Ainda precisamos falar sobre a visibilidade bissexual

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3 min readSep 12, 2018
Caminhada Lésbica e Bissexual em São Paulo (2014). Crédito: Mídia NINJA

Setembro é o mês de trazer a questão da bissexualidade à tona: no dia 23/09, é comemorado o Dia da Visibilidade Bissexual. A data surgiu em 1999 por Wendy Curry, Michael Page e Gigi Raven Wilbur, ativistas estadunidenses.

E por que é importante falar sobre ser bi?

Ser bissexual — ou seja, sentir atração por mais de um gênero — é uma questão que começou a ser discutida apenas recentemente. Por isso, muitas pessoas ainda não acreditam que é possível se atrair por mais de um gênero ou desqualificam essa sexualidade, encarando-a como um “período de transição” para uma homossexualidade ou heterossexualidade. Isso acontece principalmente dentro da comunidade LGBTI+, já que, fora dela, a bissexualidade nem é discutida ou levada em consideração.

Isso é chamado de apagamento bi — resumidamente, fingir que essa sexualidade não existe. Isso gera um sofrimento mental muito grande entre as pessoas bis, que acham que precisam “decidir” se são homossexuais ou heterossexuais. Essa cobrança da sociedade gera ansiedade, depressão e diversas doenças. Em termos de saúde mental, inclusive, diversos estudos já apontaram que pessoas bis têm mais tendência a terem tais transtornos — dentro e fora da comunidade LGBTI+, segundo o relatório “Invisible Majority” [Maioria Invisível] de 2016, elaborado pela MAP, entidade norte-americana.

A bissexualidade foi tema de uma das músicas da série estadunidense Crazy Ex-Girlfriend. A tradução da música está disponível aqui.

Trazer a bissexualidade como pauta é tentar tirar essa orientação sexual do escuro e torná-la visível e dizer que sim, bis existem — e não há nada de errado com isso.

A personagem Callie Torres, de Grey’s Anatomy, é uma mulher bi.

Além da invisibilidade…

Quando as pessoas não são invisibilizadas — ou seja, são reconhecidas como bissexuais — são também associadas com estereótipos muito negativos, como:

“Pessoas bis não são fiéis em relacionamentos”

A justificativa é que, por gostar de mais de um gênero, essas pessoas nunca estariam satisfeitas em relacionamentos monogâmicos por “sentir falta” de transar com outro gênero. Isso traz um estigma de que são pessoas que não podem ser levadas a sério, que são “só para pegar”.

Ser monogâmico ou não-monogâmico/ trair ou não trair não são características ou ações exclusivamente ligadas a bissexualidade. São coisas que dizem respeito a todas as pessoas, bis ou não. Pessoas heterossexuais ou homossexuais podem trair e também podem ser não-monogâmicas.

“Pessoas bissexuais têm mais doenças”

Não é por transar com mais de um gênero que a pessoa bi transa com mais pessoas ou que transa sem proteção. Sexo seguro vale para todo mundo.

“É bi? Deve topar um ménage”

A associação que pessoas bis necessariamente gostam de sexo a três reforça a ideia de que são pessoas que tudo se resume a sexo. Uma pessoa bi pode gostar de ménage e outra pode não gostar.

“Deve ser legal ser bi! O dobro de opções para pegar”

Ser bi não significa que você se relaciona com qualquer pessoa — ou seja, não necessariamente seu escopo afetivo ou sexual aumenta. E falar isso apaga todo o sofrimento que pessoas bis passam, como os citados acima.

“Mas se ela está namorando um homem, ela é hetero, não é?”

Se relacionar com alguém de outro gênero não significa que a pessoa deixou de ser bi — a orientação sexual não muda de acordo com parceires. Esse tipo de raciocínio é um dos motivos pelos quais pessoas bi são consideradas “menos LGBTI+” do que as outras — como se pudessem transitar entre a heterossexualidade e a homossexualidade. Independente de quem a pessoa está se relacionando, a sexualidade continua a mesma — até que ela, e somente ela, diga o contrário.

A opressão contra pessoas bissexuais é chamada de bifobia.

Durante o mês de setembro, o blog da TODXS vai trazer mais conteúdo voltado para a vivência bissexual! Tem sugestão de temas? Deixe nos comentários abaixo!

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