Embaixadorxs do Programa de Embaixadorxs da TODXS

Dia da Visibilidade Trans: projetos para se inspirar

Vem conhecer alguns projetos desenvolvidos no TODXS Embaixadorxs!

Vitor Garcia de Oliveira
Published in
6 min readJan 29, 2020

--

O ano de 2020 começou com dois casos de transfobia que ganharam repercussão nacional. Ambos envolveram algo que deveria ser muito simples e é básico para qualquer ser humano: o direito de ir ao banheiro.

O primeiro aconteceu na cidade de Feira de Santana, que fica a cerca de 100km de Salvador. Catarina Paraguaçu, mulher trans, foi impedida de usar o banheiro feminino no bar 4 Estações, que fica no bairro Feira VI. Durante a discussão que se seguiu ao ocorrido, a jovem conta, em uma reportagem da TV Subaé, que o gerente do estabelecimento chegou, inclusive, a dizer que ela era um homem.

O segundo caso, que ganhou grande destaque depois do posicionamento de pessoas com projeção nacional, como Thammy Gretchen, Lorelay Fox e Pepita, envolveu também uma mulher transgênero sendo impedida de usar o banheiro feminino. Dessa vez, o estabelecimento transfóbico foi o Shopping Pátio, de Maceió.

Em um vídeo, bastante compartilhado à época, Lanna Hellen aparece fazendo um discurso de repúdio em cima de uma mesa no shopping após ser expulsa do banheiro por seguranças e arrastadas pelos corredores do shopping. Em um dos vídeos, é possível inclusive escutar um dos seguranças dizendo: “Minha filha, primeiro não é ela. É um macho! É um homem!”.

Essa violência foi seguida por um grande ato de repúdio no shopping, que mostrou a força da comunidade LGBTI+ quando nos unimos para combater atos LGBTfóbicos.

Em meio a cenários como esse, é importantes darmos visibilidade e projeção para as violências que nos afetam todos os dias. Mas não podemos permitir que nos deixem falar apenas sobre as nossas cicatrizes, né Pabllo Vittar?

Por isso e para mostrar a força que os trabalhos feitos por pessoas LGBTI+ têm no Brasil, selecionamos alguns projetos desenvolvidos durante 2019 que enchem nossos corações de força: todos, especificamente, feitos por ou para pessoas trans!

Os projetos foram apresentados durante o TODXS Embaixadorxs, nosso programa que tem o objetivo de conectar e capacitar jovens líderes LGBTI+ de todo o Brasil buscando a transformação de suas realidades e comunidades. Durante cinco meses, o grupo de pessoas selecionadas participaram de formações online sobre movimento LGBTI+, seus desafios e temas atuais, além de oficinas de empreendedorismo, ferramentas de projetos, comunicação e liderança.

“Eu tive a chance de ver o número de pessoas trans no Embaixadorxs aumentar ao longo do tempo e conheci os projetos maravilhosos voltados para a nossa população. No último ano, tivemos 4 projetos em específico. Isso tudo me motiva cada vez mais a estar dentro da TODXS e poder continuar impactando e vendo pessoas trans, como eu, do Brasil todo serem vistes e reconhecides!”, conta Thomas Nader, atual voluntário da TODXS e que entrou na organização como embaixador em 2018.

No ano passado, em paralelo ao projeto de Embaixadorxs, a TODXS realizou um treinamento para 80 professores sobre pessoas trans em escolas do ensino público. Falando nisso, aproveite para ler aqui coisas que você deve saber sobre pessoas trans:

Conheça abaixo os três projetos que selecionamos pra você!

Desfile realizado pelo Ateliê TRANSmoras na Casa de Criadores, que reuniu mais de 10 estilistas trans.Foto: MArcelo Soubhia/ FOTOSITE

Ateliê TRANSmoras

Embaixadorx: Antônia Moreira (SP)

O Ateliê TRANSmoras existe desde 2013 como espaço de convívio de pessoas LGBTI+ e, desde 2017, como coletivo de produção artística. Foi fundado por Vicenta Perrotta, artista, estilista e ativista. Como estilista, Vicenta começou a dar voos mais altos, e as pessoas que passavam pelo Ateliê começaram a se profissionalizar em moda, comunicação e gestão por meio do trabalho dela, que crescia e precisava cada vez mais de uma boa produção.

