Empregabilidade trans: 3 dicas para ingressar no mercado de trabalho

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6 min readFeb 13, 2021

Por Carla Luã Eloi

A temática de empregabilidade trans tem sido cada vez mais urgente no Brasil, tendo em vista que, além de ser líder mundial no ranking de assassinato de pessoas trans, o País também ostenta outro número alarmante: o de pessoas trans em prostituição, contabilizando 90% da população trans brasileira.

Apesar disso, a realidade do mercado de trabalho tem mudado positivamente para pessoas trans, já que agora as empresas buscam cada vez mais diversidade em suas equipes.

Por isso, preparamos algumas dicas para pessoas trans se prepararem para o mercado de trabalho, seja o primeiro emprego, seja para buscar uma nova oportunidade de trabalho.

As empresas buscam diversidade?

Segundo dados da Boston Consulting Group (2018) e da Harvard Business Review (2013 e 2018), 70% das empresas que investem em políticas de inclusão e diversidade se tornam mais propensas a capturar novos mercados.

Empresas com diversidade em suas equipes de gerenciamento obtém cerca de 19% de aumento das receitas. De acordo com um levantamento feito pela Deloitte (2013), equipes mais inclusivas superam as demais nas avaliações de desempenho de equipe em 80%, trazendo mais engajamento.

Esses dados são apenas alguns dos principais norteadores para as empresas que buscam implementar e/ou aprimorar suas políticas de diversidade e inclusão, já que ela é comprovadamente uma vantagem competitiva, além de uma ação de impacto e responsabilidade social.

Muitas empresas buscam apoios de serviços de consultoria em diversidade e inclusão, como a Octagon Brasil, a Gerdau e a Whirlpool.

Elas implantaram seus projetos de diversidade e inclusão com a TODXS Consultoria, com a realização de censos e diagnósticos da cultura organizacional, capacitações e ações educativas na empresa, revisão de políticas internas, dentre outras importantes ações para garantir maior empregabilidade de grupos historicamente minoritários nos espaços corporativos.

Algumas das ações para trazer diversidade e inclusão para o ambiente corporativo são:

  • Capacitação de equipes de recrutamento e pessoas em cargos de liderança para desfazer vieses inconscientes;
  • Ações educativas e de conscientização com todas as pessoas colaboradoras;
  • Criação de banco de talentos exclusivos para grupos como pessoas negras, mulheres ou pessoas trans;
  • Programas de desenvolvimento de pessoas colaboradoras desses recortes para prepará-las para vagas de liderança.

Essas e outras ações conjuntas para a formulação e prática de políticas de diversidade e inclusão promovem não apenas o ingresso de pessoas LGBTI+, pessoas com deficiência, mulheres, pessoas negras e recortes geracionais no mercado de trabalho, mas também moldam a cultura e o clima organizacional, construindo um ambiente saudável e acolhedor que permita a permanência desses grupos nas empresas.

1) Pesquise sobre as empresas

Pode parecer óbvio, mas não é. Dada a realidade do desemprego e as estatísticas da população trans em subempregos ou mercado informal, muitas pessoas trans fazem o cisplay, uma prática inspirada na cultura do cosplay que é se vestir e agir como um personagem ficcional.

O cisplay acontece quando uma pessoa trans se veste e age como se fosse cis, se submetendo a ser tratade por um nome e pronomes que não se identifica.

Apesar de ser extremamente tóxica para saúde mental, o cisplay muitas vezes parece ser a única opção de sobrevivência, para garantir a aprovação em processos seletivos, entrevistas, conseguir e manter um emprego.

Por isso, pesquisar sobre as empresas para cujos cargos você está se candidatando faz toda a diferença.

Busque saber sobre suas políticas de inclusão e diversidade, seu histórico de atendimento a pessoas consumidoras, reclamações sobre preconceito ou discriminação ocorridos dentro da empresa.

Se possível, converse com pessoas conhecidas que trabalham na empresa. Sinta o clima organizacional e procure entender se é um espaço seguro em que você possa ser você mesme e ter o respeito das pessoas por isso.

É importante também buscar informações para saber se é um processo seletivo idôneo, onde o que será levado em consideração são suas competências e habilidades profissionais.

Isso não apenas para ter certeza que poderá se apresentar com seu nome social já no processo seletivo, mas para saber se você terá um ambiente de trabalho saudável ou tóxico.

Lembre-se, as empresas avaliam candidates pelo currículo, portfólios ou até redes sociais para saber se você atende ao perfil da vaga. Mas você também deve avaliar a empresa para saber se a organização atende ao seu perfil.

Busque no próprio site da empresa sobre políticas de inclusão e diversidade, responsabilidade social.

