O que significa ser uma pessoa assexual?

Bia Avila
TODXS
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3 min readOct 24, 2018

Uma pessoa que não sente atração sexual por outras pessoas, seja de maneira parcial, condicional ou total. Essa é a definição de uma pessoa assexual, uma das orientações que está dentro do mais (+) da sigla LGBTI+.

Uma das principais dificuldades em falar sobre o assunto é a falta de conhecimento sobre a assexualidade. Em uma sociedade que é tão pautada nas relações sexuais, não ter ou ter menos interesse em sexo causa um estranhamento na maioria das pessoas — o que as leva a tirar conclusões erradas e repetir ideias que podem magoar uma pessoa assexual.

Por isso, nesta semana (entre 21/10 e 27/10), é celebrada a Semana da Visibilidade Assexual: a ideia é conversar sobre a vivência assexual e quebrar tabus e estigmas. Trouxemos aqui cinco coisas que você precisa saber sobre a assexualidade:

1. Assexualidade é comum?

Algumas pesquisas já apontaram que, pelo menos, 1% da população não possui interesse em sexo. No Brasil, o Programa de Estudo da Sexualidade (ProSex), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, chegou a conclusão que 7,7% das mulheres e 2,5% dos homens na faixa entre 18 e 80 anos não tinham interesse em relações sexuais. Em uma entrevista para a BBC, a coordenadora do ProSex na época, Carmita Abdo, explicou que:

“Para classificarmos a pessoa com uma dificuldade ou com disfunção sexual, ela [a pessoa] precisa sofrer com isso. Quando não existe interesse pelo sexo e isso não afeta o indivíduo, como no caso dos assexuais, não há motivos para classificá-lo como disfuncional. Os assexuais têm a libido canalizada para outros aspectos, que não o erotismo e o relacionamento. Todos temos libido, mas não necessariamente voltada para sexo. Para eles, ela pode ser focada no trabalho, nos estudos ou em outra coisa”

2. A assexualidade tem (muitas) nuances

Existem diversas nuances da assexualidade — pessoas que se apaixonam (românticos) e o espectro das que não têm interesse nenhum em uma relação romântica (arromânticas). Existem também os assexuais que sentem atração sexual a partir de uma condição. Um exemplo é a demissexualidade: aquelas pessoas que só sentem atração sexual se têm algum tipo de sentimento pela pessoa, seja de afeto ou paixão.

Ou seja: nem todas as pessoas assexuais não fazem sexo ou nunca sentem qualquer tipo de atração. Isso varia de pessoa para pessoa: existe um espectro grande dentro da assexualidade.

A Vice entrevistou um assexual restrito (que nunca sente atração sexual). Vale a pena ver a entrevista:

3. Assexuais namoram/se relacionam (se quiserem)

Amor sem sexo não é amizade. É preciso desconstruir a ideia de que relacionamentos equivalem a ter relações sexuais. Para os assexuais românticos, há o desejo de estabelecer um vínculo afetivo/amoroso. E a relação é como qualquer outra: necessita de amor, companheirismo, amizade, carinho, honestidade e diálogo. A diferença é que, se a pessoa for assexual e restrita, o sexo não fará parte do relacionamento.

4. Ou seja: assexualidade não é celibato

Pessoas que abdicam de relações sexuais, seja por um voto de castidade ou por questões religiosas, não são assexuais — a assexualidade pressupõe a falta de interesse/desejo. O celibato, não.

5. Assexualidade não tem relação com trauma/doenças

Um questionamento comum que pessoas assexuais recebem é se a falta de interesse é vinculada a traumas ou doenças — como se uma pessoa não pudesse não ter vontade e só. A incompreensão vem da sociedade ser extremamente sexual — o sexo é vendido como felicidade, realização e até como amor. Respeite a vivência da pessoa assexual e não fique tentando rebater o que ela sente com frases do tipo “você deve ser assim porque nunca transou de verdade”.

Você diria a um gay que ele é assim porque “nunca transou de verdade com uma mulher”? Ou perguntaria se ele tem algum tipo de trauma, por isso é assim? Não, certo? Então não faça o mesmo com uma pessoa assexual.

Quer saber mais sobre diferentes orientações sexuais ou identidades de gênero? Recomendamos esse blog aqui, que explica de maneira didática todo esse universo:

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