Colorindo o passado: Virginia Woolf

Matheus Freitas
TODXS
Published in
5 min readAug 25, 2020

Você talvez conheça Virginia Woolf pelos seus famosos livros, como ‘Mrs Dalloway’ e ‘Ao Farol’, ou pelo seu fim de vida trágico, cometendo suicídio, mas a vida da escritora foi muito mais do que isso.

Adeline Virginia Stephen, como foi batizada, nasceu em 25 de janeiro de 1882 em Londres. Ela ganhou o sobrenome Woolf em 1912 quando se casou com o historiador Leonard Woolf. O casal tinham sua própria editora e faziam parte do Grupo de Bloomsbury, que existiu entre 1905 até o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945.

Os membros da congregação moraram, trabalharam ou estudaram no bairro londrino de Bloomsbury. Eram mais um bando de intelectuais contrários às convenções da vida Vitoriana e aos hábitos burgueses. Em contrapartida, eles acreditam no prazer — e isso até rendeu diversos casos amorosos entre eles.

Um caso lésbico

Um dos casos do grupinho de Bloomsbury foi o de Virginia com a poetisa Vita Sackville-West. Duas mulheres casadas com homens que nutriram uma relação amorosa intensa.

Vita Sackville-West e Virginia Woolf

O caso entre as duas serviu de inspiração para Woolf escrever Orlando. Nesta obra, a autora trata sobre a sexualidade de uma forma única: além da questão física, as fronteiras transcendentais avançam também no quesito gênero — Orlando é homem e é mulher, por isso suas vivências e percepções mudam de acordo com a sua experiência com determinado gênero.

As duas se conheceram em 1922 e o affair acabou em 1927 ou 1928, e mesmo depois da paixão, permaneceu entre elas uma terna amizade até o momento do suicídio de Woolf, em 1941. As provas desse romance estão em cartas trocadas pelas duas escritoras (documentadas no livro The 50 Greatest Love Letters of All Time).

Em uma delas, Woolf diz para Sackville-West largar o seu marido

“Olhe aqui, Vita — largue o seu homem, e nós iremos para Hampton Court, jantaremos juntas à beira do rio, andaremos no jardim à luz da lua, voltaremos para casa tarde e abriremos uma garrafa de vinho e ficaremos embriagadas para que eu possa te dizer todas as inumeráveis coisas que tenho em minha cabeça — elas não saem durante o dia, apenas no escuro do rio. Pense nisso. Largue o seu homem, eu digo, e venha.”

De acordo com uma matéria publicada pelo HuffPost Brasil, as cartas se transformaram em documentos históricos e revelam, inclusive, o fato de que os maridos sabiam da relação das duas, mas pareciam não dar importância.

Uma das últimas cartas de Woolf à sua amante foi escrita em 1940, enquanto a Grã-Bretanha sofria bombardeios aéreos das tropas alemães.

“Lá está você sentada com as bombas caindo ao seu redor. O que se pode dizer, exceto que eu te amo e eu tenho que viver durante esta noite calma e estranha pensando em você sentada ali sozinha. Querida, deixe-me ter só mais uma linha… Você me deu tanta felicidade!”

Casamento é sobre parceria

De acordo com uma matéria publicada pela revista Galileu, a vida de Virginia foi marcada por tragédias. Aos 13 anos ela vivenciou a morte da sua mãe, sua irmã mais velha assumiu o papel da mãe mas faleceu em sua lua de mel. Alguns anos depois seu pai morreu de câncer e ainda há alguns biógrafos que dizem que Virginia sofreu episódios de abuso aos seis anos de idade por dois irmãos mais velhos. Acredita-se que esses episódios possam ser a causa de seus episódios depressivos e eventual suicídio.

Embora tenha sofrido vários traumas e tenha tido um caso extraconjugal, parece que sua relação com seu marido vinha de sentimento de extremo carinho. Em 28 de março, antes de encher seus bolsos com pedras e se afogar no Rio Ouse, próximo à sua casa, deixou um bilhete para seu marido, Leonard:

“Querido,
Tenho certeza de que enlouquecerei novamente. Sinto que não podemos passar por outro daqueles tempos terríveis. E, desta vez, não vou me recuperar. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Por isso estou fazendo o que me parece ser a melhor coisa a fazer. Você tem me dado a maior felicidade possível. Você tem sido, em todos os aspectos, tudo o que alguém poderia ser. Não acho que duas pessoas poderiam ter sido mais felizes, até a chegada dessa terrível doença. Não consigo mais lutar. Sei que estou estragando a sua vida, que sem mim você poderia trabalhar. E você vai, eu sei. Veja que nem sequer consigo escrever isso apropriadamente. Não consigo ler. O que quero dizer é que devo toda a felicidade da minha vida a você. Você tem sido inteiramente paciente comigo e incrivelmente bom. Quero dizer que — todo mundo sabe disso. Se alguém pudesse me salvar teria sido você. Tudo se foi para mim, menos a certeza da sua bondade. Não posso continuar a estragar a sua vida. Não creio que duas pessoas poderiam ter sido mais felizes do que nós.”

Legal, quero saber mais!

O relacionamento de Vita e Virginia ganhou uma adaptação cinematográfica. “Um Romance nas Entrelinhas” (Vita e Virginia) foi escrito pela atriz Eileen Atkins, baseado no texto da peça da peça Vita & Virginia escrita pela própria, e a direção ficou por conta da Chanya Button, a mesma de Burn Burn Burn. A atriz Gemma Arterton interpretou Vita e a atriz Elizabeth Debicki assumiu o papel de Virginia Woolf. O filme está disponível no TelecinePlay (aproveita que os 30 primeiros dias são grátis).

O filme “As Horas”, com Nicole Kidman no papel de Virginia, conta a parte da vida da escritora em que tentava escrever o livro Mrs. Dalloway enquanto sofria de depressão e era atormentada por ideias suicidas. Kidman ganhou o Oscar de melhor atriz pelo papel.

Agora, caso você queira ler as obras de Virginia, a Vogue preparou essa lista com algumas que você precisa ler (SPOILER: Orlando está na lista ❤).

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