Procure entender se a empresa possui um banco de talentos para pessoas trans, veja as publicações e comentários nas redes sociais da empresa e avaliações de pessoas consumidoras na internet sobre o atendimento.

Outra opção é verificar se a empresa é parceira de alguma ONG ou startup social LGBTQI+ e se possui algum selo de diversidade e inclusão.

A Great Places to Work realiza anualmente o ranking das 10 melhores empresas para trabalhar. Desde 2018, o selo tem um ranking especial de 10 melhores empresas para LGBTQI+.

Esse selo considera, dentre outras coisas, as práticas das empresas e a avaliação das pessoas funcionárias que se identificam como LGBTQI+.

Outra opção é ir direto a fonte, procurar vagas e empresas na Transempregos, uma plataforma que conecta vagas apessoas trans que buscam uma oportunidade.

Dessa forma, as vagas ofertadas em todo o território nacional são exclusivas para pessoas trans ou trans inclusivas. Além disso, a Transempregos oferece capacitações gratuitas para pessoas trans em várias áreas, inclusive, em montagem de currículo e preparação para entrevista.

2) Seja paciente

Conseguiu a vaga? Que ótimo! Mas lembre-se sempre que não existe mundo perfeito. Mesmo em empresas abertas à inclusão e diversidade, o ambiente é feito de pessoas e pessoas podem ou não estar alinhadas aos valores da empresa.

Elas podem estar dispostas a aprender sobre realidades que não vivem ou não. Por isso, seja paciente. Pode haver pessoas na empresa que não conhecem ou entendem sobre o universo LGBTI+.

Se institucionalmente a sua empresa possui políticas de inclusão e diversidade, ao se deparar com colegas que têm dúvidas ou falas não intencionalmente discriminatórias, o caminho pode ser o diálogo pontual ou propor que a empresa realize ações educativas e de conscientização. Assim, você pode ser também parte da mudança pela qual a empresa está passando.

Não fique tanto na defensiva, pressupondo que todas as pessoas são preconceituosas.

Às vezes elas apenas não tem tanto conhecimento sobre o universo trans quanto você e podem ter dificuldades em entender algumas coisas de primeira.

Sempre sinta o ambiente, perceba se alguma fala é acidentalmente preconceituosa e corrija sempre com respeito e educação.

Mas se notar que se trata de discriminação deliberada em falas ou ações, acione chefias e canais de denúncia da empresa. A depender do caso, acione também órgãos públicos de denúncia, como o disque 100 e o TODXS App.

3) Não se acomode com o que incomoda

A jornada da pessoa trans no mercado de trabalho é uma bola de neve. Começa com a evasão escolar, motivada pelo bullying.

De acordo com dados da Antra (2017), 4 a cada 5 pessoas trans largaram os estudos ainda no ensino fundamental.

Por formar uma população que está majoritariamente descapacitada academicamente para disputar um lugar no mercado de trabalho formal, temos como resultado o número alarmante de pessoas trans em prostituição, subemprego e mercado informal.

Por isso, mesmo que você esteja num desses cenários ou até mesmo no mercado formal, mas tendo que fazer cisplay ou sofrendo inúmeras discriminações, acredite que dias melhores virão e não se acomode.

Trace uma estratégia para poder sair dessa situação tóxica, mas sem perder a sua estabilidade financeira.

Aguente um pouco mais nesse emprego e busque cursos de capacitação, qualificação, profissionalizantes, faculdade, o que fizer sentido para você.

Busque também redes de apoio e acolhimento, para conseguir forças para persistir e apoio para não desistir do que você deseja, como grupos e fóruns para pessoas trans, terapia e centros de referência LGBTI+.

Não acredite que uma situação medíocre é tudo o que você merece ou é capaz de alcançar.

Muitas vezes ouvimos que emprego nenhum vale a saúde mental, mas para quem corre o risco de passar fome e perder sua casa, essa frase pode ser irritante de ouvir.

Porém o que ela significa é: crie uma estratégia para priorizar sua saúde mental e não depender mais desse emprego tóxico. Essa estratégia é buscar algo melhor e parte dela pode ser permanecer onde está, mas se preparando para sair, estudando, se capacitando e enviando currículos. É um plano que você cria e corre atrás para executá-lo.

Há inúmeras plataformas online que oferecem cursos gratuitos com certificação, como a própria Transempregos, Sebrae e várias outras. Além de canais no Youtube, blogs e até aplicativos de ensino de idiomas, informática e outras habilidades que não requerem certificação.

Invista em você e se prepare para um futuro melhor, com melhores oportunidades no mercado de trabalho.

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