Quantas vezes você se deparou com um personagem bissexual na ficção? Segundo dados da GLAAD, nas principais produções televisivas norte-americanas em 2017/2018, bissexuais representaram 28% do total de 329 personagens LGBTI+ que apareceram em todas as plataformas (canais abertos, a cabo ou de plataformas de conteúdo online).
Vale ressaltar aqui que há poucos dados ou análises sobre produções brasileiras e a representatividade LGBTI+. A revista Superinteressante realizou um levantamento sobre personagens LGBTI+ nas novelas e que pode ser acessado aqui.
Como é essa representação?
Às vezes, não tão boa assim. O relatório ressaltou alguns estereótipos negativos são relacionados a pessoas bi dentro dessas produções, como:
- Pessoas bi usando sexo para manipular alguém ou como um meio de transação;
- Tratar da atração por mais de um gênero como algo “temporário” dentro do roteiro;
- Retratar pessoas bissexuais como sem moral ou que não merecem confiança.
A palavra bisexual — raramente dita
A pergunta também que incomoda aqui é: quantas vezes esses personagens dessa lista realmente se declararam bissexuais ao longo de suas trajetórias? A resposta: nem tantas. Um dos grandes problemas que a invisibilidade traz é que, apesar de personagens se relacionarem com diversos gêneros, muitas vezes, ou são taxados de heterossexuais “curiosos” ou homossexuais “ainda dentro do armário”. O tal do apagamento.
Ou, muitas vezes, a questão não é nem trazida a tona: é o caso de Lorna Morello (Yael Stone), da série Orange is the New Black, que demonstra interesse em homens e mulheres, mas nunca é falada a tal da palavra com B. Isso dificulta na hora de criar referências positivas, esclarecidas e abertas acerca da bissexualidade.
Nesta lista, reunimos algumas exceções: personagens que abertamente falaram da bissexualidade e ajudaram a esclarecer alguns pontos sobre essa orientação.
Darryl Whitefeather, Crazy Ex-girlfriend
Um dos personagens mais interessantes é Darryl (Pete Gardner). Ele foi casado durante boa parte da sua vida com uma mulher e é pai. Após o divórcio, começa a se interessar por Josh, um homem mais novo. Na série, o personagem fica confuso se é gay ou heterossexual, até que entende que é um homem bi. E faz uma música excelente sobre a descoberta, falando abertamente sobre ser bi e alguns estereótipos ligados a isso:
Callie Torres, Grey’s Anatomy
A história de Callie é similar a de Darryl: por grande parte da sua vida, sempre se envolveu com homens. Até que o interesse por uma médica do hospital a fez repensar sobre sua sexualidade. Entendendo que gostava de se relacionar com diversos gêneros, ela se entende como mulher bi e fala abertamente sobre sua sexualidade. Callie foi casada na série com uma das médicas, Arizona Robbins (Jessica Capshaw) e teve uma filha com a mulher e seu melhor amigo, Mark Sloan (Eric Dane).
Curiosidade: a atriz que interpreta Callie Torres, a maravilhosa Sara Ramírez, recentemente se declarou uma mulher bissexual fora das telas também. O anúncio foi feito apenas depois que ela deixou a série. Em um vídeo produzido pela People Magazine e a Entertainment Weekly, duas revistas de entretenimento dos Estados Unidos, a atriz declarou que tinha medo que a sexualidade tivesse um impacto negativo na carreira.
Rosa Diaz, Brooklyn 99
A detetive Rosa Diaz, interpretada por Stephanie Beatriz, revelou na quinta temporada da série sua bissexualidade. Até então, a série só tinha mostrado Diaz se relacionando com homens. Neste episódio, além de se definir como bi, revela também um relacionamento com outra mulher.
A atriz Stephanie Beatriz também é uma mulher bi e foi uma das responsáveis pela construção do episódio em que Rosa se declara como bi. Em entrevista à Entertainment Weekly, ela disse que:
“Eu sugeri que essa palavra fosse muito importante para ela e que também seria muito importante para a comunidade bi ter a palavra dita na televisão. Não apenas uma sugestão de que agora ela namora garotas, mas uma clareza sobre essa personagem”.
Condessa Elizabeth e Will Drake, American Horror Story: Hotel
Tanto a Condessa Elizabeth (Lady Gaga) quando o fashionista Will Drake (Cheyenne Jackson) se relacionam com homens e mulheres na quinta temporada de American Horror Story. Os dois resolvem se casar e, em um diálogo importante com o seu filho, Will fala sobre sua sexualidade.
Tradução:
Filho: Não consigo acreditar que você vai se casar com uma mulher.
Drake: Vou ser franco — seu pai é bissexual. As pessoas acham que essa palavra significa algo sujo, mas não. Significa que eu gosto de homens e de mulheres — igualmente. As pessoas não entendem, então me tratam como se eu fosse estranho. Ou como se eu quisesse esconder algo. Ou que -
Filho: — você só goste de homens.
Drake: Sim, algo assim.
Grande parte da lista é composta por séries norte-americanas, justamente pela falta de personagens bis na ficção brasileira, seja em novelas, filmes ou seriados.
Clara, Em Família
Do lado das produções nacionais, o destaque vai para Clara (Giovanna Antonelli), da novela Em Família. Ainda casada com um homem, clara conhece Marina (Tainá Muller) e, quando começam a se aproximar, se apaixonam. Em um diálogo com a mãe, Clara esclarece que não está dividida, mas sim que ama os dois. Ela declara que:
Não quero um só, quero os dois. E, quando estou com um, sinto falta do outro. Estou dividida, querendo os dois com o mesmo desejo
Mesmo sem falar abertamente sobre bissexualidade, Clara foi uma personagem importante em trazer essa questão para a televisão brasileira.