Foto: Murilo Suave (@murilosuave_fotografia)

Ser LGBTI+ na família e trabalho, luta por direitos, intersexualidade e transexualidade: veja o que rolou no Conecta 2018

TODXS
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5 min readJul 23, 2018

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O TODXS Conecta trouxe o poder das histórias de palestrantes do universo LGBTI+. Eram mais de 300 presentes no Teatro Cásper Líbero (SP): pessoas trans, travestis, lésbicas, gays, drags, bissexuais e interssexuais ocuparam um sábado (30/06) para falar sobre sobrevivência, militância e novos desafios. Foi o momento de rir, chorar, ouvir e falar muito também. Nós, da TODXS, já estamos com saudade de reunir tanta gente boa em um único auditório!

A começar por esses hosts incríveis: Ananda Cantarino, do time de Diversidade e Inclusão da TODXS e Leonardo Oliveira, Diretor de Pesquisa & Desenvolvimento na TODXS. Foto: Murilo Suave (@murilosuave_fotografia)

Enquanto os vídeos completos das palestras não sai, que tal relembrar alguns dos melhores momentos dos talks e painéis?

“Enquanto a gente não tiver pessoas LGBT vivas, não adianta falar sobre visibilidade” — murilo araújo

Foto: Murilo Suave (@murilosuave_fotografia)

Murilo Araújo, do canal Muro Pequeno, lembrou que a visibilidade trouxe coisas importantes para sua construção: Morando em uma cidade pequena e em uma casa com pouco acesso a internet, ele não tinha referências LGBTI+. Só conseguiu compreender na faculdade, ao entrar em contato com outras realidades. Foi também nessa época que entendeu o que era o racismo e seus efeitos em sua vida. “do mesmo jeito que fui invisível na minha infancia por ser lgbt, no meio lgbt eu era invisível por ser negro. e continuo aprendendo sobre a visibilidade. Falar da gente é importante”, lembra. Murilo, no entanto, questionou a quem essa visibilidade contempla:

Como podemos falar sobre visibilidade no contexto em que estamos visíveis, mas temos mais dificuldades de elaborar políticas públicas? E quando estamos morrendo mais? A gente precisa pensar sobre isso, avançar sobre a visibilidade, porque precisa significar muito mais coisa. Não quero pessoas LGBT nas novelas se eu não tiver pessoas LGBT produzindo e escrevendo novelas. Marielle Franco só se tornou visível depois de ser morta. E não é isso que queremos.

Intersexualidade vai muito além de ter os dois sexos — @DionneCaFreitas

Foto: Murilo Suave (@murilosuave_fotografia)

Uma das letras da sigla que tem lutado para ganhar mais visibilidade é a I, de intersexo. O desconhecimento sobre o que é uma pessoa intersexo e como tratar desse assunto pode deixar marcas profundas. Foi esse o caso de Dionne Freitas. Nascida no interior do Paraná, o médico identificou que havia algo diferente na criança, mas garantiu que era algo temporário, e que desapareceria. Educada com base em papéis de gênero masculinos, Dionne cresceu com uma sensação de ser trans, pois sempre se identificou muito mais com o universo feminino. Atualmente, uma das lutas do movimento intersexo é proteger as crianças para que não sofram com hormonização ou cirurgias forçadas.

Enquanto eu ia crescendo, ganhava características femininas, mesmo sendo menino. Isso foi traumático, era perseguida pela família, falavam que eu estava sendo possuída pelo demônio, me perseguiam na rua. Fui literalmente apedrejada, cuspiam quando eu passava.

A visibilidade é algo de extrema importância não só na militância como também nos espaços do trabalho e da família. E foi para falar sobre isso que nossas convidadas, Maju Giorgi, fundadora do grupo Mães pela Diversidade e Liliane Rocha, fundadora e CEO da Gestão Kairós consultoria de Sustentabilidade e Diversidade. O debate foi mediado por Priscilla Rossio, Coordenadore de Pesquisa da TODXS.

Da esquerda para direita: Priscilla Rossio, Liliane Rocha e Maju Giorgi. Foto: Murilo Suave (@murilosuave_fotografia)

Quando o André se assumiu, eu comecei a militar no dia seguinte — @MajuGiorgi

Uma das maiores preocupações de Maju dentro do âmbito familiar é a criança. Ela comparada que crianças que sofrem outras opressões, como racismo, encontram respaldo e apoio em casa. No caso de crianças LGBT, isso é mais difícil, visto que uma parte do preconceito parte de casa:

A criança LGBT existe, não é lenda urbana: eu tive uma na minha casa. E essa criança é silenciada e violentada. Cabe às mães darem voz para ela, precisa de visibilidade. Isso é importante porque quando você identifica iguais e se fortalece.

Liliane concordou com esse aspecto da família. Em diversas palestras, quando questionada sobre o que era mais difícil, ser mulher ou ser negra, responde: ser lésbica. “Como mulher e negra, não tive desafio no âmbito da minha família. Mas na família, como lésbica, foi dez anos de conversa”, comenta.

Foto: Murilo Suave (@murilosuave_fotografia)

No trabalho e mundo corporativo, ela lembra que, desde 2005, quando começou a trabalhar com o tema. Ela citou alguns avanços como o Fórum de Empresas LGBT, campanhas e comerciais inclusivos. No entanto, ela lembra que a visibilidade não necessariamente se reflete em uma mudança cultural no mundo corporativo.

As empresas que têm falado de diversidade no geral e sobre a temática LGBT tem de fato contratado pessoas homossexuais? Retido essas pessoas? São tratadas de maneira igual? Tem um gap muito grande na contratação, ainda. Somos vistos como público consumidor, mas não como público estratégico e produtivo.

Foto: Murilo Suave (@murilosuave_fotografia)

Lucca Najar (@LuccaNajar) lembrou que passou por duas ‘saídas de armário’: primeiro, quando contou para a família que era uma mulher lésbica e, depois, que era um homem trans. Ele ressaltou o orgulho de sua trajetória:

Tenho muito orgulho de ser homem trans. A pessoa que eu sou hoje é fruto de tudo que passei na minha vida. Se eu pudesse escolher ser trans, eu escolheria. Se eu tivesse que sair do armário duzentas vezes, eu sairia.

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