Minha primeira vez… sendo expulsa de um banheiro

TODXS
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3 min readOct 28, 2019

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Por Pepita

Muitas pessoas acreditam que o processo de transição de pessoas trans é um momento difícil, mas o meu foi maravilhoso porque eu tenho uma família que me aceita da forma e da maneira que eu sou. Eu me tornei Priscila e tenho uma irmã que se tornou Cadu, e a minha mãe é um ser humano iluminado. Mães com filhos LGBTQIA+ são seres humanos abençoados, elas sofrem da mesma forma que a gente sofre e sentem a mesma dor, apesar de que existem progenitoras e existem mães, e nós sabemos bem a diferença.

Por isso, eu agradeço muito a Deus pela base de família que eu tenho, porque quando você tem uma base de verdade você consegue desviar com mais força e fé dos obstáculos da vida, e eles são muitos.

Uma vez, antes de eu morar definitivamente em São Paulo, eu viajava muito de ônibus, e em uma dessas viagens, antes de embarcar, fui ao banheiro da rodoviária. Eu não tenho como usar o banheiro masculino, eu tenho prótese, me visto como mulher 24 horas por dia, aí eu entrei no banheiro feminino e uma senhora fez um policial me tirar de lá.

Eu nunca vou me esquecer dessa cena, o policial apontou o dedo na minha cara e disse

- Você precisa virar homem! Precisa respeitar, isso aqui é banheiro de mulher!

Eu expliquei para ele que tenho corpo feminino, que sou mulher, que não poderia usar o banheiro masculino. Ele disse que isso não justificava nada, e que eu era um homem e ele ia me tratar como um homem. Se não fosse uma menina, uma advogada que estava viajando para Juiz de Fora, que entrou na confusão para me defender eu ia ser humilhada na frente de todo mundo em uma rodoviária.

Isso acontece muito e a gente fica sem chão, se perguntando porque. Eu vou usar qual banheiro? Se eu entrar no masculino um pode me agredir e outro pode me assediar porque eu sou uma travesti, se eu entrar no feminino eu sou expulsa. A sociedade ainda precisa amadurecer muito.

O mais triste de toda essa situação é que aconteceu por causa de uma senhora que poderia ser minha avó. É a prova de que o preconceito não tem idade, ser LGBTQIA+ é tentar constantemente encontrar um espaço que te aceite e nunca sabemos qual é. O meu maquiador não é aceito pela mãe dele dentro de casa, ele não pode ser quem ele é dentro da própria casa, mas a avó aceita, uma senhora de idade aceita se ele quiser colocar cabelo, ou um vestido, ela continua dizendo para todo mundo que é o neto dela. Ele é aceito pela avó e eu fui expulsa de um banheiro por uma senhora, às vezes idade não diz nada, é educação e respeito com o próximo.

Situações como essas são difíceis, mas é muito importante ser forte e lutar pelos nossos direitos. Essa é a melhor forma de agir contra qualquer forma de preconceito. Se informe, coloque a boca no trombone, compartilhe o que viveu, procure a lei para ajudar. As pessoas precisam entender que respeito vem acima de tudo, e que, graças a Deus, vivemos em uma sociedade diversa, e isso é lindo. Até hoje eu tenho um processo com essa senhora, com o policial e a rodoviária, afinal, travesti é resistência, a gente pode bambear, mas não cai.

Pepita é cantora, dançarina, escritora, influenciadora e um ser humano iluminado que usa suas redes sociais para dar conselhos essenciais.

Seu programa no IGTV, Cartas para Pepita, completou um ano recentemente e os conselhos e pitacos ora carinhosos, ora ácidos da cantora foram transformados em livro.

Pepita é GRANDONA PRA CARALHO.

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