LGBTI: nem festinha, nem viagem, nem date — a ordem é ficar em casa

Diêgo Lôbo
TODXS
Published in
7 min readMar 21, 2020

Como o COVID-19 nos impacta e dicas do que fazer no isolamento

Esse é, possivelmente, o texto mais urgente que eu já escrevi na TODXS. Por isso, peço sua incondicional atenção. No momento em que o publicamos, o COVID-19 (sigla em inglês para Corona Virus Disease 2019, em referência ao ano de descoberta) já chegou a 176 países e territórios, infectando mais de 235 mil pessoas e levando quase 10 mil delas a morte. No Brasil, país com maior número de casos na região, os números oficiais indicam que são mais de mil casos confirmados e 18 mortes, mais milhares sendo testados. Vale lembrar: esses números não refletem a realidade, que é pior, irão aumentar.

NÓS JÁ PASSAMOS POR ISSO ANTES

A comunidade LGBTI+ sabe muito bem o que é enfrentar os desafios de uma epidemia. Da mesma forma que a geração anterior a nossa lutou contra o HIV, é nosso papel frear as consequências do COVID-19 e proteger as pessoas mais vulneráveis, incluindo LGBTIs.

Uma carta pública divulgada por mais de 100 organizações LGBTIs dos Estados Unidos destacou as vulnerabilidades enfrentadas por alguns grupos de nossa comunidade que poderão ser exacerbadas pela infecção, que inclui o maior índice de pessoas fumantes e a discriminação que muitas vezes LGBTIs sofrem em serviços de saúde. Por causa disso, muitas delas, principalmente pessoas trans, podem deixar de ir a uma unidade de saúde buscar ajuda.

Além disso, LGBTIs apresentam maior incidência de HIV, que pode significar um maior número de pessoas com sistema imunológico debilitado. Vale lembrar, porém, que pessoas vivendo com HIV que estejam tomando os medicamentos de forma correta não apresentam maior vulnerabilidade do que uma pessoa HIV negativa.

Por mais que a comunidade as invisibilize, LGBTI+ também envelhecem. Pessoas com mais de 60 anos e com doenças crônicas têm maior risco de mortalidade.

JOVENS LGBTI+

A The queen has spoken

Tá bem, tá bem. Você é jovem, saudável e dizem que para você o coronavírus vai ser só uma gripezinha. É preciso mesmo ficar em casa? Absolutamente! Um estudo publicado na Science essa semana revelou que 86% das infecções na China nas primeiras semanas de janeiro não foram diagnosticadas e estas teriam sido responsáveis por 79% das infecções diagnosticadas. Isso confirma que deve haver um grande número de pessoas assintomáticas, que não apresentam sintomas, espalhando o vírus por aí. Como você :)

Dr. Vinícius Borges, médico infectologista

Dr. Vinicius Borges, médico infectologista e idealizador do canal Doutor Maravilha, nos explica o porquê precisamos ficar em casa. “Se todas as pessoas adoecerem ao mesmo tempo a gente não vai ter estrutura. O sistema de saúde vai entrar em colapso e não vai conseguir atender todo mundo, principalmente porque uma parcela vai ser de casos muito graves, que demandam muito trabalho, pessoal e medicação. Por outro lado, se ficarmos em casa e tomarmos as medidas de distanciamento social, a gente consegue fazer com que a curva epidêmica se achate e assim possa prestar um atendimento para todo mundo.”

Não é tão difícil ajudar, né?

Ficar em casa é a sua principal tarefa. Se suas aulas foram canceladas ou você tem o privilégio de trabalhar no mercado formal e entrou em uma esquema de home office, siga-o e fique em casa. Não é férias. Não é hora de viajar ou reunir amigos para celebrar. Essa pandemia é séria e a ação individual é urgente.

Eventos públicos e festas já estão sendo canceladas em diversas cidades no país. O mesmo começa a acontecer com shoppings, cinemas e até praias. Tudo isso para forçar as pessoas a ficar em casa e não ajudar a propagar o vírus.

Durante o período de isolamento, aplicativos de namoro e pegação preveem um aumento do tráfego de usuários online. Imagina essa quantidade de LGBTI em isolamento, com hormônios a flor da pele? Mas especialistas indicam que não é hora de marcar com o contatinho. “Não há documentada a transmissão por sexo anal ou vaginal, mas como a transmissão da doença se dá por gotículas (por fala, espirro, tosse) qualquer tipo de contato íntimo está contraindicado. Há evidências de que o vírus pode ser transmitido de maneira fecal ou oral. Por isso, o anilinguismo, que é o beijo grego, também estaria contraindicado. Assim, eu indicaria nesse momento optar pelo sexo virtual e masturbação. Não é momento de ter contato físico”, explica Dr. Vinicius. É claro que, se você teve a sorte de ter como companhia de quarentena a pessoa amada, a história é outra…

TODO MUNDO JÁ DISSE MAS A GENTE VAI REPETIR

Descoberto na cidade na cidade de ​Wuhan, na China, em dezembro de 2019, o vírus foi classificado como pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS) cerca de três meses após o primeiro caso. Com a declaração, autoridades de saúde de todo o mundo reforçaram medidas com o objetivo de diminuir a propagação da doença.

