Para esquecer o preconceito: Dia Internacional da Memória Trans

Matheus Galvão
TODXS
Published in
3 min readNov 28, 2018

Ainda antes do dia 20 de novembro, o Dia Internacional da Memória Trans, a ONG Transgender Europe divulgou dados que mostravam o Brasil como o país que mais mata pessoas trans.

Entre 1º de outubro de 2017 e 30 de setembro de 2018 foram contabilizados 167 mortes. O México, segundo colocado do ranking, teve 71 vítimas.

Fazer registros dessa natureza tem sido um desafio; nas ocorrências, quase nunca se indica quando a vítima é uma pessoa trans.

A violência assusta, porém travestis e transexuais vivem uma batalha contínua por inclusão, respeito e dignidade. O principal desafio, em todos os principais campos, é o preconceito.

Família

O Disque 100 foi criado pela Secretaria de Direitos Humanos para receber denúncias de violações de direitos. Em 2014, uma em cada seis agressões a pessoas LGBTQI+ denunciadas partiam de familiares da vítima.

Em lares em que predominam religiões mais conservadoras, o que não deveria ser uma questão, ser LGBTQI+, torna-se um pesadelo que consome boa parte da vida dessas pessoas. Depressão, ansiedade e tentativa de suicídio são os resultados de tudo isso.

A procura por ajuda profissional e terapia pode resolver boa parte do problema, facilitando o diálogo e dando suporte emocional aos emocionalmente abalades.

Mas existem casos de aceitação e apoio, como o de Gabriela Almeida, brasiliense que contou com o apoio da mãe durante toda a sua transição. Gabriela foi rejeitada pelo pai, que disse que ela não o deveria considerar pai se ela fosse homossexual. Ela não se importou com isso, firmou-se no apoio e companhia da mãe, que a criou sozinha, e seguiu em frente.

Trabalho

Encontrar trabalho não tem sido fácil no geral. Para pessoas trans, a situação é ainda pior.

O preconceito gera situações como a de Luiza Coppieters, de 37 anos. Ela era professora em uma escola particular e, assim que começou a sua transição, sofreu duros obstáculos. Teve síndrome do pânico e acabou demitida e proibida de ter contatos com seus estudantes. Os pais tinham medo de que ela influenciasse as crianças a se tornarem transexuais.

A dificuldade de inserção no mercado de trabalho acaba levando alguns transexuais à dependência econômica. Quando não há opções e ainda assim é preciso manter o sustento, alguns acabam optando pela informalidade como profissionais do sexo, quando encontram alto índice de violência.

Em 2017, 70% dos assassinatos de pessoas trans foram de profissionais do sexo, sendo 55% deles nas ruas.

Educação

A situação se agrava ainda mais pela falta de oportunidade na educação. Sem qualificação, o ciclo é retroalimentado. Da educação básica ao ensino superior, pessoas trans sofrem com a discriminação, o que acaba levando ao abandono dos estudos.

Em 2016 a Secretaria de Educação da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais (ABLGBT), divulgou um estudo onde se concluiu que

73% dos estudantes que não se declaram heterossexuais no Brasil já foram agredidos verbalmente na escola.

Saúde

E o que dizer da falta de médicos com conhecimento sobre saúde trans?

Durante todas as fases de transição é preciso ter um acompanhamento intenso e adequado. São raros endocrinologistas que têm conhecimento sobre o assunto, por exemplo, mas este não é o único problema.

Encarar os preconceitos e a inviabilidade de fazer uma transição tranquila pode ser cruel psicologicamente falando. Isso faz com que pessoas trans sejam um dos grupos mais vulneráveis ao suicídio, com os índices de depressão chegando a 60% entre esse grupo.

Dia da Memória Trans

Em novembro de 1999, Gwendolyn Ann Smith, uma mulher trans, criou um movimento em memória de Rita Hesster, outra mulher trans que fora assassinada em Massachusets. Mais uma data de resistência.

Viver é um direito humano e não deve ser negado a ninguém. E, muito além disso, a vida que se deve promover é aquela com dignidade. Para toda e qualquer pessoa.

No dia 20 de novembro, o Dia da Memória Trans nos relembra dos desafios de pessoas que precisam de amplo apoio, e cumpre o papel de nos fazer esquecer do preconceito que as impede de viver em plenitude.

Precisa de apoio ou informação? Alguns sites e instituições de suporte a pessoas trans:

TransEmpregos : Organização dedicada a inserir pessoas trans no mercado de trabalho.

Antra : Associação Nacional de Travestis e Transexuais

EBC Trans: Seção do site da Empresa Brasil de Comunicação dedicada à informação para pessoas trans.

Conhece mais alguma? Deixe sua sugestão nos comentários.

--

--