Editorial

revista toró
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2 min readMar 15, 2020
fotografia por Lara Baquil

2020 — Rio de janeiro, Brasil. Chove lá fora.

É com a vontade dos que resistem em meio à seca que a Toró vem ao mundo. Nosso país está passando por um momento de intensas dúvidas. Brasil, que carrega em si a cor vermelha, a cor da luta e do sangue de muitas pessoas que vieram antes de nós, foi resumido a um verde e amarelo lânguido, a uma bandeira que não é a do povo que ri, chora e resiste de nossa terra.

Chamamos um Toró para que a água ajude a fazer renascer as plantas que queimaram, as terras que infertilizaram, as vidas que arrancaram violentamente de nós. É do meio dessa tristeza que nasce também a força motora da resistência e da mudança. Viemos para resistir junto às vozes que não se calam. Não é momento de silêncio nem de paralisação: é o impulso da arte que quer gritar, que quer dizer sim à vida e ao nosso povo.

Convocamos as vozes da poesia, da prosa, do teatro, do cinema, da pintura, da crítica e de toda forma de manifestação artística e cultural em rumo à alegria e ao afeto. Queremos ser uma nuvem de experiência e de compartilhamento que rompa os muros que às vezes encontramos no acesso à arte e à cultura. Queremos que, através da revista, possamos nos somar a todos que resistem ao desmonte que nosso país vem sofrendo em diversas áreas sociais e culturais.

Nosso maior desejo é que a Toró, como toda boa chuva, inunde e fertilize a nossa terra. Queremos descobrir, mover, expandir, dialogar e crescer junto a você, leitor, que acaba de nos encontrar. Queremos celebrar o trabalho duro e muitas vezes pouco recompensador de artistas das mais diversas áreas, sejam eles pintores, escritores, escultores, fotógrafos, atores, quadrinistas, cineastas, músicos e tudo mais que já existe e que ainda está para existir. Afinal, acreditamos que juntos, como pequenas gotas de orvalho, podemos chegar ao céu e, quando a nuvem estiver bem carregada, desabar de uma vez sobre o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

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