

Tudo o que me foi passado ao longo deste curso vai servir não apenas para minha carreira profissional como também para a minha vida pessoal. Sempre tive certa dificuldade em organizar minhas obrigações, mas agora que consigo estabelecer sequências curtas, conseguirei ser mais produtiva e disciplinada.

Dou cinco estrelas para esse curso! Queria que todas as pessoas do mundo assistissem a essas aulas. Mais uma vez, muito obrigada ao Edu por estas lições em Arquitetura de Informação e à comunidade Todas as Letras, que me possibilita ir atrás de conhecimento e formações profissionais, além de me acolherem enquanto LGBTQ+, em especial enquanto pessoa trans.

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Organização social e comunidade que busca incluir pessoas LGBTI+ no mercado de tecnologia

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Written by Margô Faber

Travesti, designer e autista.