Poemas de Sad Trip, livro de Raquel Campos

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Livro de estreia da poeta, ensaísta e professora de literatura Raquel Campos (@raquelbcampos), Sad trip (Corsário satã, 72 páginas) mescla as atuais reflexões da vida adulta com uma linguagem divertida, repleta de construções poéticas, feitas com gírias e expressões coloquiais utilizadas por sua geração.

A obra veio ao mundo por um convite de Natália Agra, poeta que, junto de Fabiano Calixto, toca a editora independente Corsário Satã, e tem a orelha assinada pela tradutora, pesquisadora e também poeta Francesca Cricelli.

Luto, fracasso, sexualidade, amor e inadequação social são alguns dos temas explorados pela autora nesse livro que foi escrito durante o auge da pandemia, quando o país vivenciava o isolamento social e a autora refletia sobre sua própria vida, como a mudança de Brasília, cidade onde sempre viveu, para São Paulo, e a sensação de derrota que a pandemia impôs.

Sendo assim, Sad trip também se constrói como uma obra em movimento, sendo composta por diálogos com referências, situações cotidianas, expectativas frustradas e contradições humanas tratadas com um certo humor.

Confira alguns poemas do livro:

9.
eles amam como se odiassem
e odeiam como se amassem
não distinguem os cheiros das flores
nem cumprimentam os pássaros
fazem tudo de sangue no mundo
(menos o perdão)
seriam mais felizes
se não

18.
a vida — este
sapato pontiagudo
que queima
na sola do viver –
me caminha

cada passo dado fere
e me impulsiona — ao alto

resta saber de qual abismo
sobreviverei — ao salto

22.
todo o meu sangue mensal

deixo escorrê-lo pelas pernas
gosto de manchar lençóis –
e cabeças — com a minha
tão íntima e suja
destreza
ser mulher
tem dessas
belezas

32.
vim de lá, daquele cerrado quente
a vida ali é assim
o nariz sangra e os olhos mentem
nunca teve nem terá fim
a vista resseca e o coração se ressente
o sangue areia a alma
e a vida nos poeira
a facadas

38.
tomar café
tomar coragem
tomar no cu

seguir viagem

45.
sad trip
ser tudo que poderia –
tristeza infinita
de nunca conseguir –
ser o que eu já seria
precisar de mais
e corromper o que havia
maldita confusão
que fodeu a minha brisa

A brasiliense Raquel Campos nasceu em 1988, é poeta, ensaísta e professora de literatura. Atualmente, trabalha como editora na Relatar-se. Foi professora de Teoria Literária da UNESP (2021–2022) e co-organizou o livro HC 21: leituras de Haroldo de Campos (7Letras, 2021). Acadêmica, tem pós-doutorado em Estudos Literários pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) e doutorado em Literatura pela Universidade de Brasília (UNB).

“Sad trip” (Corsário-Satã) é seu primeiro livro. Seu próximo livro de poemas está no prelo e se chamará “Meninas, eu vi”. Será publicado pela editora Relatar-se ainda no primeiro semestre de 2023 e parte de uma perspectiva feminista a respeito da sexualidade e prazer femininos.

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