Xenofobia regionalista: como podemos desconstruir estereótipos sobre o Nordeste?

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3 min readMar 3, 2021

por Camila Caldas

Não passa despercebida a movimentação de pessoas do Norte e Nordeste para cidades do Sudeste em busca de emprego ou melhores condições de vida. Infelizmente, ela traz consigo consequências como a xenofobia regionalista.

A pandemia, por sua vez, chegou para expandir as fronteiras, mostrando que o trabalho remoto permite maior abrangência nacional das empresas. Por isso, muitas destas estão buscando profissionais fora do eixo Rio-SP. Mas será que isso significa que essas empresas são tão acolhedoras assim? Trabalhar com uma diversidade de regiões significa inclusão?

A revista Veja São Paulo publicou recentemente a edição de aniversário da cidade, mas com o foco nas pessoas nordestinas que lá trabalham. Na capa, 6 pessoas brancas, com elementos que remetem ao sertão e o título “A Capital do Nordeste”.

Na matéria, textos retratam a capital paulista como salvadora para o “povo sofrido” do Nordeste, que vive em situação precária, sem grandes oportunidades em uma região supostamente não desenvolvida.

Além disso, na atual edição do Big Brother Brasil podemos presenciar participantes fazendo piadas sobre o sotaque nordestino, questionando a capacidade profissional e até o nível de educação das pessoas da região.

Discursos como estes, quando presentes na mídia, geram debate nas redes sociais acerca da xenofobia regionalista, sua origem e suas consequências, mas muitas vezes essas microagressões são vividas diariamente sem nenhum tipo de assistência e conscientização.

O que é xenofobia regionalista?

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) define xenofobia como

“atitudes, preconceitos e comportamentos que rejeitam, excluem e frequentemente difamam pessoas, com base na percepção de que eles são estranhos ou estrangeiros à comunidade, sociedade ou identidade nacional”.

No Brasil, a xenofobia regionalista se manifesta de diferentes formas, algumas mais extremas — como o movimento separatista da região Sul — e outras disfarçadas de brincadeiras, mas que têm como pano de fundo uma noção de superioridade.

Características como preguiça, indisposição e falta de estudo são associadas ao estereótipo equivocado em torno da pessoa nordestina e possuem consequências diretas no mercado de trabalho.

Ao expandir o trabalho para diferentes regiões, uma empresa precisa se perguntar se está preparada para lidar com as diversidades ali presentes. Entender que o Nordeste é formado por 9 estados, cada um com suas particularidades, é essencial para evitar a reprodução desses discursos estereotipados, baseados na xenofobia regionalista.

O cuidado para evitar essas microagressões no dia a dia é necessário para evitar a visão do povo nordestino como um povo sofrido, que necessita sempre de ajuda.

Desemprego e dificuldades infelizmente existem em todo o Brasil. Por isso, é equivocado generalizar uma região inteira dessa forma e ter o investimento visando uma mão-de-obra barata.

Desconstruindo estereótipos

A valorização e respeito ao funcionário nordestino ou nortista em uma empresa de abrangência nacional engloba desde a preparação com políticas internas contra a xenofobia regionalista, até a oportunidade de ocupar cargos de liderança.

A visibilidade desses cargos vai contra os discursos que inferiorizam um povo que muitas vezes precisa se esforçar o dobro para quebrar as barreiras construídas pelos estereótipos xenofóbicos.

O povo nordestino vai além da visão de povo sofrido, que vive das praias e não tem acesso a uma boa educação e à qualidade de vida.

Indo contra todos os estereótipos, entre 2005 e 2017, quatro entre os dez estados brasileiros que mais cresceram no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) do ensino médio são do Nordeste. Além da região ter uma expectativa de alcançar um índice de Produto Interno Bruto (PIB) maior que o do Brasil, segundo artigo do site Valor Econômico.

Para desconstruirmos esses estereótipos, é necessária uma abertura para entender a complexidade da região, que carrega diversidade, cultura e luta que merecem respeito longe de qualquer xenofobia.

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