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4 min readOct 28, 2020

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Por Pris Rosso

A diversidade vem ganhando espaço nas rodas de discussão nas empresas e outros espaços do mercado de trabalho, o que tem levado à inclusão de mais pessoas e à desconstrução de antigos preconceitos.

Entretanto, nem todas as pessoas têm se beneficiado igualmente destes processos de mudança, como é o caso das pessoas assexuais. A assexualidade é considerada uma orientação sexual e caracteriza-se pela ausência total ou parcial de atração sexual. Grosso modo, as pessoas ace (outra forma de chamá-las) não sentem atração sexual ou a vivenciam de forma parcial ou condicionada a outros fatores, como o envolvimento emocional com a outra pessoa.

Muitas pessoas assexuais sentem atração romântica, o que pode fazer com que elas desejem estar em um relacionamento. Essa atração romântica pode variar igualmente à atração sexual: podemos ter aces heterorromânticos, birromânticos, homorromânticos, panrromânticos, etc.

Entretanto, é importante dizer que há também pessoas arromânticas, que não sentem atração romântica total ou parcialmente.

Assim, por ser uma orientação de reconhecimento relativamente novo, ainda há muita desinformação à respeito.

Muita gente acredita que as pessoas assexuais são doentes ou sofreram algum trauma e por isso perderam a atração sexual, o que está longe de ser verdade. A assexualidade é apenas outra forma de experimentar as relações, tão válida quanto as outras, merecendo o mesmo respeito e compreensão.

“Ah! Mas eu não conheço nenhuma pessoa assexual”, você pode dizer. Bom, isto pode ser verdade ou você apenas não sabe que convive com uma pessoa ace porque muitas delas não falam sobre isso, pelo medo do estigma e das piadas que podem se seguir.

À primeira vista, muitas pessoas acreditam que as falas vexatórias disfarçadas de brincadeiras não têm impacto ou são menos importantes. Mas elas podem ser devastadoras para a saúde mental das pessoas, podendo gerar crises de ansiedade ou de depressão, por exemplo.

No mercado de trabalho, a situação se repete, com poucas pessoas assexuais participando dos grupos LGBTI+ dentro das empresas, por se sentirem pouco acolhidas. Aliás, os grupos vêm falhando em promover discussões sobre a assexualidade dentro destes espaços, deixando estas pessoas em uma situação de completa invisibilidade e até abandono.

Há muitos aspectos que podem ser incluídos nas rodas e estudos destes grupos e que estão relacionados, como a diferença entre atração sexual e romântica, as terminologias corretas, as vivências de pessoas assexuais, entre outros aspectos. Afinal, a inclusão começa nas pequenas ações, como usar as terminologias corretas para evitar mal entendidos e que as pessoas se sintam ofendidas.

Mesmo nos momentos de descanso, em que as pessoas colaboradoras têm a oportunidade de conversar e trocar experiências, as pessoas assexuais podem se sentir excluídas porque parte-se da premissa de que todas as pessoas sentem atração sexual.

Assim, os assuntos e piadas costumam girar em torno dessas experiências, podendo gerar desconforto e dificuldade de conexão entre a pessoa ace que não têm essa vivência. Se a pessoa é assexual e repulsiva e adversa ao sexo, a situação pode ser de ainda mais desconforto, em especial se a conversa se direcionar a ela.

De maneira semelhante, as pessoas assexuais que são casadas ou estão em um relacionamento sério podem optar por não falar sobre a sua realidade, uma vez que é bastante comum que as pessoas alossexuais (as que não são assexuais) se intrometam e façam comentários desrespeitosos sobre a realidade de seus relacionamentos.

Assim, a sensação de pertencimento das pessoas ace dentro dos grupos fica prejudicada, perpetuando uma sensação de exclusão e incompreensão que elas já experimentam em outros espaços, o que é tão prejudicial para a sua produtividade e desempenho quanto outras situações de extremo estresse no espaço de trabalho.

Ainda, para além das questões relacionadas ao pertencimento e à saúde mental, é essencial dizer que pessoas assexuais têm medo de sofrerem violência, como estupros corretivos, e por isso muitas vezes não se abrem sobre a sua orientação.

Por estas razões, é sempre importante tomar cuidado redobrado com o ambiente que está sendo criado dentro dos espaços de trabalho.

Quando falamos em um espaço inclusivo, estamos nos referindo à construção de um espaço de acolhimento que seja bom para todas as pessoas e no qual elas possam exercer a sua autenticidade e diversidade. Neste sentido, se as pessoas assexuais não estão sendo acolhidas, então o espaço ainda não está sendo inclusivo para todas as pessoas.

Por fim, vale destacar que não é necessário ser uma pessoa assexual para entender as demandas e respeitar a sua existência. Ser uma pessoa aliada e ajudar a criar espaços mais acolhedores é uma possibilidade que todas as pessoas têm, basta ter vontade, informar-se a respeito das causas e agir nos seus espaços.

Caso você tenha interesse, entre em contato com a TODXS e saiba mais sobre o trabalho da Consultoria voltado à Diversidade e Inclusão. Acesse a página ou escreva para consultoriatodxs@todxs.org.

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