Psicodelia, sonhos e feminino, a experiência artística de Stephanie Keir

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4 min readJan 29, 2021

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Entrevista organizada por Priscila Branco

Revista Toró: Quando você começou a desenhar e a pintar? O que mudou dos seus primeiros trabalhos artísticos para os de hoje em dia?

Stephanie Keir: Comecei bem pirralha mesmo, meus pais pintavam, faziam cerâmica, tinha sempre alguma arte acontecendo. Bem pequenininha ainda, minha mãe já me dava desenhos em folhas de aquarela e deixava eu usar as tintas e pincéis dela pra pintar. Mais pra frente, decidi que queria aprender a desenhar Mangá, e fui aprendendo com livros, tutoriais online. O interesse em desenhar nesse estilo não durou tanto, mas a ideia de querer ser artista ficou. No início, eu desenhava querendo inventar personagens, sem pensar muito em criar um mundo pra esses personagens, só personagens flutuando no nada mesmo. Hoje é meio que ao contrário, rola mais a vontade de criar uma narrativa, expressar sentimentos específicos, um mundo meio de sonho, onde os personagens são mais arquétipos do que pessoas.

Revista Toró: Qual relação você tece entre psicodelia e arte?

Stephanie Keir: Honestamente, eu acho que tanto criar quanto consumir qualquer forma de arte — seja pintura, vídeo, música, seja escrita, dança — é uma experiência liminar, assim como meditação, sonhos, experiências psicodélicas, shamanismo, divinação. A arte te tira do mundano, assim como a psicodelia. Então, pra mim, o que mais me interessa em explorar com arte em qualquer mídia é esse espaço fora do mundano. Na pintura, tento criar imagens que exploram essas ideias simbólicas, sonhos, magia e psicodelia.

Revista Toró: A maior parte das suas ilustrações expostas no Instagram retrata mulheres. Existe algum tipo de escolha consciente nesse recorte?

Stephanie Keir: Acho que sempre tive o hábito de desenhar mais mulheres do que homens, tenho alguns motivos diferentes pra isso. Eu gosto de brincar com curvas, formas orgânicas, e o corpo feminino acaba se encaixando melhor. Um pouco do motivo é costume mesmo, confesso. Acho que dá pra contar nos dedos o número de desenhos de homens que fiz desde que parei de fazer fanart de anime na época do colégio, me falta um pouco de prática na anatomia masculina hoje em dia, pelo menos por agora. Mas a maior parte do motivo é que as ideias, os sentimentos e momentos que eu tento criar vêm de uma experiência feminina do mundo e, afinal, arte sempre tem um pouco de autorretrato. Mesmo a minha arte não sendo exatamente autobiográfica, tudo que eu coloco no “papel” inevitavelmente passa por esse filtro de experiências. Eu não era lá das meninas mais femininas quando criança, fui encontrando minha feminilidade através da arte, e construindo pela arte a minha visão do sagrado feminino.

Revista Toró: Suas obras são marcadas por cores vivas e que saltam aos olhos. Em que momento seu estilo se desenvolveu através dessas cores e como foi esse processo?

Stephanie Keir: De certo, um pouco da inspiração deve ter vindo daqueles pôsteres de bandas de rock psicodélico dos anos 70, inspirados em Art Nouveau dos meus livros de faculdade. Muito também vem de emular a natureza, mas dando uma impressão como que de outro mundo, usando cores trocadas ou super saturadas. Eu vivo cercada de plantas tropicais, tantas flores e folhas que saltam aos olhos, e uma quantidade de sol e chuva, que garante uma frequência de arco-íris no céu pra fazer qualquer um se sentir uma princesa de desenho animado. Dois anos atrás, tivemos uma erupção vulcânica aqui na ilha que durou uns 3 meses. Durante esses três meses, a lava refletia nas nuvens vulcânicas à noite, o que aparecia no céu noturno como uma enorme nuvem emanando luz cor-de-rosa. Muitas dessas escolhas vêm daí.

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