Diêgo Lôbo
TODXS
Published in
4 min readNov 30, 2019

--

Nos últimos 30 anos, o diagnóstico e tratamento da aids avançou muito, dando às pessoas vivendo com HIV uma vida normal e saudável. “O HIV não é uma sentença de morte. Existe ainda esse imaginário na cabeça das pessoas. A Aids só se manifesta em quem não se trata. Atualmente, o HIV é encarado como uma doença crônica, que quanto antes a pessoa começa a se tratar e a tomar a medicação adequada, mais ela vai conseguir ter uma vida livre de doença, uma vida saudável, e vai ser apenas portadora do vírus”, afirma o infectologista Pedro Campana, da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Como foi lá atrás

Em 1991, quando chegou a 11 mil o número de casos notificados no país, o governo começou a adquirir antirretrovirais de farmacêuticas internacionais. Mas foi somente em 1996 que o Ministério da Saúde adotou uma política de distribuição gratuita obrigatória do coquetel de tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS), sendo o primeiro país no mundo a fazê-lo.

Desde 1998, os planos privados de saúde foram obrigados a também oferecer tratamento aos seus conveniados. Pressionado por ativistas e especialistas em saúde em 2007, o presidente Lula quebrou a patente de um dos principais medicamentos utilizados, rompendo um monopólio norte-americano e passando a produzi-lo em território nacional por 72% do preço pago no medicamento importado. Hoje, o SUS disponibiliza 21 tipos de medicamentos, em 37 apresentações farmacêuticas, que são adequadas de acordo com a necessidade de cada paciente. Em 2003, esse programa recebeu o Prêmio Gates de Saúde Global, de 1 milhão de dólares, da Fundação Bill & Melinda Gates, por seu desempenho em combater a epidemia.

A política de aids em 2019

A ameaça do retrocesso paira no ar. Desde as eleições de 2018 e durante esse ano, falas e mudanças na política sobre o HIV durante o governo Bolsonaro vem gerando preocupação em quem atua na área e quem precisa do SUS para receber a medicação.

A grande família tradicional
Luiz Henrique Mandetta, atual Ministro da Saúde, afirmou em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, antes de o governo Bolsonaro assumir, que as campanhas de prevenção contra o HIV não deveriam “ofender famílias”. Deixando o medo que temas como gênero e sexualidade passassem a ser menos abordados pelo governo.

Censura
No segundo dia de governo, uma cartilha dedicada à saúde de homens trans lançada pelo Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis), o HIV e Hepatites Virais foi retirada do site do Ministério da Saúde, sob a desculpa deque haviam informações equivocadas e sem embasamento científico. Um mês depois ela voltou ao site sem algumas informações.

Adele assumiu a direção do departamento em 2016 e em sua gestão, o País começou a adotar a profilaxia pré-exposição (PrEP), que prevê o uso de antirretrovirais não como tratamento do HIV, mas para prevenir a infecção.

Um novo chefe
Ainda em janeiro houve a exoneração da médica sanitarista Adele Benzaken da direção do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis), do HIV e Hepatites Virais do Ministério da Saúde. Ela foi substituída pelo sanitarista Gerson Pereira, o Ministério da Saúde atribuiu a mudança a uma “renovação da equipe”, sem deixar claro a necessidade da renovação.

A mudança começa pelo nome
Em maio, um decreto do governo federal alterou as estruturas das instituições ligadas ao Ministério da Saúde dedicadas à luta contra a disseminação do vírus HIV. A partir desse decreto o nome deixou de ser Departamento de IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis), Aids e Hepatites Virais e passou a se chamar Departamento de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. A alteração foi altamente criticada por grupos que trabalham na área, mas o governo afirmou que o combate ao vírus não seria deixado de lado.

Offline
No final de julho, o governo federal parou de atualizar as redes sociais ligadas ao Departamento de IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis), Aids e Hepatites Virais, e todas outras secretárias e departamentos, dizendo que as noticias passariam a ser divulgadas no perfil do Ministério da Saúde.

Campanha de prevenção
No dia 29 de novembro, lançando o boletim Boletim Epidemiológico 2019 — HIV/Aids, o governo lançou uma nova campanha de prevenção. De acordo com o site do Ministério “o foco é incentivar pessoas que não se preveniram em algum momento da vida a procurar uma unidade de saúde e realizar o teste rápido.”

Dados de 2019

De acordo com o boletim epidemiológico lançado nesta semana, a infecção por HIV cresce mais entre os jovens. A maioria dos casos de infecção no país é registrada na faixa etária de 20 a 34 anos, com 18,2 mil notificações (57,5%).

Em relação aos casos de aids, quando a pessoa desenvolve a doença, o Ministério da Saúde estima que 12,3 mil casos foram evitados no país, no período de 2014 a 2018. O dado foi calculado com base na taxa de casos de aids em 2014, caso ela se mantivesse ao longo desse período até 2018. Nesse mesmo período houve queda de 13,6% na taxa de detecção de casos de aids, sendo 37 mil casos registrados em 2018 e 41,7 mil em 2014. Em toda série histórica, a maior concentração de casos de aids também está entre os jovens, em pessoas de 25 a 39 anos, de ambos os sexos, com 492,8 mil registros.

Clique na imagem para saber como se prevenir, onde fazer os exames e onde conseguir tratamento gratuito

--

--

Diêgo Lôbo
TODXS
Writer for

Ativista de direitos humanos, saúde e meio ambiente.