“A poesia é uma ferida aberta”, 3 poemas de Bernardo Almeida

revista toró
toroeditorial
2 min readFeb 2, 2023

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150 megatons

Eu era forte quando negligente
negava a influência indolente
do tempo sobre a existência
era ventania, braço cortado
apartado do corpo
a remar contra a maré
era bravio e independente
perene, inteiro, transversal
eu insurgia e contemplava
não queria ser aceito ou acolhido
eu evitava ser especial
o mais lembrado, o escolhido
eu não queria nada de menos ou de mais
tinham-me como indiferente
eu não era nada além de livre
e esse pouco que eu tive
era o infinito que me bastava
estava só — e não tinha consciência
do que era a solidão
a tristeza não passava de um condão retórico
sobre um ponto de vista cadavérico
no deserto estratosférico da multidão

O caderno azul

A poesia é uma ferida aberta
da fenda exangue descoberta
uma flecha dispara e acerta
mira contra quem flerta
com a sanidade

Seminal

O que poderia ter sido eu
Não sendo outros
Em tantos bilhares
Entre milhares
De milênios
Jaz pronto:
Um ponto
Fulcral
No infinito
Abissal
Do absoluto

Bernardo Almeida nasceu em Salvador (Bahia), em 1981. É poeta, jornalista, artista digital, roteirista e compositor. Participou de dezenas de coletâneas literárias. Publicou os livros: Achados e Perdidos (poesia/2005), Crimes Noturnos (poesia/2006 e 2018), Enquanto espero o amanhã passar (poesia/2009), Sem um país para chamar de pátria, sem um lugar para chamar de lar (poesia/2009), LONA (poesia/2011), O vencedor está morto (contos/2013), Arresto (poesia/2016), que também foi editado em Paris (2018), e A utopia do carnaval sem fim (poesia/2020). O autor tem textos traduzidos e publicados na Europa, sobretudo na França e na Croácia.

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