Onde estão as pessoas negras na sua empresa?

Bia Avila
TODXS
Published in
4 min readOct 13, 2018

Na maior parte das companhias, na base. A liderança ainda é dominada por pessoas brancas — mesmo em países em que a maior parte da população se identifica como negra ou parda, como é o caso do Brasil. Ao mesmo tempo em que temos 55% de pessoas se declarando como negras e pardas, de acordo com o IBGE, a liderança das maiores empresas brasileiras é composta por 6,3% de negros em cargos de gerência e 4,7% em quadros executivos (Instituto Ethos).

O dado confirma algo visível em reuniões dentro das empresas: a maioria dos participantes é homem, branco e cisgênero.

Até mesmo nas fotos de banco de imagem vemos poucas pessoas negras quando digitamos “reunião de negócios” no Google.

E por que isso acontece?

Essa é uma das faces mais marcantes da falta de diversidade racial no setor privado. O problema é complexo e envolve a história brasileira após a abolição, racismo e falta de políticas de inclusão.

O Brasil foi o último país do mundo a proibir a escravidão de pessoas negras, em 13 de maio de 1888, quando foi promulgada a Lei Áurea. O problema é que, a partir do momento, não houve qualquer preocupação em incluir essas pessoas negras na sociedade. O trabalho assalariado foi majoritariamente destinado a imigrantes brancos que chegavam incentivados pelo próprio governo brasileiro para trabalhar nas fazendas. O acesso à terra também foi dificultado.

Para o site Geledes (incrível portal que aborda questões raciais), Luiza Bairros, ex-ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), declarou que:

“Naquele momento [da abolição], faltou criar as condições para que a população negra pudesse ter um tipo de inserção mais digna na sociedade”

O preconceito racial ainda dificultava esse processo: na época, teorias sobre a superioridade da raça branca estavam muito fortalecidas (infelizmente, isso acontece até hoje). Por isso, não houve qualquer movimento de inclusão. Os ex-escravos foram trabalhar nos subempregos, em bicos temporários ou mesmo ficavam desempregados. Sem dinheiro, não conseguiam pagar um pedaço de terra ou uma habitação digna: assim, foram largados à própria sorte, completamente marginalizados. A Proclamação da República veio um ano depois da Lei Áurea: mesmo assim, continuou sendo um governo focado apenas na elite, excludente principalmente com negros.

E hoje? Como estamos em relação a igualdade racial?

Reparar essa injustiça histórica é algo muito recente na história da política brasileira. Hoje, temos mais universitáries negres — em dez anos, o número dobrou. Em 2005, representavam apenas 5,5% dos estudantes. Em 2015, já eram 12,8%, segundo estatísticas do IBGE.

A lei das cotas nas universidades, sancionada em 2012 (embora algumas escolas já adotassem o modelo desde 2003), além do aumento na renda das classes C, D e E nos últimos anos, foram processos que impactaram diretamente nesses dados. Ainda assim, estamos longe de conseguir um ambiente universitário que reflita de fato a representação da sociedade.

Em termos de salário e renda, encontramos abismos. Mesmo com o mesmo nível de graduação (superior completo), a média de salário de pessoas brancas é 47% maior do que de pessoas negras, segundo a Relação Anual De Informações Sociais (Rais). A diferença salarial aumenta quando comparamos mulheres negras e homens brancos, como já falamos neste texto sobre desigualdade de gênero.

A discriminação racial, mesmo que tenha virado crime inafiançável (bem tarde, em 1988, junto com a promulgação da atual Constituição Brasileira), nunca parou:

O que minha empresa pode fazer?

Algumas medidas são fundamentais para tornar uma organização mais diversa do ponto de vista racial. Confira a lista para saber mais:

  1. Ter políticas afirmativas, com foco na contratação de pessoas negras, é algo positivo — garantir metas de atração na contratação auxilia nesse processo;
  2. Na parte de inclusão, investir em campanhas de comunicação interna de apoio à diversidade;
  3. Treinamentos para todas as equipes é essencial para que se combata vieses inconscientes não apenas nos processos seletivos, mas também no dia a dia de colaboradores;
  4. Estabelecer canais de denúncia anônimos e avaliar com rigor esses casos de discriminação é importante para garantir um ambiente seguro e inclusivo para todes.

Fontes:

País ainda precisa avançar no combate ao racismo (2017) / notícia institucional da Procuradoria Especial da Mulher (site do Senado)

130 anos após abolição, população negra ainda sofre com a desigualdade (2018) / Reportagem do jornal Correio Braziliense

História — O destino dos negros após a Abolição (2001) / Gilberto Maringoni, site do IPEA

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