“Chegamos ao ponto que o Ateliê vai além de uma marca de roupas ou apenas do trabalho da Vicenta, pois concentramos formas de arte diferentes e oportunidades de formação e Jobs remunerados para diversas pessoas, principalmente pessoas trans”, conta Antônia Moreira. “Nós damos cursos de corte e costura e no ano passado decidimos que as pessoas que passam pela nossa formação podem contribuir também com a marca e a produção do Ateliê, capitalizando essa mão de obra única. Assim, conseguimos produzir mais roupas — todas feitas de descartes têxteis — , gerar renda, profissionalizar pessoas trans e dar autonomia a elas para encararem seus próprios desafios em empreendimentos próprios, seja na moda, nas artes ou na comunicação.

No ano passado, o Ateliê TRANSmoras realizou um desfile na Casa de Criadores que reuniu mais de 10 estilistas trans junto à marca criada por Vicenta dentro do Ateliê, a VP. Para este ano, o Ateliê se prepara para ter o seu próprio e-commerce, novos meios de distribuição da produção e, principalmente, impactar a vida de mais pessoas.

“Para mim, que entrei em 2018, a oportunidade de trabalhar com outras travestis, pessoas não-binárias e pessoas trans é enriquecedora e única, uma vez que em todos os espaços do mercado de trabalho as pessoas cis são maioria. Sinto que estamos construindo algo de pessoas trans para nós mesmas, num ato revolucionário de autopreservação e apoio. Minha vida é diferente desde que conheci todas essas gatas e sou imensamente grata em poder contribuir com o planejamento, a comunicação e a logística de tudo isso.” (Antônia Moreira)

Embaixadorxs do Projeto Trans Espaços na Conferência de 2019.

Trans Espaços

Embaixadorxs: Brenn Souza (AC), Thomas Victor Cardoso (SP) e Caroline Holanda (AM)

O TransEspaços foi pensado e desenvolvido para o público trans, travesti e não-binário, que devida a não-cisgeneridade sofre violências físicas, psicológicas e verbais em atendimentos, principalmente os relacionados à saúde. O projeto faz um mapeamento nacional de profissionais e estabelecimentos que possuem capacitação e realizam um atendimento seguro para esse público.

A plataforma online trará informações sobre a saúde, como procedimentos relacionados à adequação de gênero e cuidados com a saúde em geral. O profissional capacitado poderá se cadastrar, inserindo suas informações, mas todos os cadastros passarão por uma análise antes de serem liberados.

“Enquanto travesti em processo de auto-hormonização, a plataforma acaba servindo até mesmo pra que eu encontre profissionais que possam me atender ou então incentivá-los a buscarem entendimento melhores sobre pessoas trans”, conta Brenn Souza.

Posteriormente, o grupo pensa em ampliar o projeto para abranger outras modalidades de locais seguros, empregos e projetos sociais ligados ao público trans, como casas de acolhimento.

No momento, o projeto se encontra em fase de busca de patrocinadores e de inscrição de colaboradores voluntários e profissionais da saúde.

“Esse projeto se torna especial por partir de uma realidade que também é vivenciada por mim, e por estar em contato direto com outras pessoas trans que sofrem violências mais graves e constrangimento sofrido por um atendimento não-humanizado ou um profissional despreparado. Muitos acabam optando por automedicação e auto acompanhamento, podendo gerar muitos problemas de saúde posteriormente. Além dos exames de rotina, que deixam de ser realizados por medo ou até mesmo falta de informação.” (Thomas Victor Cardoso)

Naomi Maratea apresentando o Projeto É LEI GBT na Conferência de Embaixadorxs 2019.

É LEI GBT

Embaixadorx: Naomi Maratea (SP)

Diante da crescente narrativa de políticos e pessoas com poder em geral, abraçadas a bíblias, darem declarações que contrariam evidências científica e/ou jurídica já bem consolidadas e utilizando desses “achismos” para projetar seu preconceito e ódio, o projeto busca construir uma rede de “True News”, em formato de site e rede social, que deve posteriormente, torna-se uma revista virtual. A Embaixadore contou com sua formação em Ciência Jurídica e sua paixão por artigos científicos para começar o projeto.

O que a inspirou foi a leitura de um artigo científico escrito pelo mestrando em medicina Giancarlo Spizziri da Universidade de São Paulo, no qual ele analisa o cérebro de mulheres trans com e sem tratamento hormonal e os compara com o cérebro de homens cis e mulheres cis. O autor do artigo, em sua pesquisa, descobriu que mesmo as mulheres trans que nunca fizeram tratamento hormonal possuem características em seu cérebro que as podem diferenciar dos homens cis e assemelhar às mulheres cis.

--

--