Economia afetiva está guiando o mercado da moda

Mayhara Nogueira
tomorrowiscalling
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3 min readAug 22, 2018

Consultor Jackson Araujo defende novo modelo de criação e consumo

Jackson Araújo desenvolveu o Trama Afetiva

Comprar nunca foi tão fácil. Se não há mais tempo para frequentar as lojas físicas, com a ajuda de um clique é possível adquirir um guarda-roupa inteiro de alguma fast fashion, que certamente será entregue em sua casa. No entanto, esse excesso de comodidade, opções, informações, consumo contribuíram para irradiar uma necessidade inerente ao ser humano: a criação de conexões mais profundas.

E é exatamente essa inquietação — de se conectar mais consigo mesmo, com a sociedade e o planeta — uma mola propulsora de mudança para Jackson; tanto na forma de consumir quanto de produzir. No alvo dessa transformação, surge a economia afetiva, um novíssimo modelo de criação e consumo, que vai além do upcycling (processo de transformar resíduos ou materiais descartáveis em novos produtos). O conceito, focado no coletivo, convida pessoas e empresas a repensar o consumo e o descarte dentro da moda, e a procurar modelos de ganha-ganha.

“Vivemos num mundo em que o faça-você-mesmo abriu espaço para o faça-com-os-outros e faça-para-os-outros. Esse é um ponto de partida essencial para entendermos essa nova prática”, explica o consultor criativo e de tendência Jackson Araujo, que soma no seu currículo trabalhos com WGSN, Fundação Hermann Hering, Box 1824, Lino Villaventura e Cia.Hering.

Segundo ele, no passado o foco estava na produção, no crescimento econômico e no acúmulo do patrimônio. Atitudes que não fazem mais parte de quem pensa o futuro com mais responsabilidade.

“A palavra é sintonia: as pessoas acentuam o sentimento, as vibrações espirituais e artísticas. Nesse cenário, a prática do ganha-ganha se fortalece — uma estratégia de resolução de conflitos em que todos os participantes podem se beneficiar de alguma forma. A economia afetiva foca na importância da cooperação e compartilhamento a fim do sucesso do grupo, em contraste com a dominação, o egoísmo e o ganho pessoal”, explica.

Economia afetiva em ação

Jackson Araujo transformou a economia afetiva em projetos. Um deles foi o Trama Afetiva, que tem como direção de conteúdo Luca Predabon. A iniciativa começou em 2016 e foi patrocinada pela Fundação Hermann Hering. O foco é desenvolver profissional mais conectado com processos horizontais de produção, por meio de experiências e aprendizado colaborativos em upcycling, usando o design como ferramenta de ressignificação.

Este mês de agosto, o Trama Afetiva chegou a sua segunda edição. Foram 445 inscritos, dos quais apenas 10 serão escolhidos por uma comissão julgadora: Alexandre Herchcovitch, o designer Marcelo Rosenbaum e a estilista Itiana Pasetti, co-fundadora da marca Revoada. Os participantes escolhidos terão como objetivo desenvolver uma linha de produtos feitos a partir do reaproveitamento de malhas de algodão de antigos estoques e de resíduos têxteis gerados pela Cia Hering.

Trama Afetiva 2018

O outro lado da moeda

O ativismo na moda — que trata questões como sustentabilidade, responsabilidade social, diversidade, feminismo e padrões de gênero — , vem sendo absorvido pelas grandes marcas nos últimos anos. É só observar como grandes nomes de fast fashion estão mudando seus conceitos e criando algumas linhas com apelo socioambiental, a exemplo da H&A, ZARA e C&A.

No entanto, segundo Jackson, as marcas que tratam de temas tão importantes com superficialidade estão fadadas ao insucesso de suas ações. “O consumidor engajado e ativo nessas causas é crítico e não admite superficialidade. As marcas não podem apenas absorver, elas tem que estar abertas a essas novas evoluções para colocar como práticas de sua agenda positiva, aprendendo com profissionais engajados nessas causas para construir discursos e práticas verdadeiras e transparentes”, explica.

Por Mayhara Nogueira para o Sou Moda. Informações atualizadas.

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Mayhara Nogueira
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Jornalista: apaixonada por histórias e empenhada em divulgar ações que moldam um futuro alternativo.