Você já deve estar craque, mas vale lembrar:

> Lavar as mãos com água e sabão é a melhor forma de livrar-se do vírus. Se indisponível, use álcool em gel a partir de 60%.

> Evite tocar a região do rosto, principalmente boca, nariz e olhos.

> Ao espirrar, cubra a boca e o nariz com a parte do cotovelo do braço ou um lenço.

> Evite aglomerações e mantenha distância de ao menos um metro de outras pessoas, principalmente se demonstrarem sintomas.

> Se você apresentar sintomas leves, não vá ao hospital. Caso você não tenha o vírus, certamente pegará por lá, além de sobrecarregar o sistema de saúde. Procure um hospital somente quando os sintomas piorarem, incluindo febre e falta de ar.

> Cuidem das pessoas idosas, mantenha distância física delas (mas importante manter contato virtual).

> Fiquem em casa, se possível.

> Fiquem em casa, se possível.

> Fiquem em casa, se possível.

TA BOOOOOM, VOU FICAR. MAS O QUE EU VOU FAZER EM CASA?

Que tal aproveitar para ler aqueles livros que você comprou online e ainda tá no plástico? Ou finalmente assistir aquele filme que sua amiga vive te insistindo pra ver? Pois, vale aproveitar também para conhecer mais sobre histórias e personagens que possamos nos identificar enquanto LGBTIs. Preparamos uma lista de livros e filmes em parceria com @cinemalgbt e @euleiolgbt, veja abaixo:

Que tal um filmezinho ?

Ou um livro?

  • Com personagem gay: “Dois garotos se beijando”, de David Levithan e “Querido Ex”, de Juan Jullian;
  • Com personagem lésbica: “Fun Home”, de Alison Bechdel, “Minha Experiência Lésbica com a solidão”, de Kabi Nagata e “Bem Vindos ao paraíso”, de Nocole Dennis Benn;
  • Com personagem homem trans: “A queda para o alto”, de Herzer, “Thammy”, de Marcia Zanelatto e “Viagem solitária”, de João W. Nery;
  • Com personagem mulher trans: “George”, de Alex Gino e “Fera”, de Brie Spangler;
  • Com personagem bissexual: “Um milhão de finais felizes”, do Vitor Martins e “Rainhas Geek”, da Jen Wilde;
  • Com personagem assexual: “Rádio Silêncio”, da Alice Oseman;
  • Com personagem travesti: “Eu, Travesti”, da Luisa Marilac e “O casulo Dandara”, de Vitoria Holanda.

Jogos online

A equipe da TODXS vem enfrentando o isolamento em casa com jogos online.

Tivemos a ideia de nos juntarmos para jogar algo como stop e imagem e ação, com a ideia de nos isolarmos fisicamente mas não do convívio. A melhor parte são as chamadas em vídeo, porque em um momento estamos comentando dos jogos e em outro já estamos só conversando sobre a vida e nos conectando. Com certeza tem sido uma forma de cuidar da saúde emocional, que também é muito importante nesse momento — Mariana Rizardi, Gerentes de Projetos do Programa Embaixadorxs

Não vale cair no sedentarismo

Academia fechou? Sem problemas. Há diversos canais online que oferecem aulas que podem ser feitas dentro de casa. O Catraca Livre listou 15 canais e aplicativos de treinamento funcional, yoga e dança. Afasta a mesa e o sofá e vamos manter a saúde física e mental em dia.

Tá de home office

Lembre-se que você não está de férias, o trabalho must go on! O site Razões para acreditar está montando uma lista incrível com vários serviços que estão gratuitos durante esses tempos difícieis.

Encontre seus amigos (mas só online)

Baixe o app HouseParty e faça chamada de vídeos e brincadeiras com diversos amigues ao mesmo tempo. O Instagram também permite chamadas de vídeos entre várias pessoas. Use a internet a seu favor!

A Comunidade LGBTI+ já enfrentou inúmeros desafios ao longo do tempo. Resistimos à Inquisição, à primeira guerra mundial e à segunda com seu temível Parágrafo 175 . Após muita luta, avançamos no combate ao HIV/Aids e seguimos resistindo às ameaças LGBTfóbicas desse governo. Juntes, sairemos dessa também, mas a luta é séria. Faça sua parte.

--

--

Diêgo Lôbo
TODXS
Writer for

Ativista de direitos humanos, saúde e meio ambiente.