5 edições marcantes do primeiro Jornal LGBTI+ do Brasil

O Lampião da Esquina pautou a temática LGBTI+ durante a ditadura militar.

Matheus Galvão
TODXS
4 min readNov 13, 2018

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A primeira edição do Lampião saiu em abril de 1978.

O ano era 1978 e o regime militar no Brasil começava a amolecer. Nesse mesmo ano, a resistência LGBTI+ endurecia a voz em um tabloide que se propunha a fazer a comunidade “sair do gueto”. Nascia O Lampião da Esquina.

O Lampião se inspirou em uma revista americana, a Gay Sunshine. Winston Leyland, o editor da revista, visitou o Brasil e inspirou um grupo de artistas e jornalistas a criar a publicação, que viria a ter 37 edições durante 3 anos.

O jornal, que abordou temas como crimes sexuais, transexualidade, racismo e chegou a entrevistar Lula, tinha como nomes do conselho editorial, entre outros: o artista plástico Darcy Penteado, o cineasta e escritor João Silvério Trevisan, o professor e pesquisador inglês Peter Fry e o novelista Aguinaldo Silva.

Sem dúvida o Jornal fez história pautando uma temática que muitos queriam por debaixo do tapete.

Em 2016, a cineasta Lívia Perez dirigiu e produziu um documentário sobre o tabloide. O filme tem depoimentos icônicos de artistas LGBTI+, como Laerte, Ney Matogrosso e Edy Star, além da participação de muitos dos que integraram o conselho editorial.

Separamos 5 edições com as reportagens mais marcantes do jornal. É impressionante perceber como pouca coisa mudou de lá pra cá e que cada vez mais é preciso expor ideias que conscientizem.

Você pode ler as edições na íntegra neste link.

Edição Zero: o começo de tudo

A primeira edição trazia um editorial intitulado “Saindo do Gueto” e mostrava de cara para que tinha surgido. Além disso, incluiu um ensaio de Darcy Ribeiro sobre homossexualidade (ainda escrito com o termo homossexualismo, comum à época).

A reportagem principal denunciava a demissão do jornalista Celso Cúri do jornal A última Hora, que frequentemente abordava o tema da homossexualidade em seus escritos.

Relações perigosas…

Nesta edição, de maio a junho de 1978, o destaque da capa era para uma reportagem de Antônio Crysósthomo sobre a noite e os perigos dos guetos. A chamada era um tanto sensacionalista e a reportagem reforçou alguns estereótipos e estigmas. Ainda assim, denunciava a violência sofrida pela comunidade LGBTI+ e a vida dupla que muitos eram obrigados a viver.

Travestis e a passeata “guei” de 240.000 pessoas

A edição de agosto-setembro de 1978 estampava a chamada: “Travestis! Quem atira a primeira pedra?”. A reportagem principal faz um perfil de Jorge Alves de Souza, ator que fazia shows travestido de mulher, Geórgia.

A edição inclui ainda a cobertura de uma passeata LGBTI+ que contou com 240 mil pessoas, em São Francisco, nos Estados Unidos.

A matança dos homossexuais

A edição de junho de 79 abordou a temática lésbica. Niuccia era acusada de matar Vânia, sua companheira, que havia se jogado do prédio onde moravam. O caso mudou de suicídio para homicídio após o delegado encontrar uma carta de Ninuccia, assinada como Nino, o italianinho.

A entrevista com Lula

Lula teceu comentários nada agradáveis em entrevista.

A edição de julho de 1979 incluía uma entrevista com Lula, lá no começo, encabeçando greves e movimentos com os metalúrgicos do ABC. O jornal fez um ping pong com ele e denominou o quadro de ABC do Lula, uma brincadeira com Lula do ABC, como a imprensa o chamava.

Suas respostas foram inquietantes e revelam um Lula imaturo, com opiniões conservadoras e retrógradas.

Você pode tirar suas próprias conclusões sobre a primeira publicação LGBTI+ do Brasil, lendo as edições, na íntegra. Acesse este link.

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