9 pessoas negras que lutaram (e lutam) pelos direitos LGBTI+

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6 min readMar 21, 2018
Foto: Bongani Mnguni/Getty Images

21 de março de 1960, Joanesburgo, África do Sul. Mais de 20 mil pessoas protestavam contra uma lei que obrigava a população negra a portar um documento que explicitava quais locais elas poderiam circular na cidade durante o regime do apartheid. Apesar de seu caráter pacífico, a manifestação foi violentamente reprimida pelo governo, com 69 mortos e 186 feridos e a tragédia ficou conhecida como “Massacre de Sharpeville”. Em memória ao episódio, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o dia 21/03 como o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial.

Para lembrar esta data, fizemos uma lista de nove pessoas negras que lutaram não só pela causa racial, mas também pelos direitos das pessoas LGBTI+, se preocupando com a sua interseccionalidade. Conheça um pouco daquelas e daqueles que combateram e ainda combatem a discriminação.

1) Angela Davis (1944)

Um dos nomes mais fortes do movimento negro, Angela Davis foi parte dos Panteras Negras. Nos anos 70, Davis foi presa e acusada de conspiração e homicídio, gerando comoção em torno da sua libertação, com o envolvimento de celebridades como os Rolling Stones, que escreveram a música “Sweet Black Angel” em sua homenagem.

Após 18 meses presa, ela foi finalmente inocentada e solta. Em sua militância, Davis colocava as questões das mulheres junto ao movimento negro — seu livro mais famoso, “Mulheres, Raça e Classe” trata justamente sobre isso. A professora e filósofa norte-americana declarou publicamente à revista “Out”, em 1995, que é lésbica.

Foto: Thomas Billhardt

“As raízes para o sexismo e a homofobia são fundadas nas mesmas instituições econômicas e políticas que servem para a fundação do racismo nesse país (…) Organizações lésbicas que são predominantemente brancas devem esforçar-se para entender os impactos específicos da homofobia em mulheres de cor ”

Trechos do livro Women, Culture & Politics, de Angela Davis

2) Huey P. Newton (1942–1989)

Um dos fundadores do Panteras Negras, foi um dos primeiros homens heterossexuais dentro do movimento a se posicionar a favor da união entre o movimento negro, o das mulheres e gays. Seu discurso, feito em 1970, criticava a homofobia e o machismo dentro da militância negra e colocava que essas lutas deveriam andar de forma paralela e em conjunto.

3) Joël Gustave Nana Ngongang (1982–2015)

Joël Nana foi um militante da causa LGBTI+ em diversos países na África, como Nigéria, Senegal, África do Sul e Camarões, sua terra natal.

Ele foi um dos fundadores do African Men for Sexual Health and Rights (AMSHeR) (em tradução livre, homens africanos pela saúde e direitos sexuais), que lidera campanhas de prevenção contra o HIV/AIDS com foco na população homossexual.

4) RuPaul (1960)

RuPaul Andre Charles é ator, modelo, drag queen e apresenta o reality show RuPaul’s Drag Race. RuPaul é considerada a drag queen mais bem sucedida nos Estados Unidos e, em 2017, foi incluída no anuário da Time como uma das 100 pessoas mais influentes no mundo. Sua indiferença em relação a pronomes de gênero é uma de suas marcas. Em sua autobiografia, ele coloca que “You can call me he. You can call me she. You can call me Regis and Kathie Lee; I don’t care! Just as long as you call me”.

O reality show apresentado por ele ajudou a trazer visibilidade para a cena drag e se tornou extremamente popular, estando atualmente em sua 11ª temporada.

5) Kasha Jacqueline Nabagesera (1980)

Kasha é ativista de direitos LGBTI+ na Uganda — país que estabeleceu leis para penalizar homossexuais em 2014. A legislação determina 14 anos de prisão para quem pratique “sexo homossexual” pela primeira vez; no caso de “homossexualidade agravada”, ou seja, repetidas vezes, pode ser condenado à prisão perpétua. Kasha é fundadora da organização “Freedom & Roam Uganda” e recebeu prêmios internacionais por sua atuação como defensora de direitos humanos.

Kasha para o TEDxLiberdade (legenda em português)

“Por isso, continuo arriscando minha vida para me manifestar e falar a verdade, porque ninguém vai falar se escondermos nossa cabeça na areia. E não sou a única que tem que viver com a ameaça de passar o resto da vida na prisão ou mesmo correr o risco de ser presa ao voltar ao meu país por falar aqui hoje. Somos muitos na África que estamos passando por isso. E não apenas na África, mas em todo o mundo”

6) Marielle Franco (1979–2018)

Foto: Mídia Ninja

Marielle Franco foi vereadora da Câmara do Rio de Janeiro como a quinta mais votada da cidade, com mais de 46 mil votos. Mulher, negra, nascida na favela da Maré, Marielle foi brutalmente assassinada no dia 14 de março, apenas alguns dias depois de denunciar a ação truculenta do 41º Batalhão da Polícia Militar na favela do Acari.

Em seu mandato, ela pautava principalmente a defesa de mulheres, da população negra e periférica e dos LGBTI+, comunidades a qual pertencia. Marielle deixou uma filha e uma companheira, com a qual ficou mais de 12 anos junto. Uma de suas últimas ações foi tentar incluir o dia da Visibilidade Lésbica no calendário oficial do Rio de Janeiro. A proposta foi reprovada pelos vereadores por dois votos de diferença.

7) Leci Brandão (1944)

Leci Brandão é cantora, compositora e entrou na política em fevereiro de 2010, se candidatando a Deputada Estadual pelo estado de São Paulo — na época, teve mais de 85 mil votos e foi reeleita em 2014. Suas principais pautas na política são a promoção da igualdade racial e o respeito às religiões de matriz africana. Leci foi uma das primeiras figuras públicas a falar abertamente sobre sua homossexualidade no jornal “Lampião da Esquina”, de novembro de 1978.

8) Léo Kret (1983)

Léo Kret foi a primeira mulher transexual a ser eleita dentro da política como vereadora de Salvador em 2008, sendo a 4ª mais votada. Antes disso, era cantora e dançarina; apenas em 2009 que conquistou o direito judicial de mudar seu nome civil. No final do ano passado, ela foi nomeada para ocupar o cargo de ouvidora da Secretaria Municipal da Reparação. Em entrevista, Kret declarou que:

“Como todo mundo sabe eu tive vários projetos de grande relevância na Câmara Municipal inclusive para o público LGBTI+. Com a minha nomeação, o prefeito está mostrando mais uma vez que não tem preconceito e com isso as pessoas estão vendo também que a equipe do prefeito tem uma transexual pra representar a classe.”

Foto: Facebook/Reprodução

9) Robeyoncé (1989)

Foto: OAB-PE Facebook/Divulgação

Robeyoncé Lima foi a segunda mulher trans no país a ser reconhecida pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pelo seu nome social e também a primeira advogada trans do Norte e Nordeste. Desde 2013, Robeyoncé pedia para que esse direito fosse concedido. Formada em direito pela Faculdade de Direito do Recife, a advogada também integra a Comissão de Diversidade Sexual e Gênero da OAB de Pernambuco.

Robeyoncé foi convidada para a primeira edição do TODXS Café, justamente para contar um pouco sua trajetória como mulher trans, nordestina e negra. A íntegra do bate-papo está aqui:

Tem mais indicações de pessoas negras que lutam ou lutaram pelas vidas de ambos os movimentos? Conta pra gente nos comentários!

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