“aprendi o turvo”, dois poemas de Felipe Sut

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dediquei a mim pouco tempo

dediquei a mim pouco tempo
do tempo que tive dediquei
a mim tão pouco
que pouco tenho hoje
a declarar como pouco sequer
declararia imposto por força
que me inclinaria pelo
gosto de me ver alegre
pelo gosto de me ver
com tempo pra mim

dediquei a mim pouco tempo
do tempo
que tive pouco tempo pra olhar
pro arrabalde que ora
circunda esta pista confusa
que ora fica no centro e profunda-
mente na noite turva
que sinto no meu nome
que sinto em minha unha
que sinto em minha língua
que sinto no meu olho

dediquei a mim pouco
tempo de olhar a noite
turva quando é fria turva
quando tremo turva quando
amo e por isso
aprendi o turvo
que é distinguir temer
tremer e amar
aprendi a fugir do que me chama
por medo
e a fugir com medo de gostar
do que me arrasa por amor
que não entendo por ser digno
de medo trêmulo de amor
que não entendo por
que me arrasa

dediquei pouco tempo
a distinguir no turvo
a curva que tudo guarda
a curva que tudo liga
que em sua parábola
o frio sim ao frio fim
a curva liga
fria e trêmula
ao medo do tempo
que não dei a mim

promessa

palavras que te franzem o cérebro
logo não serão mais nada

não são areia que gruda
não são areia que larga

não são areia
não são palavras

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Felipe Sut é psicólogo formado pela UFF, mestrando em Letras pela UERJ, escreve, sente-se concernido por dois versos que abrem um poema de Daniel Faria (“homens que trabalham sob a lâmpada/ da morte”) e se aproxima com interesse e cautela do que é oculto e complicado.

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