Pesquisa em UX: uma nova perspectiva
Costumo dizer que o mundo da pesquisa é um caminho de aprendizado constante, ou melhor, uma viagem de descobertas. Diante de tantos métodos, estratégias e ferramentas, o jeito é continuar se aprimorando, assim como um produto ao ser lançado no mercado. Após quase dois anos de estudos na área, consegui uma bolsa pelo Todas as Letras para fazer parte da 6ª turma de Product Research da Mergo. Foram dois dias de imersão que me possibilitaram uma nova perspectiva no exercício de pesquisador. Acredito que uma boa maneira de começar o resumo dessa experiência é partindo do básico: a definição de produto e como nosso jeito de enxergá-lo pode influenciar a sua entrega.
Para Roman Pichler, um produto é algo que cria um valor específico para um grupo de pessoas (clientes e pessoas usuárias) e para a organização que o desenvolve e fornece. Nesse sentido, um projeto de pesquisa eficaz é essencial para compreender quais soluções são realmente assertivas, quem são seus usuários e, principalmente, quais problemas e dores podem ser solucionadas com o seu produto.
Estamos acostumados a enxergar ferramentas pela solução que elas entregam, mas não pelos problemas que elas solucionam. Pense no Airbnb, a primeira coisa que vem na sua mente certamente é a praticidade para reservar acomodações em qualquer lugar do mundo. Mas você já parou para pensar em quais dores ele resolveu ao ser incluído no mercado? Antes da sua criação, casas de férias e temporadas ficavam sem hóspedes por uma boa parte do ano, trazendo despesas aos donos. Além disso, hóspedes corriam o risco de ficar sem acomodação em cenários de alta demanda hoteleira. Situações que demonstravam a necessidade do usuário e puderam ser transformadas em oportunidade de negócio.
Mas afinal, o que pode ser definido como um problema? Podemos enxergá-lo como algo que afeta diretamente o usuário final, seja na experiência ou na necessidade, da mesma forma como pode ser uma oportunidade de mercado que nenhum outro “player’’ ofereça. Como encontramos essas possibilidades? É aí que entra a peça chave: a famosa pesquisa! Costumamos lembrar do processo de UX como Ideia/descoberta/entrega, mas muitas vezes esquecemos do mais importante, a dor que foi descoberta em processos de pesquisas e transformada em possíveis acionáveis, ou melhor, em ideias.
Para ter ideias, encontre problemas.
Para encontrar problemas, converse com as pessoas.
Julie Zhou
Ao compreender os diferentes processos de desenvolvimento de um produto, você pode perceber que as ideias e descobertas aparecem de forma contínua em todo o projeto. Isso porque, as pesquisas não acabam após a entrega da solução ao usuário, muito menos o seu desenvolvimento. Ele deve continuar sendo testado constantemente, e, a cada nova falha ou oportunidade descoberta, aprimorado novamente para ser atualizado com uma versão ainda melhor. Nesse cenário, ao se deparar com um resultado negativo no negócio, como a queda de uma métrica específica, por exemplo, lembre que provavelmente a causa real da dor vem de algo que já está afetando o usuário.
Se a palavra “problema” está tão presente nesse texto é justamente porque o objetivo é enfatizar o quanto ela é importante para o seu produto, algo abordado em boa parte do curso e que me fez ter um novo olhar para os métodos que eu compreendia até então. De forma prática, quando temos o problema em mente e listamos acionáveis, é possível ter uma gama de possibilidades que podem ser testadas. Mas quando você pensa diretamente na solução sem saber o que ela deve reparar, seu projeto acaba indo pelo caminho da sorte.
Termino meu relato agradecendo a equipe do Todas as Letras pela oportunidade e pelo trabalho feito por toda a comunidade LGBTQIA+, assim como a Mergo, que apoia esse projeto tão importante. Incluir e capacitar é uma das maneiras mais significativas de promover a mudança e tornar o mercado mais diverso.