Para além da Visibilidade Trans

Pelo direito de ocupar todos os espaços

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3 min readJan 29, 2021

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Créditos (esq. para dir): Lucas Ávila, Renato Nascimento e Hiel Gomes

Por Eduardo Almeida

No dia 30 de novembro de 2020, uma foto de Danny Wakefield viralizou nas redes sociais devido ao nascimento de sua filha. Poderia ser mais uma foto de um nascimento usual, mas era Danny Wakefield, influencer estadunidense que usa as redes sociais para dar visibilidade a sua rotina como homem gordo e trans, que estava em trabalho de parto, que já durava 10 horas.

Foto: Erin Latterell Burk

Não é difícil imaginar que as redes sociais se tornaram um campo de batalha entre “opiniões” contrárias — muitas transfóbicas — e de quem defendia o direito de Danny ser quem é e mostrar toda a beleza que a naturalidade humana traz em suas variadas formas.

São essas manifestações diversas que nos mostram por quê o Dia da Visibilidade Trans, que se comemora dia 29 de janeiro, é tão importante.

Como surgiu o Dia da Visibilidade Trans?

Em junho de 2017, mês do orgulho LGBTI+, foi lançado o documentário “Meu corpo é político”, da diretora Alice Riff. Nele, é retratado o cotidiano de quatro pessoas trans que moram na cidade de São Paulo.

Esse nome não poderia ser mais oportuno, já que o Dia da Visibilidade Trans surgiu dentro do Congresso Nacional. Acontecem no dia 29 de janeiro de 2004, quando integrantes do movimento trans participaram do lançamento da primeira campanha nacional contra a transfobia, organizada pelo Departamento de IST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde.

Desde então, já são 17 anos anos desse dia que marca a busca por visibilidade de uma luta que é bem mais antiga do que isso.

É a luta por visibilidade que possibilita que o entendimento chegue para pessoas fora da bolha LGBTI+, principalmente sobre a necessidade de oportunidades que costumeiramente são negadas para quem representa a letra T.

Diferente da maioria das pessoas, quem é transsexual e/ou travesti tem a sua imagem costumeiramente ligada à prostituição e espaços diferentes desse, via de regra, lhes são negados.

Ocupar todos os espaços

A busca por direitos de pessoas trans e travestis já vem de tempos atrás, como em 1992, com a fundação da Associação de Travestis e Liberados — ASTRAL, ou em 1993, com o 1º Encontro Nacional de Travestis e Liberados ou até mesmo em 2004, na sede do Poder Legislativo.

Foi a visibilidade conquistada por essa busca por direitos e atenção do Estado que possibilitou hoje, mesmo que de forma tímida e ainda muito longe do ideal, que vozes como Indianarae Siqueira pudessem questionar a ilegalidade de seu corpo seminu em plena luz do dia em uma avenida movimentada.

Foto: Reprodução/Facebook

“Se me prender estará reconhecendo legalmente que eu sou mulher e o que vale é minha identidade de gênero e não o sexo declarado em meus documentos. Se disser que sou homem, estará me dando o direito de caminhar com os seios desnudos em qualquer lugar público.” — Indianarae Siqueira

Foi a coragem de não mais se esconder que possibilitou, em 2017, que a rede de supermercados Carrefour pudesse contratar as primeiras pessoas trans de sua história.

Foi a luta dos corpos políticos que possibilitou que em 2020 o País mais transfóbico do mundo tivesse um recorde de candidaturas de pessoas trans a cargos públicos: 270 ao todo, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral.

Foi também a conquista desses espaços que elevou para 30 o número de pessoas trans eleitas, como Linda Brasil (PSOL/SE), mestra em educação pela Universidade Federal de Sergipe, Duda Salabert (PDT/MG), Thammy Miranda (PL/SP) e Erika Hilton (PSOL/SP).

Agora, para além da visibilidade, quem sabe seja a hora de lutar pela sonoridade das vozes trans. Hora de buscar meios de suas vozes ecoarem para todos os cantos possíveis dessa nação.

Vamos todes juntes?

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