Drag é arte, é ativismo e é para todxs!

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4 min readApr 26, 2018

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RuPaul. Fonte: https://bit.ly/2FgOlFT

Quando você ouve o termo drag queen, qual imagem vem à sua mente? Um homem vestido com roupas de mulher? Alguém com maquiagem exagerada e salto alto? RuPaul? Pabllo Vittar? Sim! Todas essas associações são válidas e muito comuns.

Desde a Grécia antiga, com o surgimento do teatro, homens usavam vestidos para representar papéis femininos nas peças, já que as mulheres eram proibidas de atuar. Alguns defendem que o próprio termo “drag” seja uma abreviação de “dressed as a girl”, ou “vestido como garota” no português, e que foi o próprio Shakespeare quem cunhou esse termo. Outros dizem que a origem está no verbo “to drag” do inglês, que em português significa arrastar, fazendo referência aos longos vestidos que se arrastavam pelo chão.

Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons

Mas não se deixe limitar. Drag vai muito além dessa simples definição de homens vestidos como mulher. O conceito de drag como uma forma de arte ligada à cultura LGBTI+ teve início nos anos 30, quando bares LGBTI+ começaram a surgir nos Estados Unidos. Os homens gays encontraram na performance drag uma forma de entretenimento e assim surgiam as drag queens. Tal como hoje, suas performances envolvem música, atuação, dança, comédia e várias outras facetas artísticas, o que faz de drag uma das mais completas formas de arte.

Nos anos 60, com grande perseguição conservadora à comunidade LGBTI+, um homem que fosse pego usando muitos itens do vestuário feminino poderia ser preso. Em meio a tal perseguição, ocorrem em 1969 na cidade de Nova York os protestos de Stonewall, onde pessoas LGBTI+ que estavam no bar Stonewall Inn resolvem resistir à violência policial. Entre essas pessoas, estavam drag queens famosas da região, como Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera, o que contribuiu para que drag se tornasse também símbolo importante na luta pelos direitos LGBTI+. O documentário “A Morte e Vida de Marsha P. Johnson” (2017), lançado pela Netflix, evidencia essa importância.

Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera em protesto nas ruas de Nova York. Disponível em: https://bit.ly/2JpwcrM

Daí em diante, diferentes estilos de drag já circulavam na cena underground, cada um com sua intenção específica. Seja no entretenimento ou no ativismo, nos bares ou na TV, drag brincava com todos os estereótipos de gênero, não se encaixando necessariamente em nenhum.

Um dos maiores nomes drag da década de 70, Divine ficou conhecida por suas atuações nos filmes trash de John Waters, como “Pink Flamingos”. Apesar de ser uma personagem feminina, a aparência de Divine não se enquadrava exatamente no estereótipo feminino, o que ampliava ainda mais sua imagem transgressora. Outro exemplo são as drags Club Kids, que agitaram Nova York nos anos 90 com seu senso de moda extravagante e completamente fora dos padrões de gênero.

Divine em cena de Pink Flamingos (esquerda) e Club Kids (direita). Disponível em: https://bit.ly/2HU6IG0 e https://bit.ly/2I1yPR1

Na mesma época, as mulheres começam a ter mais visibilidade no mundo drag, seja como drag queens ou por meio dos drag kings, que é quando uma mulher se caracteriza de forma a personificar estereótipos masculinos. Mas a participação de mulheres em drag, tanto cis como transgêneras, remonta dos primórdios dessa arte, o que evidencia o fato de que drag transpõe as fronteiras de gênero. O reconhecimento dessa quebra de barreiras é importante para que não haja preconceito dentro da própria comunidade LGBTI+ contra mulheres que fazem drag.

Vlada Vitrova, mulher cis e drag queen brasileira (esquerda) e Drag Kings (direita). Disponível em: https://bit.ly/2r0UmkS e https://bit.ly/2JqrDgM

Com um espaço e reconhecimento cada vez maiores, o impacto da arte drag em questões como a quebra dos padrões de gênero e a liberdade LGBTI+ também aumenta. Quanto mais visibilidade artistas drag têm, mais essas questões aparecem e podem ser discutidas. Hoje, a arte drag já vai além inclusive da comunidade LGBTI+. Acredite ou não, mas existem até homens heterossexuais que fazem drag! Programas de TV com a temática drag, como RuPaul’s Drag Race, e shows de drag queens como Pabllo Vittar já alcançam um público diverso, de todos os gêneros e todas as sexualidades. Que daqui para frente, esse alcance só aumente e que todxs possam curtir e refletir sobre essa arte maravilhosa chamada drag!

E você? Já fez drag ou tem algumx que admira?

Pabllo Vittar. Disponível em: https://bit.ly/2HZVBbP

*Texto por: Victor Muniz, Analista de Projeto da TODXS. Victor também tem um canal no YouTube sobre RuPaul’s Drag Race.

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